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Bruno Queiroz: mais uma estrela para o Esporte Clube Bahia

O jornalista marcou história com bom humor e uma coleção de furos; amigos e profissionais da imprensa esportiva lamentam a sua partida

  • Foto do(a) author(a) Monique Lobo
  • Monique Lobo

Publicado em 18 de janeiro de 2025 às 09:07

Bruno Queiroz virou símbolo e herói na história do Esquadrão de Aço
Bruno Queiroz virou símbolo e herói na história do Esquadrão de Aço Crédito: Felipe Oliveira/Divulgação

"O que me cura todo dia é o Bahia". Essa frase, que estampa uma das camisas do clube, foi dita por um herói improvável do tricolor de aço. Bruno Queiroz não era jogador - profissional -, mas se tornou um símbolo do time. O jornalista, que faleceu na sexta-feira (17) em decorrência de um câncer, dedicou a carreira ao futebol baiano, em especial à sua maior paixão: o Esporte Clube Bahia.

Em fevereiro de 2019, passou a integrar a assessoria de imprensa do Esquadrão, período em que o Bahia viveu uma transformação na sua comunicação. No ano anterior, tinha sido criado o Núcleo de Ações Afirmativas durante a gestão de Guilherme Bellintani. Foi a partir daí que as ações do Bahia passaram a falar a língua do grupo tão diverso que ocupa as arquibancadas do estádio.

E foi justamente Bellintani o responsável pela "compra" do seu passe. Tirou ele da imprensa esportiva, onde trabalhou por oito anos, depois de ver muitos 'furos' sobre contratações e outros bastidores do time serem divulgados pelas mãos do então repórter e apresentador. "Percebi que seria melhor tê-lo ao meu lado. Faltava ao Bahia um profissional como ele: inquieto, aguçado, com senso crítico vibrante e um humor incomum. Ganhamos um reforço no time, e eu ganhei um amigo", contou o ex-presidente em uma postagem no seu perfil do Instagram.

Rei dos furos, com o perdão do trocadilho, Bruno foi o primeiro a revelar inúmeras  contratações enquanto trabalhava como repórter do CORREIO. Para sair na frente, tinha fontes até em corretoras de imóveis. Isso porque, quando um novo atleta é contratado, é comum que o clube arque com o custo do aluguel da nova residência na cidade. E ele sabia disso.

No jornal, ingressou em 2015 direto para a cadeira de setorista do Bahia. Entre seus trabalhos mais importantes está a série de reportagens "Fonte Nova – Uma década de silêncio" que marcou os dez anos da tragédia que matou sete torcedores do Bahia, na antiga Fonte, após parte da arquibancada superior do estádio desabar durante uma partida contra o Vila Nova, pela Série C, em 2007. O projeto, em parceria com os colegas da editoria de Esporte, foi finalista do V Prêmio Petrobras de Jornalismo.

Na redação, sua marca sempre foi o bom humor e o talento afiado para títulos marcantes. O jornalista Moysés Suzart, com quem dividiu bancada, foi certeiro ao definir essa façanha: "O título de uma matéria é a primeira garfada daquela moqueca de camarão de lamber os beiços. E Bruno sabia matar a fome no primeiro aviãozinho na boca".

"VAR se lenhar" abriu uma matéria sobre o jogo em que o tricolor baiano teve dois gols anulados contra Athletico-PR, pela Sul-Americana. Já "Xakitá gostoso" foi a chamada que usou para resumir o amistoso entre o Esquadrão e o time ucraniano Shakhtar Donetsk, na Fonte Nova, em que os donos da casa venceram por 3x2.

Reis dos títulos: Bruno Queiroz colecionada chamadas espetaculares em suas matérias
Reis dos títulos: Bruno Queiroz colecionou chamadas espetaculares em suas matérias Crédito: Arquivo CORREIO

Já nos corredores da redação, nas coletivas e nas salas de imprensa, Bruno era um amigo querido por todos. Não faltam histórias de gargalhadas compartilhadas ao seu lado. Não há uma sequer, no entanto, de quem ele tenha desagradado. Ele sempre foi uma unanimidade. Sua alegria, cuidado e respeito com todos eram inigualáveis.

Chefe de Bruno durante os quatro anos em que ele atuou no CORREIO, o jornalista Herbem Gramacho falou sobre essa característica. "Levar Bruno para a equipe de Esportes do CORREIO foi meu maior acerto nos 15 anos em que trabalhei no jornal. O melhor dele, mais até que o humor e o raciocínio rápido, era o trato diferenciado que tinha com as pessoas. Por isso, os amigos não somente gostam dele, mas o amam", disse.

