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Após nove anos, sambista Martinho da Vila lança álbum com canções inéditas

Um dos responsáveis pela popularização do samba no Brasil buscou a companhia de velhos parceiros e outros mais novos

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 5 de setembro de 2016 às 11:05

 - Atualizado há 2 anos

Devagar, devagarinho, ele voltou. Depois de longos nove anos sem um álbum de inéditas, Martinho da Vila lança De Bem com a Vida (Sony), disco que, em muitos momentos, nos arranjos, lembra o início da carreira do sambista.

Aos 78 anos, o músico carioca, um dos responsáveis pela popularização do samba no Brasil, buscou a companhia de velhos parceiros e outros mais novos. O trabalho tem participação de revelações como Criolo e de veteranos como João Donato e Jorge Mautner.

Na produção do álbum, duas gerações bem distantes se encontraram: de um lado, está Preto Ferreira, filho do compositor, de 21 anos; do outro, André Midani, 84, personagem fundamental da música brasileira, especialmente entre os anos 1970 e 1980, quando foi executivo das gravadoras Warner e Philips.(Foto: Divulgação) “Eu não pensava em ter participações. Mas o Preto sugeriu Criolo para dialogar comigo. E acabei gostando muito desse Criolo, ele é ótimo!”, diz Martinho.

O rapper paulistano canta com Martinho em duas faixas: Alegria, Minha Alegria e De Bem Com a Vida. A primeira, o sambista compôs para sua filha mais nova, que se chama Alegria e tem 16 anos.

A música é um samba falado, com cara de  rap. “Eu estava participando de um projeto que Midani tem no Rio, chamado Inusitado, em que os artistas fazem algo diferente do que costumam fazer. Era um show que eu fazia sozinho e o Midani me deu a ideia de cantar as músicas que eu havia feito para meus oito filhos. Para a Alegria, fiz essa coisa meio falada”, revela o compositor, que é pai de cinco mulheres e três homens.

RapO sambista lembra que já tinha intimidade com o universo do rap brasileiro: “Esses meninos do rap cresceram me ouvindo, principalmente por causa dos pais dele. Sou muito ligado a Marcelo D2 e já tinha me apresentado com Emicida no Rock in Rio. Fiz um show com ele que foi uma beleza!”.

Midani e Martinho se aproximaram depois que o cantor participou do projeto Inusitado e foi nesse período que decidiram trabalhar juntos. “Tinha muito tempo que ele não produzia. Mas ele é muito bom, é bem franco e opina legal. Além disso, tá muito antenado com tudo”, elogia.

Midani é o responsável pela mistura surpreendente da faixa Muita Luz, parceria de João Donato e Martinho. A gravação tem Donato no teclado e Arthur Maia no baixo. Jorge Mautner, no violino, faz uma citação a Jesus, Alegria dos Homens, de Johann Sebastian Bach (1685-1750). “Foi tudo meio no improviso. A gente se reuniu e foi tocando”, lembra Martinho.

Somente com gravações inéditas na voz de Martinho, o novo álbum traz, no entanto, seis sambas que já haviam sido registrados na voz de outros intérpretes. É o caso de Amanhã é Sábado, que o próprio compositor já havia cantado com Roberta Sá no álbum Delírio, lançado em 2015.

“Amanhã é Sábado é praticamente o inverso de Disritmia”, diz Martinho, comparando as duas músicas. Disritmia é um clássico do repertório do músico, em que um homem chega da farra e vai buscar o colo da amada. Já em Amanhã é Sábado é a mulher que vai buscar os braços do marido: “Estressados e famintos, fomos prum bistrô/ Estou um bagaço, amor/Preciso de colo”.

Dois sambas já haviam sido gravados pela baiana Simone, intérprete recorrente de Martinho: Saravá! Saravá!, parceria com Ivan Lins, e Danadinho, Danado, composta com Zé Catimba. “A música Saravá! Saravá! é uma saudação a várias religiões e vai do axé ao aleluia”, diz o músico, que havia gravado o samba com Simone, junto com Zeca Pagodinho e Dudu Nobre, no disco Baiana da Gema (2004).

O poeta e escritor Geraldo Carneiro divide com Martinho a composição de Escuta, Cavaquinho. Na primeira parceria dos dois, o sambista fez a música e Geraldo, a letra. “Eu tinha essa ideia de fazer um diálogo entre o cavaquinho e o violão e Geraldo quis fazer a letra”, revela. “Somos seres que se amam tanto e que misturaram alegria e pranto/ Eu, violão, você, cavaquinho/ Eu, na canção, você no chorinho”, diz a letra.

Enquanto se prepara para levar aos palcos do Rio e de São Paulo os primeiros shows baseados no novo álbum, Martinho colhe também os frutos do seu mais recente livro, Barras, Vilas & Amores. Ele esteve na Bienal do Livro, em São Paulo, na semana passada, para uma sessão de autógrafos.

O romance conta a história de amor de Daomé Benino e Iana Smith, tendo como pano de fundo a construção da identidade negra do Brasil, tema que já inspirou composições de Martinho.