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Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2023 às 10:20
A Bahia tem a maior incidência de anemia falciforme no Brasil. Com mais de 76% da população baiana composta por negros, a incidência da doença falciforme no estado é de uma para cada 650 nascidos vivos, enquanto a média nacional é de um bebê a cada mil nascimentos. Dados do Sistema de Informações Sobre Mortalidade (SIM) apontam que a Bahia teve 603 óbitos por Doença Falciforme entre 2015 e 2022, sendo 86 apenas no último ano. Nessa sexta-feira (27), Dia de Luta pelos Direitos das Pessoas com Doença Falciforme, o Hemoba lança a campanha publicitária com o slogan “Quem tem já enfrenta muita dor. Ajude a combater o preconceito” >
A doença falciforme é uma das condições genéticas e hereditárias mais comuns no mundo, sendo prevalente na população negra, apesar de não ser exclusiva. Esse ano, a capital baiana passou a contar com um Centro de Referência às Pessoas com Doença Falciforme, instalado no bairro do Garcia. O centro, inaugurado em março, é a primeira unidade de referência no país para tratamento da doença falciforme, atendendo cerca de cinco mil pacientes da capital e do interior da Bahia, além de ser responsável pela assistência transfusional e farmacêutica, incluindo a dispensação de medicamentos de alto custo. >
Atualmente, mais de 12.400 pessoas são acompanhadas em serviços especializados no estado, distribuídos nos municípios de Alagoinhas, Barreiras, Camaçari, Feira de Santana, Ilhéus, Itabuna, Lauro de Freitas e Salvador, segundo dados da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab). Esta patologia genética e hereditária caracteriza-se por uma alteração nos glóbulos vermelhos que adquirem o aspecto de uma foice (falciforme), dificultando a passagem do sangue pelos vasos sanguíneos. A detecção é feita através do exame eletroforese de hemoglobina, como o teste do pezinho, realizado gratuitamente antes do bebê receber alta da maternidade. Por ser de origem africana, a doença falciforme é mais prevalecente (mas não exclusiva) em pardos e negros. >
Além dos serviços transfusionais e consultas, o centro realiza exames hematológicos e doppler transcraniano, este último fundamental para diagnóstico precoce de alterações de vasos cerebrais, que estão relacionadas com o desenvolvimento de AVC. A gestão da unidade é realizada pela Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba), que é referência no atendimento a pacientes com doença falciforme, acompanhando cerca de 5 mil pessoas na capital e no interior, além de ser responsável pela assistência transfusional e farmacêutica, incluindo a dispensação de medicamentos de alto custo.>
A unidade não realiza atendimento de urgência e emergência, o que significa que não atende demanda espontânea. Para triagem hematológica, os interessados devem enviar um e-mail para [email protected]. E os pacientes que já são acompanhados pelo serviço devem agendar a consulta pelos telefones (71) 3116-5675 ou 3116-5676, das 8h às 19 horas, de segunda a sexta-feira. Ou enviar um email para [email protected].>
A unidade gerida pela Fundação Hemoba funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 19 horas. Com 2.186,39 m² de área construída, o Centro tem capacidade para atender 100 mil pacientes, um acréscimo de 25% em relação ao ambulatório do Hemocentro Coordenador, em Brotas. Além dos serviços assistenciais, a estrutura foi pensada como espaço de ensino e pesquisa.>
Para Jaqueline Guerreiro, coordenadora do Centro de Referência, é compromisso de toda a sociedade assegurar que os direitos e necessidades das pessoas com doença falciforme sejam respeitados. "Além dos direitos sociais, como passe livre, aposentadoria especial e auxílio doença, o direito à saúde é fundamental para os pacientes de doença falciforme, e isso inclui o acesso a diagnóstico preciso; medicamentos, como a hidroxiureia; tratamento eficaz e, muitas vezes, transfusões de sangue seguras. Esses pacientes têm necessidades específicas de vacinação e precisam ter a garantia que essas vacinas especiais estejam disponíveis e acessíveis", defendeu Jaqueline. >
Multicentro de Saúde tem 1.062 pessoas com doença falciforme cadastradas>
O ambulatório do Multicentro de Saúde Carlos Gomes conta com 1.062 pessoas com doença falciforme cadastradas. Trata-se de uma doença genética e hereditária caracterizada por uma mutação no gene que produz a hemoglobina (HbA), fazendo surgir uma hemoglobina mutante denominada S (HbS), que é de herança recessiva. Apesar das particularidades que distinguem as doenças falciformes e das variadas gravidades, todas essas doenças têm manifestações clínicas e hematológicas semelhantes. >
Mãe de Caio Lucas, que recebe atendimento no local desde o nascimento, Manuele Guedes dos Santos, moradora do bairro de Valéria, vê com bons olhos o tratamento recebido pelo filho. “É algo muito importante para a gente, porque nós não temos condições de pagar algo particular. O acompanhamento dele todo é feito aqui, duas vezes por mês. A partir do tratamento, ele tem uma vida normal, graças a Deus”, disse. >
Raquel de Oliveira Glória, mãe do pequeno Miguel, visita o Multicentro há seis anos. “Ele leva uma vida normal, só teve três crises durante toda a vida, graças ao tratamento que tem tido. Aqui, temos atendimento pelas médicas e nutricionista. Ele tem uma dieta especial. Eu gosto daqui, é um tratamento excelente”, contou. >