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Marina Branco
Publicado em 5 de novembro de 2024 às 15:48
O que você faria se, do dia para a noite, um acidente fraturasse três vértebras da sua coluna, te prendendo em um colete e mostrando o quanto a vida pode acabar a qualquer momento? Não existe uma resposta única. Mas, para o maratonista Victor Oliveira, a decisão foi correr. >
Na última sexta-feira (1), Victor Fish, como é conhecido nas redes sociais, correu da Igreja do Bonfim à Praia do Forte, passando pelos farois de Humaitá, Barra, Itapuã e Praia do Forte. Como parte do “Desafio 4 Farois”, ele percorreu mais de 100 km, ao longo de 12 horas e 40 minutos em uma estrada deserta. >
Ao longo do que seria quase uma hora e meia de percurso de carro, ele conta que realizou a vontade de se conectar com a fé quando as forças parecessem não existir mais. “Eu sabia que ia ter uma hora que eu ia chegar ao limite, e nessa prova esse momento foi no quilômetro 80. Foi ali que eu comecei a conversar com Deus, indo de um em um quilômetro até chegar no 100, do 80 até o 100”, conta ele.>
“Foi uma conexão muito forte, muito emocionante. A gente chora muito, pensa na família, pensa no filhão, pensa em tudo, pensa nas questões da vida que a gente reclama… é uma prova em que você reflete sua vida como um todo, é algo mágico, difícil de explicar”, completou. >
A prova de ultramaratona foi realizada pela assessoria de corrida Brutus, de Stella Maris, e tem como objetivo percorrer os quatro farois, podendo seguir ainda para um quinto em Subaúma, completando 160 km de corrida. O desafio surgiu quando um dos amigos de Victor, Rogério Reis, decidiu fazer um treino de 100 km para correr a Ultra dos Anjos, e percorreu o caminho do Farol de Humaitá a Praia do Forte.>
Após completar mais duas ultramaratonas, sendo uma delas na selva amazônica, ele criou o desafio para atletas de Salvador que querem se tornar ultramaratonistas. A primeira edição da corrida foi em 2019, a partir de Humaitá, e foi crescendo até incluir outros dois farois.>
Para correr, os atletas escolhem a categoria que vão percorrer, com opções que vão desde quilometragens mais simples, abaixo de 42 km, onde fica o primeiro ponto de apoio e hidratação, até números mais desafiadores, como foi o caso de Victor. Inicialmente, a ideia era correr apenas 60km, mas três semanas antes da largada, ele decidiu quase dobrar o desafio, e alcançar os 100km. >
A ultramaratona não foi a primeira corrida do maratonista, que já tinha completado 42 km na Maratona Salvador, em setembro, e participado de uma prova no Rio de Janeiro em junho - mas foi, sem dúvidas, a mais desafiadora. De um máximo de 42km, ele decidiu conquistar os 100km, em uma maratona de preparação junto a sua assessoria. >
“A gente fez uma planilha de treinos e foi indo. O corpo não reclamou muito, e quando eu vi eu estava apto para fazer, bateu a dúvida por ser uma prova nova, mas eu quis ver até onde era meu limite”, comentou. >
No total, foram 102 km corridos, por causa de um erro no início do caminho. Ainda nos primeiros quilômetros, um pelote de corredores, incluindo Victor, desviou o percurso, retornando à rota original no Bonfim e somando dois quilômetros extras ao desafio. >
“Esse foi meu maior feito como atleta. Foram 12 horas correndo, virando à noite, correndo das cinco da tarde até de manhã, e me superando a todo momento, sempre pensando na família, no meu filho”, afirmou. >
“A vida é pesada, e o que me motiva a superar esses limites é mostrar pra cada problema que eu sou forte, estou pronto para o que vier. Eu descarrego tudo nessas corridas, fico muito mais leve, e é isso que me dá forças para enfrentar minha vida muito mais sorridente”, completou. >
