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Gabriel Rodrigues
Publicado em 23 de fevereiro de 2025 às 05:00
Uma das grandes equipes do futebol boliviano, o Bolívar vive momentos de glória. Atual campeão nacional e garantido na fase de grupos da Copa Libertadores, o clube colhe hoje os frutos que foram plantados no passado. Em 2025, a equipe celeste completa 100 anos de existência, e exalta a implantação de um projeto sólido que tem dado resultados dentro e fora de campo. >
O CORREIO visitou o Centro de Alto Rendimiento Guido Loayza, do Bolívar, localizado em La Paz e viu de perto a estrutura que tem feito a diferença para o clube. O equipamento, inaugurado em 2023 em um terreno de sete hectares, conta com três campos (dois de grama natural e um sintético), academia, departamento de saúde e recuperação, restaurante, hotelaria e área de lazer para os atletas do time principal, sub-20 e equipe feminina.>
O CT faz parte do Plano Centenário, elaborado pelo atual presidente, o empresário boliviano Marcelo Claure, que assumiu o posto em 2008. Naquele momento, o Bolívar passava por uma grande crise técnica e financeira, com uma dívida de mais de 7 milhões de dólares, mas iniciou o seu processo de reinvenção.>
Sob o comando de Claure, que vive nos Estados Unidos e, entre outros cargos, ocupa o posto de vice-presidente da Shein, o Bolívar iniciou um planejamento baseado em quatro pilares: esportivo, sustentabilidade, institucional e a formação de atletas. Além do CT em La Paz, o clube possui outro centro de treinamentos idêntico na cidade de Santa Cruz de la Sierra, que abriga mais de 120 garotos e tem feito a agremiação revelar atletas. >
Desde 2021, o Bolívar é também um clube parceiro do Grupo City e conta com apoio em tecnologia e conhecimento em diversos segmentos, como a busca por jogadores e investimento em infraestrutura. >
“Essa infraestrutura foi possível graças ao aporte financeiro do presidente Marcelo Claure em parceria com o Grupo City. O campo principal, por exemplo, é um campo de 111 x 111 metros, que é o mesmo utilizado pelos clubes do City, é um campo que não se desgasta tanto porque podemos mover as traves, e toda essa infraestrutura está ajudando. Na Bolívia nós temos problemas, primeiro com lugares para treinar bem, e segundo com os estádios. Faz três anos que estamos aqui e os campos são perfeitos, treinamos todos os dias e nunca tivemos problemas. Isso faz a diferença. Essa é uma época de chuva na Bolívia e antes tínhamos problemas com os campos, que alagavam, tínhamos que treinar no sintético, às vezes não poderíamos treinar, e isso mudou. Agora temos campos perfeitos durante o ano inteiro. Isso faz uma grande diferença”, explica Jorge del Solar, vice-presidente do Bolívar.>
O próximo passo do clube é o de inaugurar o seu estádio próprio. Atualmente o Bolívar divide o Hernando Siles, em La Paz, com o rival The Strongest e outras agremiações. A previsão era de que a nova praça ficasse pronta em 2025, quando a equipe completa 100 anos, mas a obra sofreu um atraso e ficou para agosto de 2026. A capacidade será de 20 mil pessoas. >
“Queríamos um estádio maior, mas por um problema de espaço não conseguimos. É um estádio que está previsto para uma capacidade de 20 mil pessoas. São 15 mil na primeira etapa e o restante na segunda etapa. Queríamos um estádio maior, mas privilegiamos um lugar da cidade onde ele está localizado, uma área central onde há um acesso muito fácil a muitos bairros. O nosso plano é ter um estádio que não tem pista atlética, onde a torcida fica mais próxima do campo e faz maior pressão na equipe adversária”, conta Jorge. >
REVOLUÇÃO >
A execução do planejamento tem ajudado o Bolívar na prática. Nos últimos 15 anos, a equipe conquistou dez títulos nacionais (nove campeonatos bolivianos e uma Copa da Liga Boliviana). O clube é o maior vencedor do país, com 31 títulos. O time também se consolidou na Libertadores, foi semifinalista em 2014, e nas duas últimas temporadas avançou da fase de grupos para o mata-mata.>
O objetivo para os próximos anos é o de usar a estrutura para caminhar sozinho, sem a necessidade de aporte externo. Jorge del Solar conta que o clube ainda está longe da capacidade financeira de grandes equipes da América do Sul, mas tem alcançado feitos inéditos para o futebol boliviano. >
