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Apaixonado por música, o ilustrador decidiu fazer o livro ao descobrir no saxofonista uma espécie de guia
Doris Miranda
Publicado em 23 de fevereiro de 2016 às 14:30
- Atualizado há um ano
Quem se interessa por jazz vai enxergar imediatamente a referência ao álbum clássico Blue Train (1957) na capa de Coltrane, biografia em quadrinhos do saxofonista americano John Coltrane (1926- 1967) que sai agora pela editora Veneta.Se a capa parte do disco considerado o primeiro trabalho solo do artista, o norte encontrado pelo autor Paolo Parisi para dar corpo a sua obra é o disco A Love Supreme (1965), considerado o mais representativo de Coltrane.
Quem explica a ideia é o próprio Parisi: “A estrutura do livro segue a estrutura do álbum, com quatro capítulos o livro, quatro partes o disco, inclusive com os mesmos títulos. Por ser um álbum conceitual, entre outras peculiaridades, me fez pensar que uma biografia pudesse seguir a mesma estrutura do álbum”.Apaixonado por música, o ilustrador decidiu fazer o livro ao descobrir no saxofonista uma espécie de guia, de mentor espiritual. Não à toa, Coltrane, considerado santo pelos fãs, foi canonizado de verdade pela Igreja Africana Ortodoxa (numa de suas últimas entrevistas, no Japão, ele previu que viraria um santo).
“É um artista que vai além do jazz, que fez do gênero uma mensagem de paz. Ele foi muito importante na luta pelos direitos civis nos Estados Unidos. Não por acaso, uma de suas músicas mais belas é Peace on Earth”, diz.As principais referências de Parisi, que classifica seu trabalho como “biografia ficcional”, foram o livro John Coltrane: His Life and Music (2000), de Lewis Porter, e a última entrevista concedida pelo músico, em 1966, a Frank Kofsky, incluída no livro Black Nationalism and Revolution in Music (1970). Muitas das situações reproduzidas, assim como as falas, foram tiradas dessas duas fontes.Engajado“Me interessava mais explorar a figura do homem, do artista que manteve relações com outros músicos, da figura que teve muitas dificuldades para superar o vício nas drogas e no álcool e do defensor engajado dos direitos civis. Por outro lado, é também um tributo ao jazz”, revela o autor.Além de Dizzy Gillespie, Thelonius Monk, Duke Ellington e Miles Davis (com quem gravou o clássico Kind of Blue, de 1959), ganham destaque outras figuras importantes na trajetória de Coltrane, como Martin Luther King e Malcolm X. Nascido na Carolina do Norte, em 1926, John Coltrane começou sua carreira no fim dos anos 1940 - continuou no palco por mais 20 anos. O livro mostra sua colaboração criativa com os principais jazzistas de sua época: Miles Davis (com quem gravou o clássico Kind of Blue), Thelonious Monk, Dizzy Gillespie e Duke Ellington. Como não poderia deixar de ser, a obra mostra envolvimento dele com as drogas, os problemas com o racismo acentuado nos EUA e a infância pobre, sem deixar de passar pelas glórias recebidas, como o prêmio Pulitzer póstumo, recebido em 2007 pela “improvisação de mestre, suprema musicalidade e centralidade icônica na história do jazz”.O livro se completa com um apêndice de três capítulos, com mais referências sobre Coltrane, que morreu aos 40 anos. Há ainda uma lista de livros sobre o músico, uma discografia e uma relação de vídeos.