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Marta se despede da Copa com forte desabafo: 'Nem em meus piores pesadelos'

Rainha foi titular pela primeira vez neste Mundial, mas não conseguiu evitar queda precoce do Brasil; camisa 10 deixa competição como maior artilheira da história, mas sem título

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  • Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2023 às 10:03

Marta durante o jogo do Brasil contra Jamaica: foi a última partida da Rainha em Copa
Marta durante o jogo do Brasil contra Jamaica: foi a última partida da Rainha em Copa Crédito: Thais Magalhães/CBF

Marta começou sua última dança na Copa do Mundo Feminina com o sonho do primeiro título. Mas deixou a competição com um 'pesadelo'. Foi assim que a maior jogadora da história do Brasil definiu a vexatória eliminação canarinha, ainda na fase de grupos. A queda foi confirmada após o empate em 0x0 com a Jamaica, nesta quarta-feira (2).

"É difícil falar num momento desses. Não era assim nem nos meus piores pesadelos, a Copa que eu sonhava. Mas ainda é só o começo. O povo brasileiro pedia a renovação, e está tendo renovação. A única velha aqui (no elenco) sou eu. A maioria são meninas que têm muito talento e um caminho enorme pela frente. Eu termino aqui, mas elas continuam", disse, bastante abalada.

Ainda que estivesse anunciando sua despedida, a Rainha pediu que o apoio à Seleção feminina fosse mantido. Voltou a falar da renovação da equipe e projetou um futuro melhor para a modalidade. Ainda citou a evolução de rivais, como a própria Jamaica. As Reggae Girlz sofreram 12 gols na edição passada do Mundial, sendo três deles do próprio Brasil. Quatro anos depois, avançaram às oitavas com a defesa zerada.

"Estamos vendo seleções que tomavam de sete, de oito, de 10, jogando de igual para igual com os grandes. Isso mostra que o futebol feminino é um produto que dá lucro, dá prazer de assistir. Apoiem e continuem apoiando", falou.

Seis vezes melhor do mundo, Marta deixa a Copa sem título. Bateu na trave em 2007, mas ficou com o vice após a derrota para a Alemanha na final. Por outro lado, se despede como a maior artilheira da história da competição, entre homens e mulheres. Em seis edições, marcou 17 gols, só passando em branco em 2023.

Vale lembrar que a camisa 10 esteve 11 meses se recuperando de um rompimento do ligamento cruzado do joelho, e só voltou a vestir a camisa da Seleção em fevereiro. Não à toa, fez os dois jogos primeiros jogos no Mundial, contra Panamá e França, como reserva. Foi titular somente diante da Jamaica, quando esteve em campo por 83 minutos. Foi substituída aos 35 do segundo tempo e, com semblante abatido, ficou torcendo do banco pelo gol salvador. Mas ele não veio.

"Marta acaba por aqui, não tem mais Copa para a Marta. Estou muito grata. Continue apoiando, para elas é só o começo. Para mim, é o fim da linha", afirmou.

Aos 37 anos, a Rainha é a maior artilheira da Seleção, com 122 gols marcados em 189 jogos. Foi duas vezes campeã dos Jogos Pan-Americanos (2003 e 2007), além de ter ganhado duas medalhas de prata nas Olimpíadas (2004 e 2008). Na véspera do jogo contra a Jamaica, falou, chorando, sobre o legado que deixa no futebol feminino - ainda que estivesse confiante na vitória brasileira.

"Sabe o que é legal? Eu não tinha uma ‘ídola’ no futebol feminino A imprensa não mostrava o futebol feminino. Como eu ia entender que poderia ser uma jogadora, chegar à seleção, sem ter uma referência?", questionou. "Hoje, a gente sai na rua e os pais falam: "Minha filha quer ser igual a você". Hoje temos nossas próprias referências. Não teria acontecido isso sem superar os obstáculos. É uma persistência contínua", disse.

Marta estreou pela Seleção há duas décadas, em 2003, ainda com 17 anos. Recebeu o título de "mágica" pelas boas atuações e deixou a edição nas quartas de final, com três gols. O show veio mesmo quatro anos depois. Na histórica campanha até a final, fez sete gols, se tornando a maior goleadora daquele Mundial. Também foi eleita a melhor jogadora, conquistando a Bola de Ouro.

"Há 20 anos, em 2003, ninguém conhecia a Marta. Hoje, viramos referência para o mundo inteiro. Não só no futebol, mas no jornalismo também. Hoje vemos mulheres aqui, o que não tinha antes. A gente acabou abrindo portas para a igualdade", disse.

Em 2011, a Rainha anotou mais quatro gols, em nova caminhada até as quartas. Em 2015, limitada por lesão, só balançou as vezes uma vez. O Brasil foi eliminado nas oitavas pela Austrália. Quatro anos depois, em 2019, marcou duas vezes. Mas não conseguiu evitar a queda para a França, de novo nas oitavas. 

Aquela edição marcou uma virada de chave histórica no Brasil. Veio uma nova comissão técnica, capitaneada pela técnica bicampeã olímpica Pia Sundhage. Com mudanças estruturais e maior investimento, a Seleção chegou para a edição de 2023 sob altas expectativas. Mas acabou caindo na fase de grupos pela terceira vez. As outras eliminações precoces haviam sido nas duas primeiras edições da Copa Feminina, em 1991 e 1995.

Questionada sobre as críticas após a queda, Marta falou em 'pensar positivo'. "A maioria que fala mal, fala que é chato, essas pessoas a gente não tem de dar moral. Não vai acrescentar em nada no nosso trabalho. Tenho total convicção de que se der continuidade, vai dar certo. Temos que pensar no positivo. Sempre teremos críticos", afirmou.