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Estadão
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 15:56
Faxineiro em Aracaju. Pedreiro em São Paulo. Adilson Rodrigues se transformou no pugilista mais carismático do boxe brasileiro. Simples e espontâneo, Maguila - apelido que ganhou dos amigos de obra pela semelhança com o personagem de um desenho famoso - ganhou espaço na mídia e fez de suas lutas um evento imperdível aos domingos. O eterno campeão peso pesado morreu nesta quinta-feira (24), em São Paulo, aos 66 anos. Ele sofria de encefalopatia traumática crônica e estava internado há 28 dias.>
Maguila chegou a São Paulo em 1970, juntamente com o irmão Maurício. Assustou-se com o frio da cidade e foi trabalhar como pedreiro. Chegou a morar em uma boleia de caminhão, foi preso por dez horas por agredir um companheiro de trabalho, se fez de louco para não servir o Exército e entrou no boxe aos 22 anos pelas mãos de Ralph Zumbano, tio de Eder Jofre, na academia do extinto BCN.>
"Quanto você pesa, meninão?", perguntou Ralph, um dos lutadores mais clássicos que o Brasil já teve. "Noventa e cinco", disse Maguila. Ralph se animou, pois poucos são os lutadores nacionais na principal categoria do boxe.>
Em pouco tempo, Maguila foi campeão do tradicional torneio Forja dos Campeões e do Campeonato Paulista. Em 1983, aos 25 anos, passou para profissional e com apenas três lutas já era campeão nacional. Mais seis combates, já sob a orientação da empresa do narrador Luciano do Valle, veio o cinturão sul-americano.>
Maguila virou uma febre nacional. Suas lutas levantavam a audiência da TV Bandeirantes, onde Luciano do Valle trabalhava. Mas o ano de 1985 foi complicado para o pugilista. Duas derrotas acachapantes para o argentino Daniel Falconi e para o holandês Andre Van Oetelaar, ambas por nocaute, quase encerraram sua carreira. Ralph foi demitido e em seu lugar foi contratado Miguel de Oliveira, que na época dividia com o lendário Eder Jofre a glória de ter sido campeão mundial pelo Brasil.>
Com Miguel de Oliveira no córner, Maguila devolveu a Falconi e Oetelaar a derrota na mesma moeda e transformou em ídolo nacional. O foco de Luciano do Valle e de sua empresa, a Luqui, virou para o supercampeão Mike Tyson. Contatos foram feitos com Don King, que cuidava dos interesses do fenômeno norte-americano Até uma luta no Maracanã foi sonhada.>
Com isso, os desafios foram ficando maiores. O primeiro foi a conquista do título das Américas, com mais de 10 mil torcedores no Ginásio do Corinthians, em São Paulo. Maguila passou pelo resistente norte-americano Rocky Sekorsky, em 12 rounds.>
Mais de 20 mil pessoas lotaram o Ginásio do Ibirapuera, em 1987, para a luta contra o ex-campeão mundial James "Quebra-Ossos" Smith. Em decisão polêmica, por pontos, o brasileiro foi proclamado vencedor. O triunfo o colocou entre os dez primeiros do ranking do Conselho Mundial de Boxe e virtual desafiante de Tyson.>
O ano de 1988 foi de espera pela oportunidade de tentar o título mundial. Como ela não veio, Maguila, segundo colocado no ranking, enfrentou Evander Holyfield, que era o primeiro. No duelo de Lake Tahoe, o brasileiro, treinado pelo lendário norte-americano Angelo Dundee, que havia trabalhado com Muhammad Ali e Sugar Ray Leonard, chegou a vencer o primeiro round para dois dos três jurados, mas foi aniquilado no segundo. "O Dundee me orientou errado. Mandou eu ir para cima dele (Holyfield)", reclamou Maguila.>
A partir daí, a empresa Luqui quis encerrar a carreira de Maguila, que não aceitou e chegou a enfrentar o mito George Foreman, em 1990. Sofreu, então, mais um nocaute violento no segundo round. "Tomei um soco que quase venho para o Brasil sem pagar passagem", brincou ele, ao comentar sobre a força do rival norte-americano, que tinha 41 anos na época.>
Depois de Foreman, Maguila lutou mais dez anos. Fez uma peregrinação pela América do Sul, acumulou dinheiro, manteve o interesse do público, mas nunca mais foi o mesmo. Chegou a ganhar o inexpressivo título mundial da Federação Mundial de Boxe, quando derrotou o britânico Johnny Nelson. Aliás, bateu este adversário também na revanche.>
Em 2000, aos 42 anos, pendurou as luvas. Mas se manteve em evidência. Fez comerciais de TV, participou de programas de auditório e gravou CD de pagode. Com sua morte, o boxe perde um personagem único.>