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Gabriel Rodrigues
Publicado em 1 de janeiro de 2025 às 02:00
O dia 8 de dezembro de 2023 está marcado na história do Bahia. Naquela data, Emerson Ferretti venceu a eleição para a presidência da associação e tornou-se o primeiro ex-jogador a ocupar o cargo no clube. Um ano depois, o ex-goleiro recebeu o CORREIO e fez um balanço do primeiro terço do seu mandato.
Com a responsabilidade de comandar um Bahia descolado do futebol - que ficou exclusivamente sob gestão da SAF -, Emerson cita que o maior desafio no primeiro ano foi a falta de recursos financeiros para inserir o tricolor em outras modalidades esportivas. Ainda assim, o presidente valoriza conquistas importantes como a realização do fórum esportivo, a Corrida do Bahia, além da criação do time de futevôlei, participação em rally e MMA.
Ferretti também analisou a situação do futebol, do qual a associação possui 10%, e projetou um 2025 ainda mais vencedor com a entrada do Bahia no vôlei, a estruturação do projeto de construção de um centro olímpico e parceria com a Fundação Aleixo Belov.
Há um ano você era eleito presidente da associação Esporte Clube Bahia. Qual o balanço que faz desse primeiro ano de trabalho?
O balanço é positivo, um ano bastante desafiador por ser o primeiro após entregar a gestão do futebol, ninguém sabia exatamente o que seria da associação e como a associação seria entregue e estaria neste primeiro momento. E também como seria a relação com o Grupo City. Foi um primeiro momento de entendimento da situação, ao longo do ano organizamos a casa e paralelo as duas coisas iniciamos os estudos e conversas para implementar modalidades esportivas. Além de analisar o cumprimento do contrato entre Bahia e Grupo City e acompanhar o futebol, a nossa missão é dar vida a esse Bahia que ficou sem o futebol. Fazer com que a gente ocupe outros lugares na cidade e se relacione com a torcida tricolor de outras formas, que são basicamente as outras modalidades esportivas e projetos socioculturais. Foi um ano de muito estudo, conversa para conseguir filtrar tudo e ver quais caminhos seguir. Como somos a primeira gestão, temos a missão de criar a base desse novo Bahia e tudo tem que ser bem pensado e avaliado para que a gente não inicie projetos que não sejam sustentáveis no médio e longo prazo.
Você recebeu uma associação praticamente do zero. Quais foram os principais desafios no primeiro ano?
Guilherme [Bellintani] foi bem claro, ele tinha apenas alguns meses de gestão, não quis iniciar nenhum projeto pois estava entregando o cargo. A gente pegou uma associação literalmente zerada, sem patrimônio, pois o patrimônio do Bahia era todo futebol e foi entregue à SAF. Os colaboradores, na sua maioria, eram do futebol e também passaram para a SAF, pegamos um quadro bastante reduzido, e as receitas também. Iniciamos um trabalho do zero, o Bahia associação não tem nenhum equipamento esportivo para iniciar uma atividade. Temos uma receita reduzida, por mais que tenhamos 10% da SAF, os primeiros anos da SAF são deficitários pelo alto investimento inicial, a gente não surfa nessa onda do superávit da SAF, pelo menos por enquanto, e temos um quadro bastante reduzido que sobrecarregou bastante os poucos funcionários que temos. Foram elementos dificultadores nesse início de trabalho. A gente entende que é um momento novo do Bahia, qualquer outro presidente teria esses desafios e a minha missão é organizar a associação e preparar o crescimento dela.
Apesar dos desafios citados, o Bahia conseguiu tirar algumas atividades do papel, como corrida, futevôlei e o MMA. Qual foi o saldo deste movimento?
