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Estúdio Correio
Publicado em 16 de janeiro de 2025 às 06:00
Um grupo de 20 estudantes de uma escola particular de Londres participa de um projeto piloto no qual são acompanhados, em sala de aula, não por professores, mas por uma plataforma de inteligência artificial que ensina todas as disciplinas. O anúncio foi feito em setembro do ano passado e evidencia como as novas tecnologias estão sendo incorporadas à área da educação.
A proposta é que a IA personalize o processo de aprendizagem, oferecendo a cada aluno conteúdos alinhados às suas capacidades no momento. Assim, cada estudante aprende no próprio ritmo, pois o algoritmo identifica os temas em que eles se destacam e aqueles em que enfrentam mais dificuldades. Os professores assumem o papel de “treinadores de aprendizagem”, fornecendo suporte aos alunos e ensinando assuntos que a IA ainda não domina, como educação sexual e artes.
À primeira vista, isso pode parecer distante da realidade, mas não é algo tão remoto assim. A experimentação londrina apresenta possibilidades que a nova educação no mundo já começa a vislumbrar, inclusive aqui no Brasil.
Há três anos, o SESI Bahia começou a estudar os aparatos tecnológicos e a inseri-los em suas estratégias educacionais. Uma das primeiras iniciativas foi adotar uma ferramenta de inteligência artificial para correção de redações, especialmente dissertações no contexto similar ao ENEM. Em um segundo momento, as redações também passam por uma correção humana para se concluir o desempenho naquela prova e identificar onde o estudante precisa melhorar.
Cléssia Lobo,
Superintendente executiva de Educação e Cultura do SESI BahiaDe acordo com a educadora, por mais fantásticos que sejam os avanços tecnológicos, não se pode perder de vista o papel dos professores e da família no incentivo ao pensamento crítico. “Esses estudantes já são participantes de um mundo altamente tecnológico e não separam o universo digital do físico. O cuidado que devemos ter aqui, por melhor que o avanço tecnológico possa ser, é para que realmente isso seja usado para melhorar a vida do homem no contexto social e na escola”, diz Cléssia.
De acordo com a executiva, quanto mais personalizado o ensino puder ser, mais será possível conectar os estudantes às suas habilidades socioemocionais e cognitivas. “O processo de aprender na educação básica tem que ser para além da repetição, da instrumentalização e da memorização. Desenvolver o pensamento crítico é desenvolver a autonomia de continuar aprendendo. Esse é um dos papéis que a escola não pode se furtar”, comenta.
Nisso, os recursos tecnológicos entram para colaborar com os professores no dia a dia, ajudando a identificar de maneira mais rápida as habilidades e competências dos estudantes. Assim, é possível valorizar o perfil de cada um e escapar do modelo de ensino em escala, que visa formar todos os alunos com o mesmo currículo.
Ao contar com a inteligência artificial para algumas atividades, como definir uma sequência didática ou elaborar planos de aula personalizados, os professores ganham mais tempo de qualidade na sala de aula e podem realizar mediações mais efetivas com seus alunos.
Estrategista de negócios e inovação, doutor em Big Data aplicada à Comunicação, consultor e professor, Lucas Reis explora as novas tecnologias para impactar a sociedade de forma positiva. Ele é um entusiasta da proposta de utilizar a inteligência artificial na educação, com o objetivo de garantir aprendizagem personalizada.
Lucas Reis,
Estrategista de negócios e inovação, doutor em Big Data aplicada à Comunicação, consultor e professorAinda há um grande receio de que a inteligência artificial faça com que as pessoas desaprendam a pensar – e isso é realmente um desafio. Por outro lado, a maior inquietude diante da tecnologia é que ela coloca em questionamento o atual modelo educacional, baseado na memorização.
“Você precisa lembrar a data do descobrimento do Brasil, da revolução francesa, fazer conexões muito superficiais dos principais assuntos. O que tem se discutido é: ao entender que o conhecimento específico está sempre sob demanda, como ensinar às pessoas a aprenderem?”, salienta.
Segundo Lucas Reis, este processo é menos sobre proibir os alunos de usarem o ChatGPT, por exemplo, e mais sobre ensiná-los a usufruir a ferramenta para resolver situações reais. Cada vez mais, as metodologias educacionais precisarão se adaptar a essa nova realidade.
O projeto Volta às Aulas é uma realização do Estúdio Correio com apoio institucional da Escola SESI.
O Estúdio Correio produz conteúdo sob medida para marcas, em diferentes plataformas.