Para Victor, as primeiras coisas a se pensar para uma ultramaratona são alimentação e hidratação. Na prova, um carro acompanhou o corredor, dirigido por Luciano e Jonas Oliveira, pai e tio de Victor. Revezando no volante, eles levaram água, rapadura, castanhas, sanduíches, salgadinhos, chocolate e dois litros de suco de beterraba, gengibre, e melancia.>
A parada para alimentação foi no quilômetro 60, mas saiu um pouco diferente do planejado. Após trocar a meia, massagear as pernas e passar sprays de recuperação, Victor tentou comer, e não conseguiu ingerir nada além de uma barrinha de proteína. Na tentativa, ele chegou a passar mal, precisando ir ao ‘banheiro’ no meio da estrada.>
Mas, para além dos detalhes do dia da corrida, o grande trunfo da conquista mora no que acontece antes da largada. Em treinos longos, Victor correu mais de cinco horas por sessão preparatória, chegando a 55 km apenas em um dia de treino, o que soma mais do que muitas maratonas completas. >
“Eu tinha que correr 22, 23 km antes das seis da manhã. Na maioria das vezes, às quatro horas eu já estava na rua correndo”, contou.>
A história de Victor com o esporte nasceu de um acidente que fraturou três vértebras de sua coluna, e o deixou seis meses imobilizado em um colete. Dali em diante, ele decidiu reescrever sua história, e viu no esporte a oportunidade perfeita. >
Antes do acidente, Victor só havia praticado o surf, esporte que conta ser um dos preferidos de sua vida. Do mundo das maratonas, não havia nem chegado perto - o máximo eram as corridinhas de 5 km em esteiras de academia.>
“Eu falei para mim mesmo que quando eu voltasse do acidente, seria com outra história para contar. Comecei a correr no final de 2021, no mesmo ano do acidente, e fui rapidamente para uma meia maratona, que me deu uma lesão no joelho em 2022”, conta o maratonista.>
Novamente lesionado, ele parou de correr, e decidiu jogar futebol, até que, por coincidência da vida, sua esposa começou a trabalhar às seis da manhã. Com isso, ele só poderia se exercitar antes do horário que ela saía de casa, inviabilizando os jogos e aulas de futebol. >
Um dia, às 4h40 da manhã, ele encontrou uma assessoria aberta, e voltou a correr. “Comecei a estudar e pesquisar mais sobre mobilidade, mudei minha alimentação e meus exercícios, me fortaleci, e de 2023 pra cá começou meu boom da corrida”, comentou. >
Sobre os próximos passos, Victor conta que tem vontade de conquistar as maratonas “Ultra Trail”, em montanhas, além de correr outras ultramaratonas. “Eu gosto muito de correr na natureza, e tem uma ultra trail na Suíça, a Mont Blanc, que tenho vontade. Um dia quem sabe a gente chega lá, um dia na vida eu vou encarar ela”, especulou o atleta sobre escalar os alpes suíços. >
Além dessa, ele conta que também pretende correr as maratonas de Nova York, nos Estados Unidos, Paris, na França, e Buenos Aires, na Argentina.>
Mas, pelo menos até o ano que vem, o plano é férias: “Na preparação, eu fiquei muito tempo cansado, inválido, e sobrecarreguei muito minha esposa. Já prometi pra ela que vou dar férias agora, mas já tô de olho em 2025!”.>
Outra perspectiva de Victor no mundo das corridas é o crescimento nas redes sociais, onde compartilha sua preparação e os desafios vencidos. “Quem sabe essa ‘blogueiragem’ não possa ser um ponto de apoio no futuro, né? Eu vou deixando fluir, é uma energia massa, a galera tá gostando”, comentou. >
Quando postou sua conquista dos 100 km, o influenciador brincou “agora sou oficialmente Ultra Victor Fish”. Netflix, não chora, hein? Isso aqui está massa demais”. >