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Gabriela Araújo
Publicado em 22 de março de 2025 às 06:00
Neste sábado (22), o mundo volta os olhos para o Dia Mundial da Água, data criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) para conscientizar a população sobre a importância desse recurso e incentivar ações positivas e sustentáveis. Em 2025, o tema escolhido foi Preservação das Geleiras, com foco especial na proteção dessas massas de gelo, que são verdadeiros reservatórios naturais de água doce, fundamentais para o equilíbrio climático e para o abastecimento de milhões de pessoas ao redor do planeta. >
O biólogo Rafael Moura, doutor em biologia animal, afirma que a Antártica desempenha um papel crucial como reguladora do clima do planeta. Segundo ele, as massas de gelo cobrem não apenas o ambiente terrestre, mas também parte do espaço marinho, especialmente durante o inverno.>
“Com o aumento das temperaturas globais, o derretimento do gelo antártico se intensifica no verão. Isso reduz a salinidade das águas em baías e ao redor do continente, levando à morte das microalgas que estão presas ao gelo. O krill, um pequeno animal semelhante a um camarão e fundamental na teia alimentar marinha da Antártica, se alimenta dessas microalgas e, por sua vez, serve de alimento para baleias, focas e pinguins. A escassez dessas algas e do krill pode ter um impacto catastrófico na biodiversidade local”, explicou.>
“Além disso, o aumento da temperatura ao redor da Antártica pode permitir que espécies de outras regiões próximas colonizem o oceano antártico, o que também afetaria a biodiversidade da região”, acrescentou.>
De acordo com a oceanógrafa Alice Reis, doutora em ecologia, o derretimento dos glaciares também aumenta o volume total de água nos corpos hídricos, em especial os oceanos. A situação tem pouca influência direta para o contexto tropical da Bahia, se comparada com outras variáveis, como por exemplo o aquecimento da água, embora não deixe de ser algo com o que se precise ter atenção.>
"Pouco se fala disso, mas, quando a água esquenta, ela expande, logo, o volume dela aumenta. A água do derretimento das geleiras vai passar por esse processo de aquecimento, mas é junto com todo o volume de água que já existe no oceano que o seu aquecimento e expansão vai gerar no futuro um aumento do nível do mar, que já está acontecendo, mas, como é lento, não conseguimos perceber no dia a dia”, afirmou.>
Ainda conforme a especialista, a erosão costeira, perda da biodiversidade e impactos na pesca, como alterações na disponibilidade de peixes e crustáceos, são algumas das consequências desse aumento.>
“Principalmente a erosão costeira. A mudança na temperatura e pH da água, somada à sobrepesca (pesca excessiva) e o avanço de espécies invasoras, causadas pela mudança do clima, são as principais variáveis para a redução da biodiversidade e recursos pesqueiros. A perda dos recifes de corais e manguezais, berçários da biodiversidade, causada pelas mudanças do clima e impactos humanos, também contribuem para essa perda”, destacou.>
A cada ano, próximo ao Dia Mundial da Água, um novo Relatório Mundial sobre o Desenvolvimento dos Recursos Hídricos (World Water Development Report – WWDR) é lançado, para fornecer aos tomadores de decisão as ferramentas necessárias para formular e implementar políticas sustentáveis relacionadas à água. Esse Relatório é coordenado pelo Programa Mundial de Avaliação da Água da UNESCO (World Water Assessment Programme – WWAP), em nome da ONU-Água (UN-Water).>
O tema anual do Dia Mundial da Água está alinhado com o foco do Relatório. A UNESCO também contribui para a observância do Dia Mundial da Água nas atividades de seu Programa Hidrológico Intergovernamental (Intergovernmental Hydrological Programme – IHP), que trabalha durante todo o ano para construir a base de conhecimento científico a fim de ajudar os países a administrarem os recursos hídricos de maneira sustentável.>
A data surgiu durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), em 1992, no Rio de Janeiro. Na ocasião, os países identificaram a necessidade de destacar a importância desse recurso fundamental para a sobrevivência humana. No mesmo ano, a Assembleia Geral das Nações Unidas instituiu o dia 22 de março de cada ano como o Dia Mundial da Água.>
O momento destaca as recomendações da ONU e incentiva a implementação de iniciativas concretas nos países, visando conscientizar sobre a importância do uso responsável e eficiente dos recursos hídricos. Anualmente, diversas agências da entidade mundial envolvidas com a gestão hídrica coordenam atividades internacionais na data, enquanto a organização e as nações se comprometem a adotar medidas para a economia do recurso e a ampliação do acesso à água potável, reconhecido como um direito fundamental desde julho de 2010.>
Em 2024, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou o Decreto nº 11.960, viabilizando a reestruturação do Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH). Presidido pelo Ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, o CNRH atua no planejamento e na execução de políticas hídricas no país.>
Entre as competências do órgão, estão a formulação da Política Nacional e a articulação do planejamento de Recursos Hídricos com os planejamentos nacional, regional e estadual, deliberação sobre projetos de grande repercussão nacional e internacional, aprovação e acompanhamento do Plano Nacional de Recursos Hídricos, além de estabelecer critérios para a outorga de direitos de uso de recursos hídricos e para a cobrança por sua utilização.>
A água ocupa um papel central na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um plano de ação global adotado por todos os estados membros da ONU, em 2015, para promover o bem-estar das pessoas e a preservação do planeta. Dentro dessa agenda, destaca-se o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 6 (ODS 6), intitulado "Água Limpa e Saneamento", que busca assegurar a disponibilidade e a gestão sustentável da água e do saneamento para todos.>
Reconhecendo a importância essencial da água para a vida, a saúde humana e o equilíbrio dos ecossistemas, o ODS 6 enfrenta desafios críticos, como a escassez hídrica, a poluição da água e a falta de saneamento básico. Superar essas questões é fundamental, exigindo o compromisso de governos, empresas e sociedade para implementar práticas responsáveis de governança e garantir uma gestão justa e eficiente dos recursos hídricos.>
A crescente escassez de água potável, impulsionada pelo consumo desenfreado, pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas, reforça a necessidade de ações urgentes para garantir a segurança hídrica das futuras gerações. Uma pesquisa realizada pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) indicou que as principais bacias hidrográficas brasileiras podem ter diminuições de até 40% na disponibilidade de água até 2040.>
Ainda segundo o estudo, as bacias hidrográficas localizadas no Norte, Nordeste e parte do Centro-Oeste podem sofrer com maior escassez. Diante dessa situação, a jornalista Maira Passos, 25 anos, preocupada com a preservação desse recurso, resolveu colocar em prática ações que podem fazer a diferença.>
“Fechar a torneira enquanto escova os dentes ou o chuveiro, no banho, enquanto se ensaboa, reaproveitar a água da máquina de lavar roupas e consertar vazamentos assim que perceber”, dá a dica. “Prevenir o desperdício em casa é também proteger o meio ambiente. A água é um bem de todos e, se cada um fizer sua parte, garantimos que ela continue disponível no futuro”, reforça. Quem também compartilha o mesmo pensamento é a fisioterapeuta Júlia Lopes, 25, que faz um alerta: “Embora pareça abundante, é um recurso limitado, ameaçado pela poluição e pelo desperdício”.>
O projeto Dia da Água é uma realização do jornal Correio com patrocínio da Tronox. >