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Acelen vai investir em biorrefinaria em Mataripe

Unidade deve entrar em operação entre 2026 e 2027 e vai produzir mais de um bilhão de litros de biocombustível por ano, a partir do óleo de macaúba

  • Foto do(a) author(a) Priscila Natividade
  • Priscila Natividade

Publicado em 24 de maio de 2024 às 05:00

Mediado por Isaac Edigton, painel discutiu iniciativas de ESG nas empresas visando oportunidades de negócio
Mediado por Isaac Edigton, painel discutiu iniciativas de ESG nas empresas visando oportunidades de negócio Crédito: Arisson Marinho/ CORREIO

A Acelen vai produzir na Bahia um combustível 80% menos emissor de gás carbônico. Para isso, vai investir R$ 14 bilhões para implantar uma biorrefinaria em Mataripe (São Francisco do Conde, Região Metropolitana de Salvador). A nova unidade tem previsão de entrar em operação entre 2026 e 2027 e vai produzir mais de um bilhão de litros por ano de SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e Diesel Renovável a partir da macaúba, um tipo de palmeira com capacidade de alto potencial energético. As informações foram dadas pelo VP de Relações Institucionais, Comunicação e ESG da empresa, em palestra no ESG Forum, ontem. Marcelo Lyra participou do painel ‘Integração de Práticas ESG nas Estratégias Corporativas'.

“A Acelen é uma empresa que foi criada com o objetivo de ser relevante na transição energética brasileira. O projeto que mais dá significado a isso é o nosso projeto de produção de biocombustíveis que vamos implementar na Bahia. É o projeto que eu costumo dizer que é ESG na veia, integrando desde o cultivo da macaúba até o combustível renovável de última geração”, afirmou.

Na prática, o projeto que já está em fase final de decisão de investimento, envolve 200 mil hectares de área plantadas com macaúba - 20% dessa extensão vai contemplar produtores de agricultura familiar e o restante em produção de larga escala. A área é equivalente a 280 mil campos de futebol e, além da macaúba, serão cultivadas também outras plantas de alto potencial energético, como o Dendê da Bahia.

“Essa palmeira vai gerar um óleo vegetal que será transformado na biorrefinaria a ser implementada ao lado da refinaria de Mataripe. Além disso, na parte agrícola, há o ganho do impacto significativo no sequestro de carbono. Vamos implementar o projeto na Bahia e em Minas Gerais com alta tecnologia desde a semente. O plano é que, inicialmente, a biorrefinaria processe óleo de soja até a aquisição das terras, e que seja feito também o convênio com os agricultores familiares para produzir a macaúba”, explicou.

A expectativa é que sejam gerados 90 mil postos de trabalho diretos e indiretos com iniciativa. A região do cultivo da macaúba para o projeto ainda e objeto de estudo, mas Lyra adianta que vão ser priorizadas terras degradadas, por meio de parcerias público-privadas e utilização de agricultura familiar, com captura de 355 ton/ha de CO2.

“Quando a gente fala em ESG, as vezes fica a impressão de que estamos só no conceito, que as iniciativas estão distantes, algo longe de acontecer ou que é só uma ação de marketing. Mas não, estamos falando de uma biorrefinaria de grande dimensão que será construída na Bahia. Estamos exatamente olhando para o futuro e o futuro é a produção de biocombustíveis”, complementa.

"Estamos falando de uma biorrefinaria de grande dimensão que será construída na Bahia. Estamos exatamente olhando para o futuro e o futuro é a produção de biocombustíveis"

Marcelo Lyra

VP de Relações Institucionais, Comunicação e ESG

A visão de expansão da Acelen não veio apenas de um conceito ou uma promessa de ser sustentável - sobretudo, se tratando de uma empresa que atua no segmento de combustíveis fosseis - mais sim, de uma estratégia que enxergou oportunidades de novos negócios no ESG. Exemplos como este foram compartilhados durante o painel mediado pelo presidente da Saltur (Empresa Salvador Turismo), Isaac Edington. Também participaram do debate o advogado, escritor, consultor especialista em ESG, Augusto Cruz, e a gerente de Saúde, Segurança e Meio Ambiente (SSMA) da JMC Pan American Silver, Enilda Maranhão.

“Uma das coisas que são importantes para esse fórum é trazer luz para as iniciativas que têm dado certo. O que as organizações - sejam elas empresas, governos, sociedade civil - estão fazendo? O que importa mesmo é que a gente busque o equilíbrio entre o desenvolvimento dos seus negócios e da sociedade, sem que isso comprometa as gerações futuras”, afirmou Isaac, que compartilhou a experiência da Prefeitura de Salvador no reuso de 1,4 mil metros de lona utilizada no Festival da Virada e no Carnaval de Salvador. 

