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Conheça a história do baiano que saiu do interior e jogou com craques brasileiros na Seleção

Souza Baiano é de Serrolândia e conquistou o Sul-Americano sub-20 pela equipe verde e amarela

  • Foto do(a) author(a) Marina Branco
  • Marina Branco

Publicado em 4 de janeiro de 2025 às 02:00

Seleção Brasileira sub-20 de 1985
Seleção Brasileira sub-20 de 1985 Crédito: Acervo pessoal I Souza Baiano

"Serrolândia também tem estrelas"

Guirlanda do Arraiá do Licuri

Serrolândia - BA

A guirlanda exposta no circuito do Arraiá do Licuri, celebração que marca a cultura de uma cidadezinha no interior da Bahia, carrega todo o orgulho que o povo de lá tem daquele que se projetou para fora dela, e a tornou conhecida em lugares inimagináveis. De quem carregou, na história, no escudo e até no nome, suas raízes, levando consigo para o mundo o lugar de onde veio.

É procurando em Serrolândia, a pouco mais de 300 km da capital, que se encontra o jogador de futebol que nasceu, se criou e vive lá até hoje, e chegou a jogar na Seleção Brasileira ao lado de estrelas mundialmente conhecidas. Atleta de muitos times, o carinho pela sua terra sempre foi sua marca registrada, em todos os sentidos. Nem mesmo seu real nome ele revela - o jeito certo de chamar é Souza Baiano, apelidado por seus conterrâneos com o título de seu estado para levar para o mundo.

Souza Baiano e a guirlanda do Arraiá do Licuri
Souza Baiano e a guirlanda do Arraiá do Licuri Crédito: Acervo pessoal I Souza Baiano

A estrela de Baiano começou a brilhar na cidade onde nasceu, desde o futebol de bolinha de meia jogado nas ruas, que o apresentou sua grande paixão. Entre as várias crianças que jogavam todos os dias nas ruas, surgiram um encantamento e um dom especiais nele, que passou a treinar todos os dias nos campos regionais, dedicado a alcançar bolas nunca sonhadas ali.

Saindo dos treinos no Estádio Municipal Waldetrudes Carneiro de Magalhães, o primeiro time em que jogou na vida foi o Palmeirinha, principal equipe de Serrolândia. De lá, partiu para o Mairi Júnior, o principal time da cidade vizinha, que era almejado por todos os meninos desse interior que sonhavam com a vida do futebol. De Mairi, foi para Piritiba e, a partir dali, começou a ser descoberto como a estrela que foi.

Estádio municipal de Serolândia
Estádio municipal de Serolândia Crédito: Marina Branco I CORREIO

Assim, Souza Baiano chegou ao Atlético de Alagoinhas, em 1983, aos 15 anos. Ainda muito jovem, mostrou uma qualidade que encantou olheiros de diversos lugares, começando a construir uma carreira que já o tinha levado, de certa forma, para longe do lugar onde nasceu. Em um novo estado, com uma nova vida, ele carregava o nome de onde veio em um misto de sonhos e saudade.

Do Bahia para a Seleção

Não demorou até que essa saudade pudesse ser aliviada, quando chegou a proposta do que ele mesmo diz ter sido o clube mais importante de sua vida - o Esporte Clube Bahia. Chamado para defender o Esquadrão de Aço da capital, ele vestiu a camisa 10 ao lado de jogadores como Bobô e Zé Carlos, e foi bicampeão baiano, em 1986 e 1987. Voltou para perto de casa, chegando cada vez mais próximo do caminho que o levaria ainda mais longe.

“Tenho muito orgulho e prazer em falar da equipe de todos os clubes onde joguei, mas não tem como não ser o Bahia o que mais marcou. Foi o Bahia quem me projetou para a Seleção Brasileira, e colocou meu nome e o nome do Baiano não só em revistas famosas no mundo do esporte como a Placar, mas também no cenário nacional”.

Souza Baiano na revista Placar com o Bahia
Souza Baiano na revista Placar com o Bahia Crédito: Acervo pessoal I Souza Baiano

Em 1985, foi Souza Baiano o único nordestino a ser convidado para uma conversa com os dirigentes do seu clube, comunicando a convocação para defender o Brasil na equipe Sub-20. Em meio ao maior privilégio e alegria de sua vida, segundo ele, o atleta foi da cidade para o estado, e do estado para o país, jogando ao lado dos que hoje são considerados estrelas, mas na época ainda estavam construindo seu brilho.

