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Marina Branco
Publicado em 2 de janeiro de 2025 às 12:05
Imagine viver para o esporte por amor. Se tornar ginasta, competir, sonhar com as Olimpíadas. Ter sua carreira interrompida por uma guerra mundial, assistir o cancelamento dos Jogos Olímpicos, ser perseguida, precisar se esconder, e perder seu pai em um campo de concentração.
Voltar a competir, e se lesionar, perdendo mais uma Olimpíada. Retornar mais uma vez, conquistar dez medalhas, se tornar campeã olímpica. Aos 35 anos, vencer quatro ouros, e se tornar a campeã mais velha da história.
Por fim, levar o título consigo, e se tornar a campeã mais velha viva aos 103 anos. Essa é a história de Agnes Keleti, a medalhista olímpica mais velha do mundo. Hoje, em 2 de janeiro de 2025, a ginasta faleceu, deixando como legado seu talento de pentacampeã e dez vezes medalhista olímpica.
Sobrevivente do Holocausto e da perseguição na Segunda Guerra Mundial, a húngara era a medalhista mais velha viva, e estava internada com pneumonia desde o dia 25 de dezembro, em Budapeste.
A ginasta centenária teve sua carreira atravessada por diversos marcos históricos, chegando a interromper seus treinos pela violência e perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial. Foi por causa de sua ascendência judaica que ela deixou a equipe de ginástica para se esconder, vivendo intensamente a época do Holocausto.
Muitos parentes de Agnes, incluindo seu pai, faleceram no campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Ela parou de competir por um tempo, no período em que as Olimpíadas foram suspensas, entre 1940 e 1944.
Após a Segunda Guerra, ela voltou a competir, mas se lesionou no tornozelo logo antes das Olimpíadas de 1948, em Londres. Postergando ainda mais seu retorno, ela só foi competir nos Jogos Olímpicos de Helsinque, em 1952, aos 31 anos de idade.
Foi então que ela ganhou sua primeira medalha de ouro, além de uma prata e dois bronzes. Ainda assim, não foi o ponto alto de sua carreira, superando o feito em Melbourne 1956, quando levou quatro ouros.
Aos 35 anos, a tetracampeã em uma só Olimpíada se tornou a ginasta mais velha a vencer. Então, foi para Israel, se casou e teve dois filhos. Aposentada, ela seguiu a vida dando aulas de educação física e treinando a seleção israelense de ginástica.
Com sua morte, todo o mundo dos esportes reverenciou a atleta que ela foi, com tributos e homenagens por todas as redes sociais. “Agnes Keleti é a maior ginasta produzida pela Hungria, mas cuja vida e carreira estão interligadas com a política de seu país e sua religião”, escreveu o Comitê Olímpico Internacional.
Antes de falecer, Agnes deixou como conselho para todo novo ginasta que "não se concentre em ganhar... faça por amor".