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Marina Branco
Publicado em 12 de abril de 2025 às 12:00
Muitos objetos do dia a dia não são ideais para algumas pessoas, e poucas vezes a situação delas é percebida por quem consegue usar o objeto como previsto. É a ideia do band-aid marrom, por exemplo. Se a intenção do curativo é se mesclar na pele de quem usa, por que por tanto tempo todos foram da cor bege? Apenas recentemente começaram a ser produzidos curativos de cor pensada na pele negra, abraçando mais usuários do produto.>
O mesmo acontece com os tão usados capacetes de moto e bicicleta. Ao colocá-los na cabeça, pessoas sem cabelo afro por vezes não percebem a dificuldade que seria usar o objeto com um cabelo crespo cheio. Por isso, tendo essa percepção, uma marca de ciclismo finalmente se dedicou a criar capacetes feitos para o cabelo afro, fazendo sucesso no mundo inteiro.>
Com versões até mesmo inspiradas no afrofuturismo com viseira removível e edições com desenhos assinados por artistas baianos, cada modelo tem especifidades que carregam facilidade e identidade para a vida de quem usa. Há, por exemplo, modelos com aberturas para saída de dreads, para aqueles que os carregam na cabeça.>
A ideia partiu de Lívia Suarez, bikeativista que conta ter percebido a falta de cuidado com a população afro na criação de capacetes há dez anos atrás. “Comecei a pedalar pela cidade e notei que a maioria dos grupos eram formados por pessoas brancas. Não me identificava com as vestimentas nem com as narrativas daquela turma”, contou ao Globo.>
Inconformada, Lívia criou eventos de ciclismo e pedal voltados para pessoas negras, e teve a ideia de criar a Loja Bicipr3ta. Lá, os produtos são feitos especialmente para o grupo afro, com bicicletas sob medida, roupas, acessórios e produtos adaptados.>
Na loja, são vendidos os capacetes especiais para dreadlocks, tranças e penteados blackpower, usando furos e espumas especiais para proteger a cabeça do usuário sem amassar o cabelo ou o penteado.>
Visualmente, os capacetes carregam tanta identidade quanto em sua funcionalidade. “Inspirei-me no afrofuturismo e criei modelos com viseiras magnéticas que podem ser removidas, por exemplo. Por onde andei, nunca vi nada parecido”, conta Lívia.>
Com sua marca, Lívia já foi ao Peru, Estados Unidos e Etiópia, apresentando as inovações e estilos. Outros designs incluem pichações do artista Vandalismo, e desenhos afros do artista Samuca, especialmente para crianças.>
A identidade segue lado a lado com o produto desde sua criação. Todos os envolvidos na elaboração e produção dos capacetes moram na Bahia, onde é feita a fabricação. “Com toda essa história, não faria o menor sentido criar o produto aqui e produzi-lo na China", justifica Lívia.>