Um elemento dificultador é que não temos receitas para investir nas modalidades, precisamos trazer receitas novas via patrocinador, leis de incentivo, convênios, uma série de alternativas. Ainda temos que buscar isso para desenvolver as modalidades, e mesmo assim conseguimos um start esportivo. Cito também a realização do Fórum Esportivo de formação que fizemos em setembro, na Fonte Nova. Reuniu quase 500 pessoas e foi uma entrega nossa no âmbito social. A intenção é em 2025 germinar todas as sementes que plantamos em 2024. Nós conversamos com muita gente, abrimos frentes de trabalhos, e espero que em 2025 outras novidades apareçam.
Assinamos também um protocolo de intenções com a Fundação Aleixo Belov, que a intenção é desenvolver remo e vela. Será construída uma modalidade náutica no Bonfim, é um sonho da fundação, e nós vamos aproveitar a estrutura para ser o braço esportivo desse trabalho na formação de atletas de alto rendimento. É um projeto em etapas, ainda está muito embrionário e quando a estrutura estiver pronta vamos iniciar as atividades esportivas. Mas já há um acordo firmado para que a gente estruture tudo isso e, talvez no início de 2026, a gente já tenha a vela e o remo do Bahia em atividade.
Como é feita a escolha das modalidades? Você planeter um time de basquete?
As pessoas às vezes acham que o Bahia está rico, mas na verdade o Bahia tem um parceiro rico no futebol, nas outras modalidades a gente precisa buscar receitas novas e atrair parceiros para um projeto que está no início. Entendo a cobrança para colocar basquete e vôlei, que são modalidades com mais visibilidade, mas são esportes coletivos que precisam de maior demanda financeira, o desafio aumenta. Nós queremos ter tanto um quanto o outro, estamos com o projeto do vôlei na fase de captação, queremos um time do Bahia no NBB, mas para isso primeiro precisamos buscar a solução financeira para não entrar como aventureiro nas competições, não conseguir pagar os compromissos assumidos e passar vergonha. Esse é um dos desafios, buscar dinheiro novo em um projeto que ainda está no início, mas pretendemos disputar essas modalidades.
Dentre os esportes coletivos citados, o vôlei é o que está mais avançado após aprovação no Conselho Deliberativo. O que você pode contar desse projeto?
Já estamos com projetos de vôlei e vôlei de praia prontos, em fase de captação de recursos. Ricardo (campeão olímpico de vôlei de praia) é o nosso embaixador e está desde o início nesse projeto, apesar de estar fora do país ele acompanha de perto, até porque é torcedor do Bahia. Tudo depende do sucesso na captação, o projeto está pronto e tem condição de ser iniciado imediatamente, mas tudo depende de recursos. Quanto mais recursos, mais rápido o projeto anda e com mais qualidade e condição de competir em alto nível nas competições mundiais.
E o time de basquete? Sai em 2025?
Já mapeamos a cena local, conversamos com pessoas que trabalham com basquete, tivemos duas reuniões com o NBB para entender o que seria necessário para a entrada no NBB. Estamos em fase também de captação de recursos, para jogar o NBB precisamos ter um investimento alto. E precisamos entrar em alto nível, a torcida do Bahia vai achar legal entrar, mas não quer ficar nas últimas colocações. Nem a gente quer isso. Queremos competir por lugares honrosos e para isso precisamos de investimentos.
O Bahia planeja firmar outros tipos de parceria para gerir centros esportivos?
Em todas as modalidades a intenção é a de que a gente tenha um braço social, similar ao que a SAF faz com o Bora Bahêa Meu Bairro (projeto em que administra e implanta escolinhas de futebol em campos cedidos pela prefeitura de Salvador) para ter a oportunidade de abraçar todos que gostam daquela modalidade e a partir daí detectar e formar talentos.
Já foi amplamente divulgada a intenção do Bahia de construir um equipamento esportivo próprio. Como anda esse projeto?
