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Marina Branco
Publicado em 21 de janeiro de 2025 às 13:44
Muitas das situações mais infelizes e comuns no futebol são as lesões. Nomes clássicos como rompimento do LCA (o ligamento cruzado anterior) ou do menisco do joelho se tornaram conhecimento popular de quem acompanha o futebol, e são frequentemente mencionados.
No entanto, volta e meia aparece um nome novo, para preocupar e entristecer o fã de futebol. Dessa vez, a miocardite levou Ganso, do Fluminense, para fora dos gramados, e levantou diversas dúvidas sobre a doença cardíaca.
A causa do afastamento temporário de Paulo Henrique Ganso é uma inflamação no músculo do coração, chamado de miocárdio. A importância desse músculo é extrema, já que é ele o responsável por bombear o sangue por todo o corpo.
Uma inflamação no miocárdio pode vir por diferentes razões, e em diferentes níveis de gravidade, mas afeta a irrigação sanguínea de todas as partes do organismo. Geralmente, ela é causada por infecções virais, especialmente as provocadas pelo parvovírus B19, adenovírus e SARS-CoV-2 - o famoso Coronavírus, que fez com que miocardites fossem muito mais comuns após a pandemia.
Outra alternativa é a origem por doenças autoimunes, infecções bacterianas ou toxinas que infectem o corpo. Até mesmo o uso de drogas podem levar ao desenvolvimento de uma miocardite.
Os principais sintomas iniciados pela infecção no miocárdio são fadiga, falta de ar (já que a falta de irrigação compromete o transporte de oxigênio e as trocas gasosas pelo corpo) e dor no peito. Em alguns casos, é sentida até mesmo arritmia.
Quadros mais graves levam o paciente a ter insuficiência cardíaca, cardiomiopatia dilatada ou até mesmo arritmias fatais. No entanto, hoje em dia, poucos são os casos que efetivamente levam à morte, pelos avanços medicinais de diagnóstico e tratamento.
Muitas vezes, a miocardite é identificada rapidamente por exames de ressonância magnética cardíaca, que diagnosticam inflamações, edemas e fibroses no coração. Diferenciando o quadro de inflamação do miocárdio de outras cardiopatias, é possível fazer tratamentos mais eficientes para cada paciente.
Aqui, também existem diversas possibilidades, que mudam de acordo com a causa da miocardite. Todas elas precisam de repouso e controle dos sintomas, mas cada uma reflete em um tipo diferente de tratamento.
Para as virais, a administração de medicamentos antivirais. Nas autoimunes, o uso de imunomoduladores. Além disso, o uso de anti-inflamatórios é sempre útil para combater a inflamação, bem como os inibidores da ECA e betabloqueadores para estabilizar a função cardíaca.
Qualquer que seja a causa, o mais essencial é o monitoramento médico constante. É o que explica o cardiologista Dr. Raphael Boesche Guimarães: “O acompanhamento regular, com exames de imagem e testes funcionais, é crucial para avaliar a recuperação do coração e prevenir recaídas. No caso de atletas, isso é ainda mais importante para assegurar um retorno seguro à prática esportiva”.
O mesmo serve para o tempo de recuperação, diferente para cada caso, gravidade da inflamação e resposta ao tratamento. “Em muitos casos, a recuperação completa é possível, mas exige paciência e cuidados rigorosos. É essencial não apressar o retorno às atividades físicas, pois isso pode agravar a condição ou gerar complicações”, afirma o médico.
Para garantir um tempo menor, o essencial é o reconhecimento dos sinais do corpo para buscar atendimento assim que o primeiro sintoma é percebido. “A miocardite é uma condição séria, mas com diagnóstico precoce e tratamento adequado, as chances de recuperação são altas. É um lembrete de que a saúde deve sempre vir em primeiro lugar, mesmo para atletas de alto rendimento”, conclui o Dr.
Para evitar diagnósticos tardios, podem ser feitos inclusive exames de rotina. Foi o caso de Ganso, que descobriu a inflamação em seus exames de pré-temporada do Fluminense, sem nenhum sintoma. Pela rapidez, dentro de quatro semanas ele deve ser reavaliado, considerando sua volta oficial aos gramados.