Em janeiro, o Bolívar vendeu o meia Gabriel Villamil, formado nas categorias de base, por 1 milhão de dólares para a LDU, do Equador, em uma das maiores transferências da história da Bolívia. No início de fevereiro, a equipe negociou o zagueiro Diego Arroyo ao Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, por cerca de 950 mil euros. Arroyo esteve nas categorias de base do Bahia no ano passado como parte do intercâmbio entre grupos ligados ao Grupo City. >
“Estamos nesse processo, mas não é apenas a questão da estrutura, tem também o investimento financeiro. Temos um investimento no futebol que é o mais alto da Bolívia, mas segue muito baixo na comparação com grandes equipes da América do Sul. Por exemplo, temos menos de 10% da capacidade financeira do Flamengo. Não é uma ciência exata, mas as equipes que mais investem estão mais próximas de ganhar, e ainda estamos longe de equipes como Flamengo e Bahia, mas estamos em um processo. A Bolívia não é um país que exporta muitos jogadores, mas nos últimos três anos chegamos a um nível histórico de vendas, isso ajuda a melhorar a nossa capacidade e ir crescendo. É um processo que vai demorar muitos anos, mas estamos cada vez melhor”, finalizou o dirigente. >
Confira outros pontos abordados na entrevista: >
RECUPERAÇÃO E PARCERIA COM O CITY >
Em 2008, quando o clube vivia um mau momento, iniciamos um trabalho de recuperação. A parceria com o Grupo City começou há cinco anos, em 2021, e o Grupo tem nos ajudado com o know how e tecnologia. Cada área do clube tem a sua contraparte. Eu, que sou da área desportiva, por exemplo, tenho reunião de scouting toda semana. Analisamos equipes, jogadores que podem chegar. Quando é o período de janela de transferências, trabalhamos muito forte, quase todos os dias com o Grupo City, avaliando jogadores, quais os tipos de jogadores que queremos, etc. Também temos reuniões semanais com o Grupo City para cuidar da parte comercial, analisamos preços de entradas, de sócios, de abonos, vendas ao mercado, todo o know how e cultura do Grupo City. >
O Grupo City também nos ajudou na construção do centro de treinamentos. Os nossos arquitetos passaram meses com as pessoas cuidam da infraestrutura do Grupo City para desenhar com a mesma lógica que o Grupo City usa nas suas instalações, onde fica a academia, os campos, em qual local instalar as áreas úmidas, os escritórios... tudo foi pensado e desenhado com o apoio do Grupo City. >
PLANO CENTENÁRIO >
O plano centenário é um conceito lançado pelo nosso presidente há cinco anos, preparando-nos para quando alcançarmos os 100 anos. Esse plano é formado por vários pilares: esportivo, institucional, sustentabilidade e a formação de atletas. Estamos cumprindo esses pilares. Por exemplo, antes o Bolívar não possuía sócios, tinham os abonados para o estádio, mas não sócios. Lançamos um plano de sócios e neste momento temos 8 mil associados que aportam mensalmente. >
Lançamos as academias, que criamos em parceria com o Grupo City. Lançamos em Santa Cruz de La Sierra e hoje temos mais de 120 garotos e cada vez mais deles são aproveitados no time principal. Antes o Bolívar comprava jogadores de diferentes escolas ou recrutava, através dos scouts, jogadores jovens de diferentes escolas. Isso faz parte do conceito do plano centenário, que é o conceito de preparar o clube para os 100 anos, e também preparar o clube para depois dos 100 anos, que é ser autossustentável. >
INVESTIMENTO EM ESTRUTURA >
Essa infraestrutura foi possível graças ao aporte financeiro do presidente Marcelo Claure em parceria com o Grupo City. O campo principal, por exemplo, é um campo de 111 x 111 metros, que é o mesmo utilizado pelos clubes do City, é um campo que não se desgasta tanto porque podemos mover as traves, e toda essa infraestrutura está ajudando, principalmente em relação aos campos. Na Bolívia nós temos um problema primeiro com lugares para treinar bem, e segundo com os estádios. Faz três anos que estamos aqui e os campos são perfeitos, treinamos todos os dias e nunca tivemos problemas. Isso faz a diferença. Essa é uma época de chuva na Bolívia e antes tínhamos problemas com os campos, que alagavam, tínhamos que treinar no sintético, às vezes não poderíamos treinar, e isso mudou. Agora temos campos perfeitos durante o ano inteiro. Isso faz uma grande diferença. >