Romário, Taffarel, Dunga, Silas, Denilson. Craques da bola que conheceram cedo na carreira a potência de Serrolândia, que integrava o meio de campo da amarelinha com eles no início de tudo. Foi essa equipe que o levou pela primeira vez para fora do Brasil, disputando o Campeonato Sul-Americano de 1985 no Paraguai, e consagrando ali seu primeiro título com a equipe verde e amarela.

Baiano foi o 17 do Brasil e motivo de grande orgulho para todos aqueles que, da cidade de onde veio, o assistiam crescer. Não só ele, como também Danilo Rios, jogador do Bahia vindo do povoado vizinho de Maracujá, e Adriano, jogador do Grêmio do povoado de Roçadinho. São esses os três serrolandenses que, apesar de nunca terem jogado juntos oficialmente - porque o clássico “baba” nunca deixou de acontecer -, representaram a cidade onde nasceram na Seleção.

Trio serrolandense da Seleção Brasileira
Trio serrolandense da Seleção Brasileira Crédito: Acervo pessoal I Souza Baiano

Foi durante o auge que se dividiu entre o Brasil e o Bahia que o jogador começou a receber propostas de clubes por todo o país, sendo desejado até pelo Flamengo - mas o tricolor não quis vender a estrela que se fortaleceu ali. A crescente de conquistas de Baiano só foi afetada quando, ao quebrar a perna, o craque precisou se afastar dos campos por um tempo.

Ao voltar, o Bahia o emprestou para o União São João de Araras, no interior de São Paulo, reiniciando sua passagem pelos times brasileiros. De lá, jogou no Santa Cruz de Recife, até a chegada da proposta que expandiu ainda mais seus horizontes: a possibilidade de jogar no futebol internacional.

Souza Baiano atuou no Peru e no Equador, levando o futebol baiano e serrolandense pela América do Sul. Com o tempo, surgiram algumas insatisfações entre o jogador e a administração dos clubes, que o fizeram se aposentar aos 33 anos. E, ao parar de jogar, voltou para onde tudo começou.

Seleção Brasileira em que Souza Baiano jogou
Seleção Brasileira em que Souza Baiano jogou Crédito: Acervo pessoal I Souza Baiano

O endereço original

Baiano chegou a Serrolândia pela última vez em 2001, depois de infinitas visitas ao longo dos anos. Para ele, talvez elas tivessem sido um dos motivos para ter parado de jogar até antes do necessário, pensando que “se, ao invés de usar cada mínima brecha que tinha na agenda para visitar minha cidade, tivesse ficado nos locais de treino e focado mais, talvez passasse mais tempo jogando, ou tivesse ido até mais longe”.

Mas ele não se arrepende, e nunca se arrependeria de voltar quantas vezes pudesse. É a conexão que ele tem com o lugar de onde veio que o levou tão longe, e depois de rodar o Brasil e conhecer o mundo, tudo que queria era voltar para os campinhos onde conheceu o amor pela bola. Da televisão de casa, torceu pelo penta, e viu sua Seleção se consagrar ainda mais como a maior do mundo.

"Foi sempre uma honra, um prazer e um privilégio ser profissional saindo de uma cidade pequena, uma cidade que ninguém dava nada. Eu nasci e me criei aqui em Serrolândia, e é aqui que vivo e quero viver."

Souza Baiano

Ex-jogador

Hoje, com 58 anos, Souza Baiano passa seus dias em uma vidraçaria própria, vivendo do comércio da cidade que tanto ama. Nas paredes da loja, estão materializadas as memórias daquele que quebrou barreiras e expectativas, e saiu da cidade pacata para conquistar quem era de fora, e orgulhar quem é de dentro. Entre fotos, guirlandas e recortes de revistas, um dos mais brilhantes capítulos da história da cidade é contado, esperando todo habitante que quiser ver para inspirar seus conterrâneos e lembrar, a cada um deles, que Serrolândia também tem estrelas.