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Maysa Polcri
Publicado em 15 de agosto de 2024 às 06:00
O relacionamento conturbado entre a delegada Patrícia Neves Jackes Aires, vítima de feminicídio, e seu então companheiro, Tancredo Neves Lacerda Feliciano de Arruda, que confessou o crime, veio à tona após o assassinato da policial, em São Sebastião do Passé. Três meses antes, o homem foi preso em flagrante por agressões contra a delegada. A violência física é o sinal mais evidente, mas outros alertas indicam que uma relação é tóxica.
Márcia Tavares, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Universidade Federal da Bahia (Neim/Ufba), analisa que os traços de machismo da sociedade contribuem para que as mulheres sejam vítimas de relações violentas. Em certos casos, elas nem se dão conta de que os comportamentos dos parceiros são agressivos.
“As mulheres aprendem que devem se sacrificar por relações. São elas que, por amor, acham que vão conseguir transformar os parceiros agressivos em homens amorosos. Mas não temos capacidade para isso, é o outro que precisa mudar”, diz. Isso não significa que homens não sejam vítimas de relacionamentos abusivos, mas o contrário é mais comum.
Em média, 55 medidas protetivas são concedidas por dia na Bahia. Só no ano passado, 108 feminicídios foram registrados no estado, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Ainda segundo a pesquisadora, os primeiros sinais de violência são sutis e vão, aos poucos, se tornando mais graves. A Lei Maria da Penha, que completou 18 anos, prevê cinco tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher: física, psicológica, moral, sexual e patrimonial.
As red flags (bandeiras vermelhas, em tradução livre) são os sinais de que um relacionamento não é saudável. No ano passado, a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Bahia (OAB-BA) lançou um questionário com perguntas que identificam relações violentas. Veja alguns desses sinais abaixo:
1 - Controle excessivo
Se o parceiro controla suas redes sociais ou insiste em ter a senha do seu celular, é possível que se trate de um relacionamento abusivo. Segundo Márcia Tavares, o ciúme em excesso demonstra desejo de posse, que pode culminar em violências diversas. “O controle é o indicativo de que essa mulher é vista como propriedade do homem e que, por isso, não tem vontade própria”, afirma.
2 - Justificativas
Mulheres vítimas de relacionamentos violentos costumam dar desculpas para justificar a atitude dos agressores. “A violência cresce e se manifesta de diversas formas em uma relação. As vítimas tentam buscar desculpas, dizem que os companheiros estão deprimidos ou estressados, mas nada justifica a violência”, diz Márcia Tavares.
3 - Afastamento
Se a mulher se afasta de pessoas próximas e passa a viver em função apenas do relacionamento amoroso, pode ser um sinal de que é vítima de violência. É comum que os agressores tentem afastar as companheiras para evitar desconfianças e manter o controle sobre as vítimas.
4 - Brigas constantes
Discussões frequentes e acaloradas, que começam por motivos banais, também indicam que uma relação não é saudável. Em caso de violência, física ou moral, o episódio deve ser denunciado através do Disque 197 ou diretamente nas delegacias de polícia.
5 - Sentimento de culpa
Se um homem faz comentários afirmando que você é “maluca” ou que “não sabe o que diz”, pode ser um sinal de relacionamento abusivo. O termo em inglês gaslighting, que não tem tradução para o português, se refere à violência psicológica que manipula a vítima até que ela duvide da sua própria sanidade mental.
Como buscar ajuda
Denúncias de violência podem ser feitas nas unidades da Delegacia de Atendimento Especializado à Mulher (Deam), em Brotas e Periperi, em Salvador, ou através do site (para a Bahia). O Disque 180 também recebe denúncias anônimas de violência contra mulher.