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800 quilos de ouro e 30 mil azulejos: conheça a história da Igreja de São Francisco de Assis

Igreja é ícone da arte barroca e patrimônio histórico pelo Iphan

  • Foto do(a) author(a) Larissa Almeida
  • Larissa Almeida

Publicado em 6 de fevereiro de 2025 às 05:30

Igreja de São Francisco
Igreja de São Francisco Crédito: Divulgação

A Igreja de São Francisco de Assis, que faz parte do Complexo Franciscano do Pelourinho, foi palco de uma tragédia na última quarta-feira (5), quando o forro do teto central do espaço desabou e matou uma turista paulista. A jovem, que foi identificada como Giulia Panchoni Righetto, 26 anos, estava passeando com amigos e visitava o templo que, com 800 quilos de ouro e cerca de 30 mil peças de azulejaria, é um dos cartões postais de Salvador e símbolo da riqueza arquitetônica da cidade.

O espaço sagrado também é tombado como Patrimônio Cultural pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e considerado uma das Sete Maravilhas de Origem Portuguesa no mundo. Isso, no entanto, não impediu que o local enfrentasse danos estruturais e ficasse sem reformas há mais de uma década, o que culminou no acidente da última quarta-feira.

Originalmente, o templo católico foi erguido sob influência arquitetônica e artística que é atribuída por Augusto Telles ao frei Jerônimo da Graça. O historiador Rafael Dantas destaca que a construção se tornou uma referência da arte e arquitetura barroca do século 18.

“É, sem dúvida nenhuma, uma das igrejas mais importantes de todo o Brasil e de todos os lugares que tiveram colonização portuguesa e a influência da arquitetura ibérica, além da influência barroca aqui nas Américas. É um templo que foi construído ao longo dos anos de 1700 e, em cada momento do século 18, passou por alguma intervenção”, enfatiza o historiador.

Ele aponta que alguns dos principais atrativos da igreja são as madeiras em cedro, cuidadosamente esculpidas, traçadas e encaixadas. “Elas formaram um dos mais belos tetos e forros da Bahia. Ali, temos pinturas com passagens bíblicas da vida de Nossa Senhora, entre outros elementos de maior e notável beleza. Muitos desses espaços e desses pedaços de madeira são folheados a ouro. É o mais requintado trabalho de marceneiros e artistas da Bahia”, frisa.

Para construir o teto da igreja, era necessário trazer tintas minerais da Europa. As madeiras, contudo, eram locais e acabaram demandando o trabalho de marceneiros, carpinteiros e artistas religiosos, além de ferreiros e especialistas em construção civil. Segundo Dantas, não informação do valor movimentado durante o erguimento da edificação, mas a suspeita é de que o projeto tenha movimentado riquezas exorbitantes.

O forro do teto que desabou tinha painéis pintados que retratavam cenas da vida de São Francisco e alegorias cristãs. No claustro do convento, havia uma coleção de azulejos portugueses do século 18, com painéis que narram passagens bíblicas e textos filosóficos.

Apesar da riqueza arquitetônica, a Ordem Franciscana sempre pregou a humildade e a simplicidade, seguindo os ensinamentos de São Francisco de Assis. Isso gerou debates ao longo dos séculos. No século 18, frades capuchinhos italianos criticaram a ostentação da igreja, e, no século XIX, missionários franciscanos alemães tentaram eliminar parte do douramento das talhas, mas não obtiveram sucesso.

Para Rafael Dantas, com o passar do tempo, a igreja ganhou relevância para além da materialidade, o que justificou seu tombamento como patrimônio histórico. “A igreja de São Francisco, ao lado de outras igrejas do Centro Histórico, eram ícones da fé, da urbanidade e, principalmente, da arte de todo aquele tempo. Por isso foram tombadas, por isso essa importância tão gritante. Essa tragédia nos alerta para a situação de outros templos no Brasil e da necessidade dos nossos governantes ajudarem o nosso patrimônio histórico e não somente em festa e Carnaval”, finaliza.