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Portal Edicase
Publicado em 1 de abril de 2024 às 14:25
O Dia da Mentira, celebrado em 1º de abril em muitos países ao redor do mundo, é uma ocasião em que as pessoas fazem brincadeiras, muitas vezes enganosas, com amigos e familiares. Elas variam desde pequenas mentiras inocentes até elaboradas farsas planejadas com antecedência. O elemento surpresa e a diversão estão no cerne dessa tradição. >
Apesar dos “trotes” divertidos, a data chama a atenção para um comportamento do ser humano, mas também pouco conhecido para além do básico: a mentira. Conforme o pós-PhD em neurociências e membro da Royal Society For Neuroscience, Dr. Fabiano de Abreu Agrela, a mentira, apesar de ser algo comum, quando em excesso e de maneira descontrolada, pode indicar outros problemas. >
“A mentira é um comportamento mental normal do ser humano. Ela envolve vários processos cerebrais, como o controle da linguagem e a tomada de decisão. No entanto, seu uso excessivo ou patológico pode indicar problemas, como transtornos de personalidade ou psicológicos”, explica. >
Para mentir, o cérebro de uma pessoa utiliza diversas áreas para formular a mentira e mascará-la, explica o Dr. Fabiano de Abreu Agrela, autor do artigo “Mitomaníaco: como lidar com crianças que mentem o tempo todo”. >
“Para contar uma mentira, o cérebro passa por diversas etapas. Primeiramente, o córtex pré-frontal, ventromedial e orbitofrontal, responsáveis pela análise de valores, decidem omitir fatos e optar por algo mais favorável, nessa etapa a pessoa opta por mentir”, explica. >
Em seguida, o mestre em psicologia explica que, para formular uma mentira que pareça real, o lobo temporal examina memórias, emoções e imagens visuais, “enquanto o córtex cingulado anterior exerce autocontrole e o lobo frontal adiciona racionalidade à história. Essas regiões trabalham em paralelo para utilizar trechos da verdade para montar uma mentira mais crível.” >
No final, para fazer a mentira parecer verdade, o profissional explica que o córtex cingulado anterior é ativado, “controlando o sistema límbico relacionado à culpa e potenciais sinais de nervosismo, em uma tentativa de esconder sinais físicos da mentira.” >
A mentira, quando usada de forma muito excessiva e constante, pode indicar uma série de transtornos, que devem ser analisados por um profissional de saúde para ser realizado o tratamento adequado. Isso porque transtornos de personalidade, como narcisista, borderline ou antissocial podem ter a mentira constante como um sintoma, indicando um padrão de comportamento disfuncional, utilizado para manipulação, obtenção de ganhos pessoais ou para encobrir sentimentos de inadequação. >
Além disso, existe um transtorno específico que envolve as mentiras, a mitomania. Ela é um distúrbio psicológico marcado pela compulsão de mentir de forma recorrente e sem motivo aparente. Indivíduos com essa condição costumam inventar histórias elaboradas e fantásticas, sem considerar as consequências. >
A habilidade de discernir a verdade das mentiras é muito complexa. Todavia, a cognição do avaliador é fundamental para isso; quanto mais desenvolvida, mais fácil se torna identificar uma mentira, afirma o Dr. Fabiano de Abreu. >
Abaixo, confira algumas dicas para conseguir identificar uma mentira com base na neurociência! >
Observar a linguagem e o comportamento é essencial. Inconsistências verbais, mudanças na voz e uma linguagem corporal que denota nervosismo são indicativos clássicos. >
A narrativa do mentiroso costuma ser marcada pela falta ou pelo excesso de detalhes, e pelo uso frequente de qualificadores que indicam incerteza. >
As microexpressões, rápidas e quase imperceptíveis, revelam emoções verdadeiras que a pessoa tenta ocultar. Comportamentos e expressões faciais que não correspondem às palavras faladas são também sinais importantes. >
Narrativas improváveis ou excessivamente dramáticas, não plausíveis ou que colocam o narrador em uma luz muito positiva ou vitimosa, podem ajudar a identificar a mentira. Por Adriana Quintairos >