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Estúdio Correio
Publicado em 27 de dezembro de 2023 às 06:00
Na chamada de um carro de aplicativo, na ligação recebida de operadoras, nas transações financeiras pela Internet, nas respostas da assistente virtual e até nas músicas sugeridas nas plataformas de streaming... A Inteligência Artificial está em tudo. Esta é uma realidade que se expande cada vez mais na sociedade, refletindo na nossa vida e transformando o cenário de empresas e serviços. Entre as vantagens estão: otimizar rotinas repetitivas, cruzar e mapear grandes volumes de dados, reduzir custos, tornar operações mais eficientes e trazer soluções para problemas complexos.
Já há algum tempo muitas empresas optaram por automatizar processos para cumprir suas tarefas, só que o mundo passou a discutir os impactos da IA depois que essa tecnologia chegou ao universo criativo. As possibilidades de se construir vídeos, imagens, textos, personagens, sites, por meio de uma "mente artificial" levantou questionamentos sobre a substituição da inteligência humana pela algorítmica, e, consequentemente, mudanças no mundo do trabalho com a redução de empregos.
Esta discussão vai longe e ainda existem perguntas sem respostas absolutas, mas os indicativos apontam para transformações cada vez maiores no mundo corporativo e a necessidade de adaptação, ao mesmo tempo que são exigidas aquisição de conhecimentos, mentalidade de inovação, cuidados com as questões éticas e, sobretudo, habilidade do ser humano para lidar com o atual panorama e usar a tecnologia em prol do desenvolvimento.
"A nova realidade das empresas no contexto da IA é encontrar formas de acessar o melhor da tecnologia e repensar o papel de seus profissionais para manter o melhor da inventividade humana. As empresas precisam buscar um modelo de IA Colaborativa. Ou seja, como profissionais e ferramentas de IA podem colaborar para ter resultados mais valiosos, na velocidade que o contexto atual exige. Nenhuma das partes separada será suficiente. É preciso somar qualidades e chegar a um “Profissional-IA”, pontua Adelino Mont'Alverne, mestre em cibercultura, fundador do Rework Future - hub de especialistas em futuro do trabalho, cultura digital e aprendizagem.
Mudanças e inovações
As adequações serão fundamentais daqui para frente até porque o uso das tecnologias de IA já estão em todos os setores da economia. Na advocacia, por exemplo, existem escritórios que utilizam ferramentas da IA para triagem e análise de processos. O mesmo acontece em áreas como arquitetura, finanças, agronegócio, saúde, varejo, produção e gestão de conhecimento, como pesquisas científicas. E verdade seja dita, muitas atividades deram um salto em inovações com melhorias significativas. Na saúde, a IA possibilita diagnósticos médicos, análise de imagens e descoberta de medicamentos. Já os bancos e seguradoras utilizam as ferramentas para detecção de fraudes, análise de crédito e previsões de mercado. Na manufatura, ajuda a otimizar processos de produção, manutenção preditiva de equipamentos, controle de qualidade, logística e automação de linhas de montagem.
Se por um lado, as empresas ganharam em eficiência, por outro há uma preocupação latente: a automação impulsionada pela IA pode levar à redução de empregos em determinadas indústrias. "O que exige esforços significativos em treinamento para garantir que os trabalhadores possam se adaptar às mudanças no mercado de trabalho. Além disso, a tomada de decisões automatizada pode levantar questões éticas, especialmente quando se trata de decisões críticas em áreas como saúde, justiça e finanças. É preciso definir responsabilidades claras em caso de falhas ou consequências negativas", destaca Oberdan Pinheiro, pesquisador de Inteligência Artificial do Centro Universitário SENAI CIMATEC, ligado ao sistema Fieb (Federação das Indústrias do Estado da Bahia).
Brasil estuda cenário regulatório para IA
O debate em torno da ética na IA e a necessidade de regulamentações mais sólidas serão temas importantes daqui para frente. Em que dimensões da vida privada, dos relacionamentos em sociedade, políticos e comerciais essas tecnologias poderão atuar? Como manter a autonomia humana frente às ferramentas tão presentes no dia a dia? São muitas questões a responder nos próximos anos.
"O Brasil tem muito a fazer quanto a isso. O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações começou a elaborar a Estratégia Brasileira de Inteligência Artificial (EBIA), que vai avançar em diversas frentes, como ética, governança, proteção de dados, capacitação e segurança pública. Esse ponto é absolutamente fundamental e estratégico para países que pretendem ser competitivos nesse novo cenário", frisa Adelino Mont'Alverne.
De acordo com Oberdan Pinheiro, o projeto de lei (PL 2.338/2023), que busca regulamentar o uso da IA, em tramitação na Comissão Temporária sobre Inteligência Artificial no Brasil (CTIA), está sendo apreciado por uma comissão de senadores e especialistas. Segundo essa comissão, o projeto deve focar em princípios como a igualdade de direitos e a não descriminalização e na centralidade no elemento humano.
"É importante observar que o cenário regulatório pode evoluir ao longo do tempo, e as considerações éticas em torno da IA estão em constante discussão. As empresas devem acompanhar as atualizações regulatórias e contribuir para o desenvolvimento de práticas éticas e responsáveis no campo da inteligência artificial", ressalta Oberdan.
Alguns casos da atuação da IA
• Sabia que já tivemos no Brasil campanhas publicitárias feitas totalmente com imagens e produtos gerados por IA? A campanha “Se não existe, a gente inventa“, da Chilli Beans, foi uma delas.
• O aplicativo brasileiro moises.ai ajuda músicos a criar formas de estudo através de IA e já é usado em diversos países.
• Existem influenciadores digitais criados de forma artificial. A estimativa é que em breve será comum ver esses influenciadores substituindo pessoas em campanhas e ações de marketing.
• No varejo, os algoritmos de recomendação, baseados em IA, analisam histórico de compras e comportamento do usuário para oferecer sugestões personalizadas. Por isso, quando você pesquisa um produto começa a ver propaganda dele em todos os lugares. Isso resulta em maior engajamento do cliente e aumento nas vendas.
• Algumas indústrias utilizam IA para otimizar o uso de energia, resultando em uma redução significativa no consumo e, portanto, em custos.
Os principais pontos a serem observados em relação às questões éticas do uso da IA incluem:
• Privacidade e Proteção de Dados - coleta, armazenamento e processamento de dados pessoais pelas soluções de IA devem estar em conformidade com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) no Brasil;
• Viés Algorítmico - desenvolvedores de IA devem estar atentos ao viés algorítmico, que pode resultar em discriminação injusta. É fundamental realizar auditorias e ajustes nos algoritmos para mitigar o viés e promover a equidade;
• Transparência e Explicabilidade - os sistemas devem ser projetados de maneira que os resultados sejam explicáveis, permitindo que usuários e partes interessadas compreendam como as decisões são tomadas;
• Normas Éticas e Princípios - desenvolver e aderir às normas éticas e aos princípios que orientem o desenvolvimento, implementação e uso da IA.
Este conteúdo integra o projeto Fatos e Cenários, realização do Jornal CORREIO com patrocínio da Tronox e Unipar, apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador e apoio da FIEB.
Por Márcia Luz
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.