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Conheça Lízian Simões, baiana de 17 anos e campeã da Copa do Mundo das Águas Abertas

Nadadora concilia vida de atleta com estudos e mira as próximas edições dos Jogos Olímpicos

  • Foto do(a) author(a) Marina Branco
  • Marina Branco

Publicado em 28 de dezembro de 2024 às 03:00

Lizian Simões no mar do Yacht Clube
Lízian Simões no mar do Yacht Clube da Bahia Crédito: Paula Froes/CORREIO

Quando se fala em afogamento, nenhuma palavra boa vem à mente. Angústia. Dor. Desespero. Trauma. Todos vivenciados por uma menina que, aos 10 anos, se afogou no mar da praia de Buraquinho. Ela conseguiu sair da água e fez uma promessa a si mesma: quando fosse mãe, não permitiria que seus filhos passassem pelo que passou. Eles aprenderiam a nadar e teriam a condição que ela não teve de acessar a natação.

Anos depois, assim o fez. O que Vânia Simões não sabia era que, o que era para ser uma questão de sobrevivência, se tornaria a grande paixão da filha, Lízian - a atual campeã da Copa do Mundo de Águas Abertas na categoria Júnior Feminino.

A jovem descobriu o mundo das águas ainda pequena, com apenas 1 ano e 8 meses. Mais tarde, também tentou ballet, handebol, capoeira e outros esportes, mas seu amor era mesmo a natação. E descobriu que poderia unir a modalidade ao gosto que sempre teve pela competitividade. Afinal, a baiana gostava da sensação de que dependia apenas de si mesma para se superar, nadar contra o tempo e escrever seu nome ao lado dos maiores nadadores da história.

Obstinada, Lízian disputou sua primeira competição aos 6 anos, na escolinha Hidro & Cia, em Stella Maris, onde morava. Sem saber que estava sendo observada, foi descoberta por uma olheira, que a recomendou para o CEPE, seu primeiro clube.

Assim, ainda pequenininha, começou a treinar e fez sua primeira viagem para um torneio, em Maceió. Lá, teve que competir com adversárias de 7 anos - um a mais que ela. Mas Lízian não se assustava. Acostumada com a água desde sempre, pulou na piscina e disparou, vencendo todas as rivais.

Na hora do pódio, porém, nem foi chamada. A jovem estava “nadando sob observação”, por ser nova demais para o nível da competição. Não estava nos planos de ninguém que ela fosse vencer. Mas estava nos dela.

Lizian Simões, campeã da Copa do Mundo de águas abertas
Lizian Simões, campeã da Copa do Mundo de águas abertas Crédito: Paula Froes

“Desde sempre, eu levei a competição muito a sério. Eu odiava perder. Para mim, segundo lugar era ruim - até dar valor ao segundo lugar. Hoje, dou muito valor, mas, quando você é pequenininho, só quer o ouro”, contou.

Lízian nunca parou de nadar. De 500m para 1km, depois para 5km. Ela disputava as provas sempre com competitividade, chamando a atenção de todos que a viam nas águas. Em dezembro de 2022, criou coragem para disputar a distância da maratona aquática olímpica, 10km, na Praia de Inema.

Debaixo de um nevoeiro chuvoso, algo incomum para Salvador, ela enfrentou o mar aberto e ampliou seu mundo para além das piscinas. “Eu não perdi o medo. Eu pensava: ‘sei que eu estou preparada, sei que eu tenho treino para isso’, e fui, com medo mesmo. E consegui”.

No início do ano seguinte, Lízian chegou ao Yacht Clube da Bahia e começou a nadar com Luis Rogério Lima Arapiraca. O técnico decidiu que a levaria às maiores competições do mundo. Lá, os dois passaram a treinar maratona aquática semanalmente, se preparando para uma oportunidade que surgisse no caminho.

Lizian e Luis Rogério
Lízian e Luis Rogério Crédito: Paula Froes

O ano de ouro

Chegou 2024. Todo dia, Lízian acordava às 4h da manhã e treinava das 5h às 6h, antes de ir para a escola, em pleno ano de vestibular. Depois da aula, voltava para casa, almoçava e retornava ao Yacht para treinar. Nem férias ela tirou. E, se era oportunidade que a baiana buscava, foi exatamente isso que surgiu.

Aos 17 anos, a nadadora entrou no Programa de Preparação Olímpica (PPO), que guia jovens atletas no início de suas carreiras rumo aos Jogos Olímpicos. Lá, surgiu a ideia de enviar alguns nadadores da base para disputar duas etapas da Copa do Mundo de Águas Abertas. O objetivo não era vencer, mas experimentar o campeonato. Lízian topou o desafio.

A atleta chegou na terceira etapa do torneio, em Setúbal, Portugal, sem participar das edições do Egito e da Itália. Nadando no absoluto - circuito que ranqueia os atletas em conjunto e, depois, os divide em categorias - e ao lado das grandes estrelas da natação internacional, a baiana ficou na primeira posição do Júnior, se provando como um novo talento brasileiro para o mundo.

