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Wendel de Novais
Publicado em 17 de agosto de 2023 às 17:07
Os portões do Centro Municipal de Educação Infantil José da Silva Tavares e da Escola Municipal Cardeal da Silva não se abriram nesta quinta-feira (17). Por lá, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação (Smed), 436 alunos ficaram sem aula após uma madrugada de tiroteios entre as facções do Comando Vermelho (CV) e Bonde do Maluco (BDM) no bairro do IAPI, onde as instituições estão localizadas.
Em uma semana, essa é a segunda vez que as aulas são suspensas na região por conta do mesmo problema. Na última quinta-feira (10) 623 alunos ficaram sem estudar. Na ocasião, quatro instituições suspenderam as atividades, que só voltaram na segunda. Além das escolas municipais, os colégios estaduais também ficaram sem aulas. Estes, porém, por conta de uma paralisação dos professores.
Fato é que a rotina de suspensões preocupa os pais de estudantes de bairro, que relatam perdas no desenvolvimento dos filhos por não verem uma continuidade no processo de ensino.
"Ele vai um dia, fica dois em casa. No outro, até tem aula, mas não tenho coragem de levar. Nessa, ele não ganha ritmo, não segue aprendendo e acaba perdendo o que viu nas aulas anteriores. Fora o jeito que a gente precisa se virar para deixar com um e outro para conseguir trabalhar. Essa guerra acaba com a gente", fala uma moradora, que prefere não se identificar.
As constantes suspensões de aulas em agosto acompanham a alta de registros de violência armada no bairro. De acordo com o Fogo Cruzado, o IAPI registrou 11 tiroteios ao longo do ano. Entre estes seis aconteceram nas primeiras semanas de agosto, deixando oito mortos e dois feridos em diferentes áreas do bairro.
Os confrontos entre as facções ocorrem, principalmente, por ataques do BDM às localidades do Brongo, Milho e Nova Divinéia, áreas de atuação do CV. Enquanto a guerra se acentua, a segurança para andar nas ruas e desenvolver atividades comuns como ir à escola reduz.
Luciana Oliveira, pedagoga com 35 anos de experiência em coordenação pedagógica, explica que cada hora que se perde de aula é relevante. "Não é pouco. Um dia sem aula já é muito prejudicial, quem dirá dois ou três. [...] Em um dia, considerando que na escola pública se tem quatro horas de aula, são quatro horas em que o aluno deixa de desfrutar, de aprender. É um tempo precioso que se perde", fala ela.
A coordenadora lembra ainda que, em um contexto de planejamento escolar, é difícil lidar com interrupções. "A escola segue um calendário letivo, que respeita o tempo dos alunos e dos professores. A relação tempo e planejamento é muito estreita. Compensar tantos dias de aula perdidos não é uma tarefa simples", completa.
Apesar da suspensão de aulas, o comércio e o transporte coletivo no IAPI não foram afetados pelo problema da violência. Ônibus estão circulando normalmente e supermercados, farmácias e outros estabelecimentos também.