Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Maysa Polcri
Publicado em 17 de maio de 2024 às 05:30
Os sinais de abuso sexual infantil podem parecer silenciosos à primeira vista. Mas, olhares atentos de pais e responsáveis, são capazes de notar as mudanças de comportamento que escondem as violências que deixam marcas para toda a vida. Na Bahia, 83% das violações acontecem em locais próximos às vítimas. >
Das 663 denúncias registradas através do canal Disque 100, entre janeiro e a primeira quinzena de maio deste ano, 551 aconteceram em residências frequentadas pelas vítimas. Isso acontece porque os agressores são conhecidos, na grande maioria dos casos.>
As casas onde as vítimas moravam com os agressores foram cenário de 292 denúncias na Bahia. As informações são públicas e estão disponíveis no painel online do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDH). >
No dia 18 de maio, próximo sábado, será celebrado o Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Cometido principalmente por pessoas próximas às vítimas, o reconhecimento do crime ainda é um obstáculo para pais e responsáveis. Viviane Peixoto foi eleita conselheira tutelar em Salvador em outubro do ano passado e é reconhecida pelas ações em escolas contra abuso sexual. >
Segundo ela, o abuso sexual quase nunca é silencioso. Mesmo que a criança ou adolescente não denuncie o crime diretamente, mudanças de comportamentos dão sinais da violência. “Todo abuso traz sinais. A criança que era alegre e comunicativa, começa a ficar introspectiva, se calar. Se era carinhosa, começa a ficar grossa. Muitas vezes os pais acham que os filhos estão rebeldes e não as questionam sobre o que está acontecendo”, diz. >
A conversa franca entre responsáveis e crianças é uma das chaves para a prevenção e o combate aos crimes sexuais, que correspondem a 14% de todas as violações contra a faixa etária na Bahia. >
“Existem muitos casos em que os próprios familiares não acreditam nas vítimas. Mães, muitas vezes, acham que pais, padrastos e tios não seriam capazes de cometer os abusos”, diz Viviane Peixoto. “A criança não inventa o abuso sexual do nada. Os pais devem acreditar nas vítimas e procurar ajuda urgente e denunciar à polícia”, completa. >
Em abril deste ano, Antônio Carlos Pereira dos Santos foi preso por suspeita de ter abusado sexualmente de todas as 13 sobrinhas, em Salvador. O primeiro abuso teria acontecido em 2018, com uma vítima de apenas 8 anos, segundo investigações da Polícia Civil. As vítimas contaram que os abusos aconteciam dentro da casa do tio. >
A tipificação do estupro de vulnerável está prevista na Lei 12.015/2009, que prevê pena de até 15 anos de reclusão, se a vítima tiver menos de 14 anos. Se a vítima morrer em decorrência do crime, a pena pode chegar aos 30 anos de reclusão. >
A Prefeitura de Salvador lançou, no dia 3 de maio, um conjunto de ações que integra a campanha de mobilização do Maio Laranja, de combate ao abuso e exploração sexual de crianças e adolescentes. A gestão municipal firmou parceria com a Defensoria Pública da Bahia para ampliar e distribuir cartilhas de conscientização. >