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'Nunca terei a chance de comemorar um título com meu neto', desabafa torcedor do Vasco

Pedro Calil, o "Seu Calil da Colina", lamentou o momento atual do clube de coração e pediu mudanças ao presidente

  • Foto do(a) author(a) Alan Pinheiro
  • Alan Pinheiro

Publicado em 11 de março de 2025 às 18:49

Seu Calil divulgou carta aberta a Pedrinho
Seu Calil divulgou carta aberta a Pedrinho Crédito: Reprodução/Instagram

A alegria de comemorar os triunfos de um time de futebol sendo torcedor também vem acompanhada das angústias junto às derrotas e eliminações. Após perder para o Flamengo e ser eliminado na semifinal do Campeonato Carioca, um torcedor do Vasco escreveu uma carta aberta em sua rede social direcionada ao presidente cruz-maltino, Pedrinho. Pedro Calil, o "Seu Calil da Colina", de 83 anos, desabafou sobre o momento da equipe.

No texto, o torcedor relembra suas memórias e lamenta a impressão de que não conseguirá comemorar um título com o seu neto, de 15 anos. As informações foram divulgadas pelo jornal Extra. "São 83 anos de Vasco da Gama. Vivi e respirei esse clube. Sorri e chorei com ele. Vi glórias inesquecíveis e também soube sofrer. 'Sempre ao seu lado até o fim' – sabe, Pedro? Foi assim que ensinei minha família, foi assim que meu neto cresceu ouvindo, aprendendo e vivendo", escreveu Calil em um dos trechos da carta.

Calil ainda critica a postura do time do Vasco no segundo jogo da semifinal do estadual. E cobra o presidente por mudanças no clube. "Presidente Pedro Paulo, ser que não é culpa sua meu neto nunca ter me visto comemorar um título até aqui. Mas você escolheu estar aí para mudar o futuro do clube. Para mudar, talvez, o destino de milhares de Pedros espalhados pelo Brasil, que, como eu, vivem e respiram o Vasco. Mas nesse ritmo, eu não vou ter tempo de realizar o sonho de gritar É campeão" ao lado do meu moleque", escreveu.

Leia a carta na íntegra:

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE DO VASCO DA GAMA, PEDRO PAULO

Oi, meu xará. Talvez você não me conheça, então deixa que me apresento: assim como você, me chamo Pedro. Não sou um personagem das redes sociais, nem apenas o Seu Calil da Colina. Tenho nome, sobrenome e, claro, um CIC – sim, sou da época do CIC. Na verdade, sou da época do CIC, da Segunda Guerra Mundial, de Getúlio Vargas e da CLT assinada em São Januário.

Falando em São Januário, sou da época de Ademir, Barbosa, Chico. Conhece? Também sou da época de Dinamite, Andrada, Alfinete. Se ainda não ficou claro, chego mais perto: sou do tempo de Juninho Pernambucano, Paulista, Mauro Galvão, Romário, Edmundo e do ídolo Pedrinho. Agora sim, chegamos lá.

São 83 anos de Vasco da Gama. Vivi e respirei esse clube. Sorri e chorei com ele. Vi glórias inesquecíveis e também soube sofrer. “Sempre ao seu lado até o fim” – sabe, Pedro? Foi assim que ensinei minha família, foi assim que meu neto cresceu ouvindo, aprendendo e vivendo.

Falando em neto, o mais velho tem 15 anos. Gabriel, o nome dele. Vascaíno roxo. Vai comigo aos jogos. Para mim, não há experiência maior do que dividir esse amor com ele. Espero que um dia você viva isso. Todo mundo deveria. É revigorante.

Mas ontem, Pedro, algo mudou. Ontem me caiu uma ficha. Fui dormir pensando que podemos ir juntos a inúmeros jogos do Vasco ainda pela frente, mas que provavelmente nunca terei a chance de comemorar um título ao lado do meu neto. Aguardo ansiosamente por esse dia. Mas ele não chegou. E, pior, penso que ele não chegará.

E não, não é porque estou à beira da morte. Pelo contrário, esse velho aqui já combinou com o Criador que não sai de cena tão cedo. Estou lúcido, inteiro, vivendo, não apenas sobrevivendo. Temos um trato. É o Vasco que não tem perspectiva de melhora.

Se bobear chego a ver os bisnetos que meu Gabriel me dará. Quem sabe iremos nós todos – eu, minhas filhas, filhos, netos e bisnetos – ao novo São Januário assistir a um jogo do Vasco. Mas ver um título? Esse coração velho, sábio e calejado já não acredita mais.

Se você me conhecesse pessoalmente, se batesse uma bolinha comigo (sim, aos 83 eu ainda jogo futebol com meu neto), se sentasse para um churrasco ou cantasse ao meu lado na arquibancada de São Januário, saberia que nunca fui pessimista. Pelo contrário, a esperança me moveu até aqui e ainda me moverá por muitos anos. Mas também não sou cego, nem burro, nem leigo. Sei da vida, dos negócios, do futebol. Sei ser realista.