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Yasmin Oliveira
Publicado em 13 de maio de 2024 às 06:00
A colônia de gatos de Stella Maris já existe há seis anos e está com pouco mais de 50 animais. Com o fim da colônia em Piatã, em abril deste ano, quando os gatos foram encaminhados para abrigos que receberam auxílio municipal, o número de abandonos em Stella aumentou e os moradores locais se preocupam com o aumento na quantidade de bichanos. >
“Essa semana se desfizeram de uns gatinhos ainda na placenta. Infelizmente um parou na rua e foi atropelado, nem sei o destino que os outros tiveram”, diz a advogada Ana Silvia Pereira.>
Ela mora em Stella Maris há 25 anos e explica que a colônia surgiu com menos de dez gatos, mas aos poucos eles foram se multiplicando por não serem castrados. Apenas nesta semana, sete novos filhotes nasceram. >
Uma das fêmeas adultas já até entrou no condomínio onde Ana mora e pariu na lavanderia da casa dela. “A gata resolveu entrar no condomínio para se proteger e ela estava grávida. Acabou parindo na minha lavanderia e não saiu mais. Não queria mais bichos [de estimação] porque eu sei o sofrimento que foi quando perdi minha cachorrinha. Mas eu ia fazer o quê? Conseguimos doar os gatinhos e castramos a mãe. Ela não saiu mais lá de casa e isso faz seis anos”.>
A preocupação de Ana aumenta conforme os gatos se multiplicam, pois, muitos deles não recebem os cuidados devidos, estão expostos a doenças e aos carros. Alguns moradores acabam tomando medidas próprias e, como Ana, adotam aqueles que se aventuram a entrar nos condomínios.>
Outra moradora da região, Maria Edileide Reis, conta que a colônia existe desde que ela se mudou para a Alameda Rio da Prata. Nos últimos tempos, a quantidade de abandonos cresceu. O condomínio onde Maria mora foi um dos vários que tomou medidas para afastar os animais das casas, como a instalação de novos portões e grades altas. “A situação só piora, existem duas mulheres que dão comida e até tentaram pegar para castrar, mas eles ficam muito ariscos. A tendência é apenas crescer, uma das gatinhas até pariu essa semana e acrescentou mais moradores na colônia”, explica.>
Alguns dos gatos da colônia são considerados ferais, ou seja, nasceram nas ruas, temem os humanos e por isso são mais ariscos. A quantidade de animais na colônia aumenta nas horas do dia em que bate sol no gramado ao lado do restaurante Beach Stop, onde a comunidade de felinos se instalou.>
“A rua fica tomada de gato. São gatos pequenininhos e adultos, tem pessoas que descartam alguns aqui e quando os condomínios tiram o lixo, eles enchem a calçada enquanto a mulher [uma suposta moradora que dá comida aos animais] não vem dar comida”, diz Maria.>
Os gatos ficam espalhados pela Alameda em um gramado próximo aos condomínios e também em um terreno baldio em frente ao restaurante Beach Stop, usado para a equipe do restaurante armazenar equipamentos que precisam de manutenção. Ali, os gatos buscam sombra ou exploram o teto do estabelecimento. >
O gerente do Beach Stop, Edson Almeida, relata que a presença dos gatos está causando prejuízo.>
Ele incentiva as pessoas que ficam fascinadas pelos gatos os adote para tentar diminuir a quantidade de animais no restaurante e na área da manutenção do estabelecimento. Diariamente, os bichanos entram pelas frestas da cerca e rondam o local em busca de comida e da atenção dos clientes.>
Os gatos circulam em outras áreas do bairro também, como relata Júlio Ramos:>
“Tem cinco anos que eu trabalho no restaurante da Barraca do Lôro e desde que cheguei aqui é tomado de gato. Cada vez aparecem mais e as pessoas colocam ração para eles e cuidam, nunca observei ninguém maltratando os bichinhos”, afirma.>
Para Clarisse Bagrichevsky, responsável pela Associação de moradores 4PRAIAS, nenhum dos moradores da região ajuda a diminuir o problema da colônia de gatos. Junto a uma vizinha, elas castraram alguns dos gatos, mas não foi o suficiente para conter a reprodução dos animais. “A colônia era formada por três fêmeas e alguns filhotes. Um senhor que ficava sentado na esquina, alimentando os gatos, mais atrapalhava do que ajudava e nós denunciamos à Prefeitura”, diz.>
A Secretaria Municipal de Sustentabilidade, Resiliência e Proteção (Secis) informou que já está ciente do abandono de animais que acontece em Stella Maris e salientou sobre o ato ser um crime tipificado na lei federal 9.605 de 1998 de crimes contra o meio ambiente. “A ação equivale a uma situação de maus-tratos, devido à evidência dos fatos é indicado a participação da sociedade afim de oficializar um boletim de ocorrência para coibir novos abandonos na região”, disse em nota.>
Em abril deste ano, cerca de 250 gatos que viviam na antiga colônia de Piatã - muitos chegaram lá porque foram abandonados - foram retirados do local e transferidos para a ONG Doce Lar. A remoção dos gatos foi um plano criado em janeiro de 2023, quando houve chamamento público. Em outubro do mesmo ano, a Doce Lar, que trabalha com a proteção animal desde 2001, foi selecionada para receber os animais. >
A operação de remoção e realocação foi realizada pelas equipes da Secis e da ONG.>
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro>