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Atlético-MG encaminha retorno de Cuca, e torcida reage contra contratação por caso de estupro

Denúncia de estupro aconteceu em 1987, quando ele era jogador do Grêmio, durante um excursão do time à Suíça

  • Foto do(a) author(a) Estadão
  • Estadão

Publicado em 29 de dezembro de 2024 às 14:17

Cuca em jogo do Corinthians contra o Goiás
Cuca em jogo do Corinthians contra o Goiás Crédito: Rodrigo Coca/Agência Corinthians

Cuca está próximo de ser anunciado como novo técnico do Atlético-MG para 2025. Com passagens vitoriosas pelo time de Belo Horizonte, o treinador de 61 anos está livre no mercado desde junho, quando pediu demissão do Athletico Paranaense, e virou alternativa para o clube após a demissão do comandante argentino Gabriel Milito.

O Atlético-MG terminou 2024 de forma melancólica. Após perder as finais da Copa do Brasil e Libertadores, o time chegou na última rodada do Brasileirão lutando contra o rebaixamento. Em momento de reconstrução, o clube chegou a ter os nomes dos treinadores Luis Castro e Pedro Caixinha especulados para comandar a equipe, mas as conversas não evoluíram.

O último trabalho de Cuca no Atlético foi em 2021, quando conquistou a tríplice coroa: Estadual, Copa do Brasil e Brasileirão. Ele também foi o responsável por comandar o time no título da Libertadores, em 2013. Apesar do histórico vencedor, o iminente acerto com o treinador não é bem visto por parte dos torcedores, que reagiram contra a contratação nas redes sociais. O principal motivo é a condenação por estupro envolvendo o profissional.

"Vou simplesmente fingir que o Galo não existe durante esse tempo. O que a diretoria tá fazendo com o galo é desesperador e revoltante", escreveu uma torcedora no X (antigo Twitter). "Desde que o caso de estupro do Cuca apareceu ao público (início de 2022), ele já vai pro seu quarto emprego. Sabe quantos técnicos receberam mais chances do que ele nos times grandes do futebol brasileiro nesse período? Zero", comentou outro.

Em janeiro deste ano, o Tribunal Regional de Berna-Mitteland, na Suíça, anulou a sentença de 1989 que condenou o treinador por manter relação sexual sem consentimento com uma menina de 13 anos. O caso aconteceu em 1987, quando ele era jogador do Grêmio, durante um excursão do time ao país europeu. Em março, ele acertou com o Athletico Paranaense, mas pediu demissão em maio após sequência ruim do time, que terminou o ano rebaixado. À época, o presidente Mario Celso Petraglia criticou bastante o treinador, afirmando que ele usou o clube para limpar sua imagem após a saída conturbada do Corinthians.

Cuca é inocente?

A defesa de Cuca solicitou a revisão do caso argumentando que o treinador não contou com um representante legal na época e foi julgado à revelia. O pedido de um novo julgamento foi aceito, mas o Ministério Público alegou não ser possível realizá-lo pelo fato de o crime ter prescrito. O órgão, então, sugeriu a anulação da pena e o fim do processo, o que acabou sendo acatado pela Justiça. Foi determinado, ainda, uma indenização de 13 mil francos suíços (R$ 75 mil) - atualizado para 9,5 mil francos suíços (R$ 54,8 mil) após cumprimento de despesas.

Afinal, Cuca é inocente? Apesar da extinção da sentença, não se trata de uma mudança de veredicto. Isso porque o mérito do caso não foi reavaliado pela Justiça da Suíça. Assim, é errado afirmar que Cuca foi inocentado. Com a anulação de sentença e prescrição do processo, não poderá haver novo julgamento. A vítima morreu em 2002, aos 28 anos. Um dos herdeiros foi consultado, mas não quis ser parte do processo. A presidente do tribunal, então, decidiu então pela anulação do caso. Em tese, cabe recurso, mas nenhuma das partes está disposta a recorrer.

Com a extinção do caso, o clube que decidir contratar Cuca vai estar assegurado juridicamente de que não há histórico de condenação do ponto de vista jurídico, mas terá de lidar com a polêmica do ponto de vista moral.

Entenda o caso

Alex Stival, o Cuca, Henrique Arlindo Etges, Eduardo Hamester e Fernando Castoldi, então atletas do Grêmio, foram detidos sob a alegação de terem tido relações sexuais com uma garota de 13 anos sem consentimento. O caso ocorreu no hotel Metrópole, em Berna, na Suíça, em 1987, ano em que o time gaúcho fez uma excursão pela Europa. De acordo com a investigação da polícia local, a garota pediu autógrafos e camisetas para os jogadores, que, então, a levaram para dentro do quarto e abusaram dela. Ela registrou queixa na polícia horas depois sob a alegação de ter sofrido violência sexual.

Segundo publicou o Estadão em 7 de agosto de 1987, a versão do Grêmio, naquela época, era de que a jovem invadiu o quarto em que estava os atletas para pedir flâmulas, camisetas e autógrafos e depois saiu. No mesmo dia, o Estadão reportou que Eduardo e Henrique haviam admitido ter tido relação sexual com a garota, mas de forma consensual. Fernando e Cuca negavam qualquer participação. O advogado da vítima, porém, contestava a versão e afirmava que a menina reconheceu, sim, o então jogador do Grêmio como um dos que participaram do ato.

Tanto Cuca quanto os outros três colegas do Grêmio permaneceram em cárcere por 30 dias. Depois desse período, retornaram para o Brasil após darem depoimento por mais de uma vez e ser encerrada a fase de instrução do processo. Cuca, Henrique e Eduardo foram condenados em 1989, portanto dois anos depois do episódio. A Justiça suíça condenou os brasileiros a 15 meses de prisão e a pagamento de US$ 8 mil. Mas eles nunca cumpriram a pena estipulada para o crime, que prescreveu em 2004. Fernando foi condenado a três meses de prisão e ao pagamento de US$ 4 mil por ser considerado cúmplice.

Cuca foi enquadrado no antigo artigo 187 do Código Penal da Suíça, que prevê prisão de até cinco anos por envolvimento em um ato sexual com uma criança menor de 16 anos. A Justiça entendeu que não houve violência por parte de Cuca e dos outros jogadores, mas sim "coerção" e "fornicação", segundo afirmou ao Estadão uma porta-voz do Tribunal Superior de Berna, responsável por dar a sentença há 34 anos.