Além disso, toda a estrutura ajuda, temos academias, áreas úmidas (piscinas de recuperação), todas as comodidades para que os jogadores possam se concentrar em trabalhar e não tenham problemas na parte dos treinamentos. >
Na Bolívia não há outra estrutura como essa. Alguns clubes têm os seus campos de treinamento, mas estamos muito longe dos outros, isso graças ao plano centenário, nos fez ficar muito acima no futebol boliviano. Na América do Sul há lugares assim, no Brasil, Argentina, Colômbia, Equador, clubes que têm boa estrutura, e estamos competindo com essas equipes. Mas na Bolívia estamos muito acima. >
CENTENÁRIO DO BOLÍVAR E CONSTRUÇÃO DO ESTÁDIO >
Estamos avançando no estádio, a nossa ideia era tê-lo este ano para comemorar os 100 anos do clube, mas tivemos um atraso e a nossa previsão de inauguração é para agosto de 2026. >
Importante dizer que, temos uma cópia igual desse centro de treinamentos em Santa Cruz de La Sierra, com três campos também, falta apenas uma parte do edifício principal, que estará pronto nos próximos meses. São os três projetos. O estádio é o mais importante, estará pronto em 2026, o CT principal e o CT de Santa Cruz. >
MAIS SOBRE O NOVO ESTÁDIO >
Queríamos um estádio maior, mas por um problema de espaço não conseguimos. É um estádio que está previsto para uma capacidade de 20 mil pessoas. São 15 mil na primeira etapa e o restante na segunda etapa. Queríamos um estádio maior, mas privilegiamos um lugar da cidade onde ele está localizado, uma área central onde há um acesso muito fácil a muitos bairros. O nosso plano é ter um estádio que não tem pista atlética, onde a torcida fica mais próxima do campo e faz maior pressão na equipe adversária, >
A nossa ideia também é a de não vender entradas. Todos os lugares serão ocupados por sócios. Claro que sempre deixaremos um espaço por obrigação, mas 90% do estádio será ocupado por sócios. Uma diferença é que o campo será idêntico ao que nós temos aqui no CT, os jogadores vão jogar onde treinam. >
PARCERIA COM OUTROS CLUBES DO GRUPO>
Temos uma relação muito próxima, o Grupo City não é um dono do Bolívar, somos um clube parceiro, mas temos uma relação permanente de ajuda. Eu estive na Bahia, o nosso diretor de performance também. A cada ano levamos dois ou três jogadores ao Bahia, atletas jovens que estão em desenvolvimento. >
Demos todo apoio ao Bahia para o jogo em La Paz, os goleiros treinaram aqui para fazer a aclimatação à altitude, temos boa relação com Cadu [Santoro], as pessoas que trabalham na parte esportiva que já nos conhecem há vários anos. Conversamos sobre jogadores, trocamos informações sobre equipes. Temos uma relação permanente de ajuda dos dois lados. >
ÊXITOS NO FUTEBOL>
Depois de nove anos sem que equipes da Bolívia passasse à segunda fase da Libertadores, nos últimos dois anos o Bolívar passou. Em 2023 chegamos às quartas de final. No ano passado fomos até as oitavas. Estamos nesse processo, mas não é apenas a questão da estrutura, tem também o investimento financeiro. Temos um investimento no futebol que é o mais alto da Bolívia, mas segue muito baixo na comparação com grandes equipes da América do Sul. Por exemplo, temos menos de 10% da capacidade financeira do Flamengo. Não é uma ciência exata, mas as equipes que mais investem estão mais próximas de ganhar, e ainda estamos longe de uma equipe como Flamengo e Bahia, mas estamos em um processo. A Bolívia não é um país que exporta muitos jogadores, mas nos últimos três anos chegamos a um nível histórico de vendas, isso nos ajuda a melhorar a nossa capacidade e ir crescendo. É um processo que vai demorar muitos anos, mas estamos cada vez melhor. >
PRÓXIMOS PASSOS>
O grande plano é fazer com que o clube seja autossustentável. Marcelo [Claure] é o presidente há 15 anos e aportou o seu dinheiro para equilibrar as finanças do clube. Com o pouco de sócios que temos agora, venda de jogadores, os êxitos na Libertadores, nossa capacidade tem aumentado. Estamos buscando um ponto de equilíbrio, esse é o plano centenário, alcançar o nível de que quando Marcelo não esteja conosco o clube seja autossustentável. Isso é o que vem depois do centenário. Marcelo diz que vai se retirar do clube ao fim do ano, eu não acredito e espero que ele fique um pouco mais, mas o conceito é que estando Marcelo ou não, o clube tenha uma capacidade de gestão própria para que não precise de aportes financeiros de fora. >