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Portal Edicase
Publicado em 16 de março de 2024 às 14:25
A dengue é uma doença que tem preocupado os brasileiros e, com o pico das infecções chegando, entre os meses de abril e maio, o alerta para a condição tem ganhado ainda mais destaque. Segundo o Ministério da Saúde (MS), 192 municípios decretaram emergência, e o país já acumula cerca de 1,2 milhões de casos. >
No entanto, mesmo diante dos números, muitas dúvidas ainda acometem a população. Para esclarecer o assunto, o Dr. Evaldo Stanislau, infectologista e gerente da Inspirali (ecossistema de educação médica), responde algumas perguntas sobre a dengue. Confira! >
Temos como principal motivo a mudança climática. Juntamente à chegada do fenômeno El Nino, constatou-se uma onda muito forte de calor , bem como muita umidade. Essas duas condições já são suficientes para a progressão dos ovos na forma de larva e, enfim, do mosquito. Contudo, também existem outros fatores que explicam a alta nos casos. >
A pandemia de COVID-19 mobilizou muito os recursos de saúde e, com isso, os programas de dengue ficaram desguarnecidos, o que gerou chance para que a vigilância não fosse tão efetiva. Outro fator é a falta de imunidade de uma geração de pessoas. >
A população vai se sucedendo e diversas crianças e jovens não tiveram contato com o vírus, enquanto pessoas mais velhas já tiveram dengue, de surtos anteriores (assim, possuem uma vacina natural de imunidade contra a doença). Por fim, há o próprio ciclo da dengue, que, de tempos em tempos, passa por um crescimento natural. >
Hoje temos quatro sorotipos diferentes. Se uma pessoa contrai um, ela já está protegida contra este mesmo para sempre. A circulação dos tipos 1 e 2 é mais comum, por isso muitas pessoas têm imunidade a eles. Os tipos 3 e 4 circularam menos e por isso temos mais pessoas susceptíveis. Neste ano, o Brasil está registrando a circulação de vários sorotipos; em Minas Gerais, por exemplo, os 4 circulam simultaneamente, é isso aumenta a chance de formas graves. >
Aedes aegypti é um mosquito importante do ponto de vista médico. Ele transmite zika, chikungunya, dengue e febre-amarela, sendo, assim, muito perigoso. Mas não é só ele que transmite a doença: quem traz o vírus é o ser humano infectado. A maioria das pessoas infectadas não apresenta os sintomas, mas não deixa de transmitir o vírus para o mosquito, que pica o ser humano e vai amplificando o ciclo. >
Atualmente, a doença que vem preocupando a todos é a dengue, seguido da chikungunya, que corre em paralelo. Esta primeira tem uma característica clínica muito parecida com todas as outras arboviroses e comum, de certa forma, para doenças infecciosas: febre, dor no corpo e mal-estar. >
Porém, o que chama atenção é o momento epidemiológico. Qualquer pessoa que sinta algum sintoma deve procurar orientação médica para fazer o diagnóstico clínico e epidemiológico. Quando estamos em uma epidemia declarada, o exame confirmatório fica menos importante. >
A vacina contra a dengue é um avanço científico e logo teremos também a vacina contra a chikungunya. A falta de vacina para todos não é exatamente culpa de ninguém. O laboratório responsável não tem condições, por diversas questões, de fornecer o suficiente para toda a população e priorizou o fornecimento exclusivamente para o Sistema Público de Saúde (SUS). >
Todavia, mesmo que tivéssemos, só sentiríamos mesmo o impacto da vacina em meados de 2025, pois o processo ainda é longo entre tomar todas as doses e estar protegido. Para este ano, é primordial focar em medidas de proteção individual e de combate ao mosquito. >
A pessoa que se sente doente, com um grande mal-estar, dor de grande intensidade, febre e manchas no corpo, é bem provável que tenha dengue. O principal sintoma de COVID ou gripe é respiratório e inclui dor de garganta, tosse, nariz entupido. Mal-estar, febre e indisposição são comuns em todos. No entanto, em casos de muita dor no corpo, dor atrás dos olhos, mancha no corpo, dor de cabeça, vômito, dor muscular e nas articulações, a primeira coisa é pensar na alternativa dengue. >
A pessoa infectada com dengue pode ter uma melhora em torno do terceiro dia de contaminação e, depois, aparecerem complicações como dor abdominal, falta de ar e pequenos sangramentos na gengiva, por exemplo. Nos últimos dias de infecção, podem aparecer coceiras pelo corpo. Em casos mais graves, a doença continua evoluindo e a pessoa apresenta quadros como confusão mental, sonolência, queda importante da pressão arterial e até mesmo coma. >
Trata-se de uma doença desafiadora. Os sintomas geralmente são febre, erupções na pele e dores fortes, e as sequelas são piores. Não existe um tratamento específico para a doença, mas são utilizados, geralmente, corticoides, que podem ter efeitos colaterais. É importante prestar atenção aos sintomas, bem como procurar um posto de saúde. >
Não podemos usar medicamentos que potencializam o risco de sangramento e que podem fazer mal para o fígado. É o caso do ácido acetilsalicílico ou anti-inflamatório. Em geral, o fundamental é procurar ajuda médica desde os primeiros sintomas e cuidar da hidratação, pois o vírus da dengue provoca perda de líquido. >
Não é necessariamente o componente viral que desencadeia a gravidade da doença. Isso está muito mais relacionado a uma resposta imunológica. Indivíduos que já tiveram dengue anteriormente estão mais suscetíveis a ter formas mais graves, pois parte de uma resposta imunológica que não é zero, e sim uma resposta exacerbada. >
Cerca de 5% dos casos podem evoluir para dengue com complicações. Gestantes, doentes crônicos, idosos e crianças menores de dois anos são mais propensos a formas mais complicadas por características imunológicas, pelas doenças crônicas. Por isso, já são naturalmente pacientes de maior preocupação. >
Por Juliana Antunes >