Enfrentamento de desafios ambientais requerem ações coletivas

Uma das maiores urgências atuais é a questão da mudança climática, considerada por especialistas um problema sistêmico

Publicado em 5 de junho de 2023 às 06:00

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Imagine em alguns lugares não ter água nenhuma e, em outros, fortes chuvas deixarem cidades debaixo d'água. Ou ainda: ter o clima extremamente seco em algumas localidades, produzindo incêndios que colocam vidas e patrimônios em risco; enquanto isso,  locais que eram gelados se tornarem mais quentes e apresentarem tamanha perda da biodiversidade, capaz de impactar na produção de alimentos, por exemplo. O Dia Mundial do Meio Ambiente deveria ser celebrado sem muitas dessas notícias,  que infelizmente acontecem ao redor do mundo. Alguns cientistas já denominam o cenário como a sexta extinção em massa enfrentada pelo planeta. Porém, a solução para esses problemas só será possível quando Sociedade  Civil, Iniciativa Privada e Estado atuarem cada vez mais juntos para sanar as emergências ambientais, como as mudanças climáticas. 

“Sem essa integração, dificilmente a gente consegue a mudança de paradigma  necessária para enfrentarmos este desafio civilizatório. A forma como nós alteramos este equilíbrio planetário só têm solução e saída com o envolvimento e o engajamento de todos”, salienta André Fraga, vereador de Salvador (PV) e presidente da Comissão de Emergência Climática e Inovação para a Sustentabilidade. 

De acordo com Fraga, o caráter estratégico da pauta ambiental exige atuação em várias frentes e mobilização na formação de cidadãos que estejam atentos às tais urgências, nas mais diversas áreas.  Ao governo cabem  iniciativas como criar regulação e incentivo, por exemplo, para  o uso da energia solar fotovoltaica, eólica e renovável; incentivar o setor da construção civil a construir de forma sustentável e ao setor de transporte a produzir motores mais econômicos e de zero emissão de gás de efeito estufa.  Já a sociedade civil precisa se estruturar, se organizar e cobrar, além de eleger representantes que, de fato, defendam essa bandeira.

Mobilização local 

A boa notícia é que na Bahia já existem várias ações comprometidas em mudar a realidade do meio ambiente.  “Temos a produção de plástico verde e biodegradável, pois a produção plástica no planeta é um grande problema. Há iniciativas de conservação de biomas na Mata Atlântica, no Cerrado e na Caatinga, que são nossos três biomas aqui no estado. São projetos liderados tanto por empresas quanto por governo. Há também, iniciativas na área de resíduos, que têm dado resultados com redução de geração e com captação de gás de resíduos para transformar em energia. Temos ainda diversos programas de mobilização da sociedade civil, ou seja, muita coisa acontecendo de positivo”, destaca André Fraga. 

É importante salientar que muitas dessas ações são frutos também da atuação de organizações, como a Federação das Industrias da Bahia (Fieb) com o trabalho de mobilizar as indústrias baianas a se desenvolverem de forma sustentável, bem como de outras instituições como o Sebrae e a Ademi, que estimulam seus associados e o setor empresarial nesta linha sustentável. 

“Nunca antes na nossa história foi tão crucial a gente agir coletivamente para enfrentarmos os desafios ambientais no nosso planeta. O aumento das temperaturas, enchentes, catástrofes, escassez de água, derretimento das geleiras e perda das biodiversidades são apenas alguns dos efeitos devastadores das mudanças climáticas. Além disso, o desmatamento indiscriminado  compromete todo o ecossistema, reduz a capacidade de absorção de carbono nas florestas e destrói vários habitats naturais de diversas espécies. Neste contexto, a ação coletiva é de muita importância, porque  nenhum indivíduo ou nação consegue sobreviver sozinho diante de problemas globais tão complexos”, ressalta a secretária de Sustentabilidade, Resiliência, Bem-Estar e Proteção Animal de Salvador, Marcelle Moraes. 

Atuação junto às comunidades 

Fundador da Toca, empresa especializada no desenvolvimento de programas e projetos socioambientais e atuando em Estados do Nordeste desde 2015, o engenheiro ambiental Victor Vidal, afirma: “Temos acompanhado um crescente número de ações sustentáveis sendo desenvolvidas em Salvador e na Bahia, muitas vezes com participação do poder público e órgãos vinculados. As ações tem caráter pontual, resultando em um retorno de curtíssimo prazo. Enxergo que há muito espaço para o desenvolvimento de programas e projetos socioambientais junto às comunidades mais vulneráveis. Essas iniciativas duram mais tempo e são compostas por diversas ações, que vão desde a assistência social às pessoas até a capacitação para o desenvolvimento de uma nova habilidade ou até, quem sabe, de um novo empreendimento”. 

Vidal frisa, ainda, que empresas de grande porte que estão na Bahia têm desenvolvido cada vez mais projetos de responsabilidade socioambiental, tanto na área urbana como na zona rural. “Nós, da Toca, desenvolvemos projetos com empresas de saneamento, do ramo de óleo e gás e de celulose em comunidades rurais, urbanas e periurbanas. Os projetos são voltados para o desenvolvimento territorial e adaptados conforme a realidade local. Assim, é possível trabalhar temas que são sensíveis em todo o planeta, mas com o olhar das pessoas que vivenciam aquilo no dia a dia”, explica. 

Um mundo sustentável começa em casa

Adriana Hack, autora do livro “Um Novo Mundo é Possível”, pesquisadora e head da Casa Mundo, que pesquisa e mapeia comportamentos e futuros, aponta que além da importância da ação coletiva macro para responder às urgências do meio ambiente, quando o assunto é sustentabilidade, as ações individuais importam muito! 

“Embora coletividade seja o mote dos novos tempos, agir de forma colaborativa passa por muitos desafios: coordenar diferentes perspectivas, superar barreiras de comunicação, lidar com divergências de interesses, expectativas e níveis de compromisso.  Você pode começar com ações pequenas e individuais, como: reduzir o consumo de água e energia em casa; separar o lixo e fazer a reciclagem correta dos resíduos; optar por transportes públicos ou bicicletas; utilizar sacolas recicláveis; optar por produtos com embalagens mais ecológicas e responsáveis, e outras pequenas ações...”. 

Também vale idealizar projetos mais colaborativos articulados entre sociedade, governo e iniciativa privada.  No campo da educação, por exemplo, é possível criar  campanhas de conscientização sobre a importância de cuidar do planeta e adotar práticas mais responsáveis no dia a dia, cobrando as escolas, as empresas e o seu entorno. Já na rotina, é importante pesquisar e eleger marcas e empresas que possuem políticas mais sustentáveis e responsáveis com o meio ambiente. No âmbito profissional, é importante estar atento a todas as etapas do seu trabalho. 

E o que falta para se colocar tudo isso em prática?  “Falta clareza sobre a relevância do tema para o mundo. Muitos profissionais / governantes ainda insistem em dizer que ser sustentável não é tão relevante/lucrativo para o negócio/sociedade, que o cidadão ainda não está disposto a valorizar/pagar a mais por ter um produto/serviço desenvolvido com práticas mais sustentáveis, mas isso não é exatamente assim. Esse tema já tem e terá muito valor na sociedade como um todo em um futuro muito próximo”, enfatiza Adriana.

O projeto Mundo Sustentável é uma realização do Jornal Correio, com o patrocínio da Unipar e Braskem, apoio institucional da Prefeitura de Salvador e apoio da Wilson Sons  

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