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Wendel de Novais
Publicado em 24 de julho de 2024 às 16:00
Os 230 metros entre as entradas da Rua São Jorge e a Travessa Freitas, na Rua Mello Moraes Filho, uma das vias principais de Fazenda Grande do Retiro, se converteram em uma zona de guerra nas madrugadas da última semana. À luz do dia, basta uma caminhada para observar cápsulas de bala, paredes e carros cravejados e a sensação de medo entre os moradores. Tudo porque o trecho separa duas organizações criminosas que disputam o território: o Comando Vermelho (CV) e o Bonde do Maluco (BDM).
A Rua São Jorge, a Travessa Freitas e a 3ª Travessa Lídio dos Santos, que está entre as duas primeiras, são parte da Fonte do Capim, localidade com atuação do CV, de acordo com informações de uma fonte policial, que terá nome e cargo preservados. “A Fonte do Capim fica do lado esquerdo da Rua Mello Moraes Filho, no sentido de quem vai para a Avenida Nestor Duarte. Aquela localidade já é ocupada pela facção das duas letras [CV], que sobe para atacar a facção das três letras [BDM] do outro lado”, fala.
O avanço pelas três vias não se dá à toa, já que as três ficam em frente às localidades da Vila Natal e do Marotinho, que são acessadas por ruas que têm o mesmo nome e são dominadas pelo BDM. “A Rua São Jorge fica de frente para a Rua Dr. Elizeu Rezende, que dá acesso ao Marotinho. A entrada da 3ª Travessa Lídio dos Santos fica de frente para as ruas Vila Natal e a Marotinho. Já a Travessa Freitas, fica mais à esquerda e, com essas três, eles [CV] conseguem cercar a entradas das duas localidades da outra [BDM]”, completa a fonte.
As provas de que as vias citadas são os principais acessos dos traficantes das duas organizações criminosas para os tiroteios ficam evidentes nos arredores. Em todas as cinco vias citadas pela fonte, cápsulas de balas e buracos feitos à bala foram observados pela reportagem. Entre as cápsulas espalhadas pelo chão, estão materiais que restaram de disparos feitos por armas de calibre 0.40, 380, e 9mm.
Como resultado dos confrontos entre as duas facções nesta quarta, os ônibus tiveram o itinerário alterado por três horas. A alteração fez com que os veículos só circulassem até o Largo da Gráfica, fazendo o retorno em direção ao Largo do Tanque por conta da violência. A mudança evitou que os ônibus passassem pela Rua Mello Moraes Filho, onde os confrontos ocorrem.
Os moradores, cada vez mais prejudicados, afirmam que a dinâmica dos confrontos se dá de uma forma específica: o CV ataca e o BDM tenta evitar a entrada da facção rival no Marotinho e na Vila Natal. "Esses tiroteios estão acontecendo porque os bandidos da Fonte do Capim [CV] sobem toda hora para tentar passar para o lado do Marotinho e da Vila Natal. Então, os bandidos desses dois locais [do BDM] também fazem o mesmo protegendo a área deles. Ou seja, vira uma guerra que um atira de lá e outro de cá. No meio disso, além desses prejuízos, a gente fica com medo de morrer", fala um morador, sem se identificar por medo.
Questionada sobre o tiroteio desta quarta, a Polícia Militar da Bahia (PM-BA) informou que não houve acionamento da 9° Companhia Independente da PM (CIPM) para averiguar denúncia de disparos de arma de fogo na região. Por conta dos tiroteios e da alteração do itinerário dos ônibus, a PM-BA informou à reportagem que o policiamento no local foi intensificado para o reestabelecimento do transporte no bairro no início da manhã desta quarta.
Segundo o Instituto Fogo Cruzado, o bairro de Fazenda Grande registrou neste ano, até dia 23 de julho, 25 tiroteios, sendo 14 deles em ações policiais. São 21 mortos, 14 deles em ação da polícia, e cinco feridos, dois também durante operações da PM.
Contando a troca de tiros entre traficante nesta madrugada, o número sobe para 26 tiroteios. Não hpuve registro de mortes ou feridos.