O projeto existe, o espaço também, na Cidade Baixa. As conversas com a prefeitura, que seria a parceria neste primeiro momento, estão em andamento, o prefeito entendeu a importância. Está andando mais lento do que gostaríamos, algumas questões precisam ser resolvidas, mas acredito que pode sair. Realmente precisamos ter o nosso espaço para desenvolver esse trabalho, levar várias modalidades para dentro desse espaço e fazer um trabalho social de formação de atletas e treinamento de alto rendimento. Estamos trabalhando nessa frente, ao mesmo tempo buscando outros espaços na cidade e nem todas vão para o centro olímpico. Mas continuo com esse sonho, espero que saia dentro dessa gestão.
Saindo dos projetos esportivos, a fiscalização do cumprimento do contrato da SAF é uma das obrigações da associação. Como é a relação com o Grupo City?
A relação ao longo do primeiro ano foi muito boa, amistosa, todas as vezes que nós precisávamos sentar para discutir alguma coisa, representar a torcida, fomos bem recebidos. Sempre tivemos o diálogo como forma de resolver as questões e a gente espera que se mantenha dessa forma. Foi um primeiro ano de entendimento da relação, mas ao longo de todo o período foi uma relação amistosa até porque todos nós queremos o sucesso do Bahia, no caso o futebol que é o que eles estão à frente.
Por possuir uma cadeira no conselho de administração da SAF, a associação recebe informações sobre o planejamento do futebol?
Por contrato nós temos direito a uma cadeira no conselho de administração, que é ocupada por mim. Sempre que tem reunião eu participo e ali são discutidas todas as ações que foram feitas pela diretoria da SAF, isso está sendo cumprido. As decisões do dia a dia da SAF, de investimento, de quais jogadores vão ser contratados não passam por nós, mas sempre que precisamos de alguma informação somos atendidos.
Qual a avaliação que você faz desse segundo ano de gestão do Grupo City?
Acho que está dentro do que foi planejado, um projeto de longo prazo, com evolução constante que já é observada, principalmente se a gente analisar o desempenho no Campeonato Brasileiro. Há mais de 20 anos o Bahia não jogava um Campeonato Brasileiro em que ficou o tempo todo entre 3º e 8º lugar. A última vez que ficou em 8º foi em 2001, eu ainda era o goleiro. Mas naquela ocasião não ficamos o tempo todo entre os primeiros. Por mais que muita gente tenha ficado insatisfeito pela queda de rendimento do time no segundo turno e que colocou em risco a briga pela Libertadores, se a gente ampliar essa análise houve uma evolução tremenda. A qualidade do jogo, que encantou todo mundo, e a colocação final com a classificação à Libertadores. Mostra o trabalho do Grupo City no futebol do clube e dá a esperança de que vai melhorar ainda mais, principalmente se a gente olhar o que eles já fizeram com o Manchester. Transformaram um clube que há mais de 40 anos não era campeão inglês em um dos maiores campeões dos últimos anos, inclusive campeão europeu e mundial. Eles sabem fazer, mas futebol não tem mágica. É preciso ter paciência pois as coisas não acontecem apertando um botão.
Já houve alguma conversa entre a associação e a SAF sobre o planejamento do Bahia para 2025?
Não. Ainda estamos resolvendo questões de 2024. O planejamento do futebol está acontecendo, nós teremos acesso, mas não participamos da construção desse planejamento, mas já está acontecendo dentro da SAF.
Qual a mensagem que você deixa para o torcedor?
Peço que a torcida continue acreditando no trabalho que está sendo feito, confiando no trabalho, não tenho dúvidas de que o Bahia vai voltar a ser protagonista no futebol brasileiro. Na associação, é um trabalho que está iniciando, que a torcida confie também e apoie. Estamos saindo do zero, sem estrutura, sem dinheiro, mas estamos com muita vontade de trabalhar, nos dedicando bastante para orgulhar o torcedor tricolor nas quadras, nas pistas, nas areias, tatames. Queremos ofertar ao torcedor torcer para o Bahia de outras formas.