Em seguida, viria a prova em Hong Kong, na China. E Lízian somou pontuação suficiente para alcançar o topo do ranking geral de sua categoria. O desempenho impressionante fez com que o Comitê Olímpico Brasileiro decidisse mandá-la para a etapa final da Copa do Mundo, em Neom, na Arábia Saudita.

Ela foi comunicada que iria para mais uma disputa bem no período em que aconteceria a formatura na escola. Veio, então, mais uma escolha pelo esporte. “É a vida de atleta. A gente está acostumado a sacrificar muita coisa, foi um sacrifício. Eu escolhi a competição porque era um título que sonhava há muito tempo, e eu nado há 10 anos. Com isso, perdi o fechamento desse ciclo, que também era muito importante”.

Lizian no mar
Lízian no mar Crédito: Paula Froes

Com a escolha feita, a atleta foi nadar nas águas salgadas da Arábia Saudita. Foram três dias de treino no oceano, sem piscina, o que despertou uma irônica alergia à água do mar. Mesmo com a pele coçando e manchada, ela não desistiu.

Lízian conseguiu o segundo lugar na bateria e, com ele, o prêmio de campeã mundial pela primeira vez. A comemoração ainda veio em dose tripla, já que Ana Marcela conquistou o heptacampeonato no absoluto e Matheus Melecchi foi o vencedor no Júnior masculino.

“Três do Brasil no pódio. Depois de nadar, ainda não tinha caído a ficha. Mas, quando saiu nas páginas da World Aquatics, aí sim eu chorei. Foi uma sensação que eu nunca tinha sentido”, disse.

Pódio
Medalhistas brasileiros da Copa do Mundo de Águas Abertas Crédito: CBDA/Divulgação

Continue a nadar

Campeã mundial, Lízian agora começa a pensar no futuro, dentro e fora das águas. De início, há uma certeza: não sair da Bahia. “Não vejo outro lugar sem ser o Brasil, principalmente Salvador, para treinar a maratona. Para mim, é o melhor lugar para a maratona aquática”.

Nas águas, a meta principal é repetir o título, em 2025 e 2026, para se tornar tricampeã mundial até os 19 anos, quando ultrapassa a idade da categoria. Aí então, quem sabe, o sonho de disputar uma Olimpíada se torne possível.

Lízian deve participar das seletivas olímpicas de piscina e mar aberto para tentar uma classificação em Los Angeles-2028. São duas vagas para o feminino, e inicialmente, Ana Marcela pararia após o ciclo olímpico de Paris, mas o 4º lugar na França deixou a veterana com a vontade de mais uma medalha. Assim, ela decidiu tentar mais um ciclo, deixando mais uma vaga em aberto - que terá Lízian na disputa.

O foco para uma possível ida à Olimpíada é a maratona aquática, grande paixão da vida da nadadora. “Antes, gostava mais da piscina, porque, quando a gente chega, a arquibancada vibra, e sempre gostei disso. Mas, quando fiz maratona, esse contato com o mar não tem como explicar. É surreal. Sou eu e o mar”.

Mesmo com planos de ir aos Jogos de Los Angeles, a grande missão é em Brisbane, na Austrália, em 2032. “Ela vem aprendendo que as oportunidades vão aparecer e que é possível estar entre as melhores. Essas vivências na Copa do Mundo, com estrelas internacionais, convivendo com a Ana Marcela, fizeram com que ela visse que é um mundo real, que é possível”, comentou Arapiraca, técnico de Lízian.

Lizian Simões no mar
Lizian Simões no mar Crédito: Paula Froes

Fora das águas, o esporte continua norteando a vida da baiana, que prestou vestibular no fim deste ano. Atualmente, Lízian pensa em cursar nutrição ou fisioterapia, para conciliar com a natação - e, ainda assim, seguir trabalhando com o esporte.

“Eu sempre comi pouca coisa e, por isso, sempre pedi a minha mãe para ir sozinha nas competições internacionais. Eu sabia que, com ela lá, no momento em que viesse uma comida que eu não gostasse, eu pediria para ela me levar em outro restaurante. Sem ela, eu precisaria comer o que tivesse”, comentou.

“Acho que eu comecei a melhorar minha alimentação por conta dessas competições. A vontade de fazer nutrição é entender os alimentos e, quem sabe, até começar a gostar de alguns deles, pelos benefícios que podem me trazer”, completou.

Já a vontade de cursar fisioterapia vem tanto do entendimento da importância do tratamento para um atleta quanto da vontade de seguir colaborando mesmo após deixar os mares.

“Eu faço fisioterapia três vezes na semana. Às vezes, volto de competições cheia de dor e vejo que fisioterapia é essencial para um atleta. Eu queria entrar nesse meio para, quando encerrar a minha carreira, ajudar outros atletas, viajar com eles para as competições. Por ser ex-atleta no futuro, já teria contato com a experiência de competição internacional e seria uma maneira de continuar indo e agregando tanto o conhecimento que eu tenho da água quanto o que eu teria na fisioterapia”, explicou.

No fundo - ou mesmo na superfície -, o grande plano para o futuro é o que está escrito na tatuagem no tornozelo de Lízian e que mergulha com ela em todos os mares onde ela for competir: “continue a nadar”.