“A gente produz muita lona nesses eventos. Era um material que seria jogado fora, mas vai ser reutilizado após ser doado para o Mercado Iaô. Essa mesma lona vai se transformar em bolsas e gerar renda para essas pessoas. Quando trazemos isso para um fórum como esse, ou seja, uma ação que acontece na prática, inspira outras empresas a fazerem o mesmo ou até a criar outras iniciativas. Salvador tem uma quantidade gigantesca de pessoas que fazem eventos”, defendeu.

Já Enilda Maranhão, trouxe os avanços feitos pela IMS Pan American Silver como o aumento de 35% para 45% de mulheres ocupando posições de alta liderança, 95% de reuso de água e 100% dos resíduos orgânicos redirecionados para a compostagem na unidade da mineradora em operação no município de Jacobina. “O principal ponto é identificar dentro da organização o que é relevante para aquele negócio. A organização precisa entender quais os riscos e oportunidades que ela gera de dentro para fora do ambiente interno diante do que ela realiza. Se posicionar para a definição de como agir e como resolver esses impactos. O entendimento disso passa por um diagnóstico, você precisa ter uma alta liderança comprometida. Uma governança que faça acontecer. Não existe uma receita de bolo, mas cada organização precisa entender o que é de específico do seu negócio. Essa trilha é fundamental”.

ESG na prática

Para o especialista em ESG, Augusto Cruz, é fato que existem hoje muitas empresas empenhadas nos princípios do ESG. Porém, elas encontram dificuldades em identificar como e onde deve atuar e enxergar a materialidade daquilo que impacta e é impactado pelo negócio e, principalmente, o equívoco que existe sobre a visão parcial do tema.

“O ESG é transversal. É uma agenda para toda empresa. A gente tem um ponto hoje que está na desinformação e superficialidade com que o tema vem sendo abordado. Isso é um gargalo porque acaba que a alta direção da empresa que, eventualmente ainda não conheça o assunto com profundidade, receba isso de uma maneira superficial e não enxerga ali o real valor que isso vai trazer para o negócio, e o quanto pode deixar de ganhar se não aderir ao ESG”.

"A gente tem um ponto hoje que está na desinformação e superficialidade com que o tema vem sendo abordado. Isso é um gargalo"

Augusto Cruz

especialista em ESG

O advogado lembrou que ESG não é só ganhar, também é não perder. “Se a gente está pensando na agenda ESG na nossa empresa, não dá para colocar ali uma ação de caridade no Rio Grande do Sul, se estamos na Bahia e não temos impacto lá. Isso é sustentabilidade corporativa e sustentabilidade social. ESG é o negócio: trabalhar a comunidade do entorno, mitigar os impactos sociais e ambientais que o seu negócio gera, verificar o quanto a mudança climática vai causar. Isso é ESG”, reforçou.

GLOSSÁRIO

. ESG - A sigla Environmental (Ambiental), Social (Social) e Governance (Governança) diz respeito a práticas e critérios de cada empresa para avaliar riscos, oportunidades e impactos do negócio diante de ações de sustentabilidade e decisões de investimento.

. Sustentabilidade empresarial - São estratégias de médio a longo prazo implementadas nas áreas ambiental, social e econômica de determinada empresa, visando o crescimento dos negócios em equilíbrio com a redução de impactos que a produção ou serviço pode causar.

. Governança - A governança corporativa representa as normas, práticas e processos de uma empresa, ao regular e definir as diretrizes de gerenciamento, controle e atuação da organização.

. Carbono Zero - Significa compensar o impacto das emissões da atividade produtiva da empresa. Geralmente, as organizações fazem essa compensação com a compra de crédito de carbono em mercados voluntários. Outra prática comum é a recuperação de áreas degradadas por meio de arranjos florestais.

. Economia circular - Consiste em priorizar o consumo consciente, no estímulo ao desenvolvimento sustentável, novos modelos de negócios, a otimização nos processos de fabricação, reuso, além da priorização de insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis.

O III ESG Fórum Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Site Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Instituto Mandarina, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, OR, Porsche Center Salvador, Salvador Bahia Airport, Suzano, Tronox e Unipar; apoio da BYD | Parvi, Claro, Larco Petróleo, Salvador Shopping, SESC, SENAC e Wilson Sons; apoio institucional do Sebrae, Instituto ACM, Saltur e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Fera Palace, Happy Tour, Hike, Hiperideal, Luzbel, Ticket Maker, Tudo São Flores, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos.