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Marina Branco
Publicado em 12 de março de 2025 às 15:32
Trabalhar com o que se ama, na empresa que sempre sonhou, e vivendo as experiências que quis a vida inteira: qualquer um pode sonhar e acreditar na realização de seus desejos. No entanto, algumas pessoas nem mesmo vão em busca da realização deles, mas sim decidem que eles acontecerão de qualquer jeito, mesmo que não seja verdade.>
Esse é o caso da "jornalista" Luana Santos, influenciadora que fingiu ser jornalista esportiva na ESPN há dois anos. Com crachá falso e credenciamentos, ela foi a vários jogos, incluindo uma final de Brasileirão feminino, e compartilhou sua falsa rotina com seus seguidores. >
Em seu Instagram, "poeticlua", ela fala sobre futebol feminino para seus quase 20 mil seguidores, e afirma ser setorista do Red Bull Bragantino pela emissora. Foram mais de dois anos indo a estádios credenciada pela empresa onde não trabalha, burlando regras do credenciamento de imprensa em torneios estaduais e nacionais.>
Conseguindo o credenciamento, ela entrava nos estádios sem pagar, frequentava salas de imprensa, tribunas e zonas mistas. No auge da mentira, ela chegou a dar uma entrevista no podcast "Papo Reto Esportes", em maio do ano passado, onde foi apresentada como repórter e assessora de imprensa da ESPN Brasil. >
Lá, ela afirmou ainda que trabalhava com a equipe de marketing estratégico do time feminino do Corinthians, o que segundo o clube, também não é real. Além disso, configuraria uma dupla jornada que seria proibida, já que a Disney proíbe funcionários da ESPN de trabalhar em clubes de futebol, para evitar conflitos de interesse.>
"Eu ajudo a levar o melhor conteúdo para quem acompanha o futebol feminino do nosso Timão, além do trabalho na ESPN. Eu sou repórter da ESPN Brasil, trabalho lá faz mais de um ano. Entrei na redação, depois passei pra reportagem de campo. E atualmente sou setorista por eles do Red Bull Bragantino, principalmente no masculino", afirmou Luana ao podcast.>
Em outra ocasião, em 22 de setembro do ano passado, final do Brasileirão feminino, Luana fez um post comentando sua experiência como jornalista da emissora: "Não é minha primeira final, nem será a última, mas é tão especial como se fosse. Quase dois anos de ESPN e eu não poderia ser mais grata por viver tudo isso. Valeu, ESPN! Valeu, jornalismo esportivo!". >
Em sua "trajetória", Luana nunca chegou a fazer reportagens, aparecer na televisão ou sequer publicar textos pela ESPN, mas recebeu apoio de patrocinadores da empresa para ir aos jogos, especialmente do Campeonato Brasileiro feminino.>
Ela chegou até a publicar fotos do seu crachá, que a definia como redatora e levava a logo da ESPN, mas era completamente falsificado e estava fora dos padrões da empresa. Na emissora, os reais funcionários nem mesmo usam crachás.>
Nos destaques de sua conta, ela postava e salvava fotos da redação da ESPN, provavelmente retiradas de perfis de jornalistas, fingindo estar trabalhando apesar de nunca ter pisado na empresa.>
As mentiras começaram a ser desvendadas quando um aviso de solicitação de credenciamento para jogo chegou à ESPN, e um dos reais funcionários questionou sobre quem ela seria à equipe. A equipe e a Disney receberam a denúncia da fraude pela Confederação Brasileira de Futebol, de acordo com a Folha de São Paulo, e notificou Luana para que ela se explicasse.>
Com o alto volume de visitas ao perfil, Luana apagou o destaque com stories sobre a ESPN e trocou sua biografia para "ex-@espnbrasil". Posteriormente, privou e deletou o perfil. Seu posicionamento final, ao ser questionada no privado, foi de que ela teria sido hackeada.>
Desde então, ela foi procurada por ligações, e chegou a atender uma delas, mas desligou rapidamente. Luana deve responder a processos civis e criminais da empresa por crime de falsidade ideológica.>
O controle e fiscalização dos jornalistas credenciados em torneios cabe às associações estaduais de imprensa. Em São Paulo, onde Luana "atuava", a responsável é a Aceesp, que ainda não se pronunciou sobre o caso.>