Subeditora do CORREIO, Fernanda Varela, que também trabalhou com ele na editoria de Esporte, recordou a amizade de 15 anos que compartilharam. "O que eu mais repetia pra ele é que ele era uma das melhores pessoas que eu já conheci. Bruno era feito de amor, esse é o maior resumo que posso fazer. Bruno nunca teve ego, sempre abriu portas e me ensinou muito no jornalismo esportivo", falou.

Outro colega de bancada do jornal, o jornalista Angelo Paz engrossou o coro. "Um cara genuinamente do bem, da leveza, da alegria. Nos campos, nas resenhas ou na redação, sempre o vi brilhando, como são os iluminados. Um raio de luz que ficará guardado para sempre na memória de quem teve o prazer de conhecê-lo", afirmou.

Antes disso, foi repórter e apresentador da rádio CBN. Coordenador da equipe de Esporte da CBN Salvador na época, o jornalista Elton Serra falou sobre a facilidade que Bruno tinha para atrair as pessoas. "Além de ter sido um profissional espetacular, Bruno tinha uma característica única que era a capacidade de aglutinar pessoas. O magnetismo dele era a principal característica porque não só conseguia atrair boas pessoas, mas também esse ímã atraía todos os bons sentimentos".

Marcelo Santana, jornalista e ex-presidente do Bahia, com quem Bruno trabalhou também na CBN destacou a sua ética em diferentes campos de atuação. "Trabalhar ao seu lado foi incrível. Estar 'do outro lado' e ter você como repórter foi desafiador. Ético e profissional. Um exemplo". 

Ainda atuou nas rádios Tudo FM, Transamérica e Nova Salvador. Radialista, Jailson Baraúna acompanhou os primeiros passos de Bruno na crônica esportiva. "Muitos deles bem no começo ao meu lado. Vivemos dias incríveis, nas rádios, na comunicação e, depois de ter seu talento reconhecido, no clube que amamos de forma única", escreveu em seu perfil no Instagram. 

Já como assessor, integrou o time de comunicação que aproximou os jogadores da torcida tricolor. Seja na relação com a imprensa, com outros clubes ou na produção de conteúdo sobre o Esquadrão, foi exemplar em traduzir a história do Bahia.

Não à toa, foi homenageado por outros times em sua partida. Inclusive, pelo rival. "Bruno enfrentou bravamente a luta contra o câncer e, lamentavelmente, nos deixou. Agradecemos pela cordialidade e respeito sempre demostrados", escreveu o perfil do Vitória nas suas redes sociais. 

"Que vocês encontrem conforto nas boas lembranças e no legado deixado pelo Bruno. Força e união a todos", publicou o perfil do Corinthians no X. "Nos despedimos de um grande profissional, mas também de um grande ser humano", afirmou o perfil do Náutico também no X. "Que a luta e o legado deixado por Bruno sejam inspiração para muitas pessoas", apontou o Fluminense na mesma rede social. Entre tantos outros.

De dentro da estrutura do Esporte Clube Bahia, vivenciou derrotas e triunfos marcantes como a tão sonhada vaga para a Libertadores, conquistada no final do ano passado.

Para o jornalista Vinícius Nascimento, com quem dividiu os últimos anos de trabalho na equipe de comunicação do tricolor, nunca houve um torcedor mais apaixonado. "Entre tantos adjetivos possíveis, é assim, com o Bahia e pelo Bahia, que resumo a sua história. Prometo cuidar dele com tanta entrega e carinho como você".

O técnico Rogério Ceni, que está com o time em Girona, na Espanha, também falou sobre a relação de Bruno com o clube. "Eu só queria dizer que tenho certeza que ele estaria feliz com todos vocês aqui. Um cara que, se ele viveu mais tanto tempo, tenho certeza que foi em função de muitos de vocês. No carinho, na amizade, na admiração e no ser Bahia, que ele era, além de um grande profissional", disse, em um vídeo postado neste sábado (18) pelo tricolor baiano. 

Também no vídeo, o meia Éverton Ribeiro agradeceu pelos momentos compartilhados. "Obrigado, Bruno, pelos ensinamentos, pelo dia a dia e pela alegria que ele passava. Porque onde ele estava, tinha alguém dando risada. E estava tirando com a cara de alguém, tentando deixar o outro mais alegre".

Profissional exemplar e um ser humano admirável, Bruno Queiroz deixou a esposa, Giulia Marquezini, os pais Maria Clara e Sérgio, os irmãos Tiago e Amanda, a afilhada Luna e uma legião de amigos. Entre eles, esta jornalista que pede licença para quebrar uma das regras da profissão: vá em paz, Buba. Seu legado será eterno.