Vila Velha reuniu Gal, Gil, Bethânia e Caetano em início de carreira

Show Nós, Por Exemplo, aconteceu em 1964. Na década de 1990, Vila revelou o Bando de Teatro Olodum

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Publicado em 4 de setembro de 2024 às 21:46

Caetano Veloso no Vila, em 1995
Caetano Veloso no Vila, em 1995 Crédito: Marcelo Tinoco

Sede de espetáculos memoráveis, o Teatro Vila Velha foi palco, logo em seu primeiro mês de existência, de um show histórico: Nós, Por Exemplo. O musical reunia quatro baianos que se tornariam símbolo de uma geração: Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia.

As apresentações, em agosto de 1964, tinham canções como Quarta-feira de Cinzas (Carlos Lyra e Vinicius de Moraes), Corcovado (Tom Jobim), Dora (Dorival Caymmi) e Consolação (Baden Powell e Vinicius de Moraes). Dias depois da estreia, Tom Zé se juntou ao quarteto.

Marcio Meirelles, hoje diretor artístico do Vila, lembra de momentos especiais ali, como os shows Índia e Fa-Tal, de Gal Costa. “Os dois eram ótimos, mas Fa-Tal era mais impactante, de destampar a cabeça”, lembra-se. Marcio garante que foi a todas as apresentações dos dois espetáculos.

O diretor teatral Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Mattos, destaca a primeira peça adulta a que assistiu na vida: Gracias a La Vida, com direção de João Augusto. No elenco, Harildo Deda e Bemvindo Siqueira. Além disso, frequentou o Baile das Atrizes: “Fiquei absolutamente extasiado com o caráter libertário que aquilo significava nos anos 1970. Era um baile pré-carnavalesco, que elegia um rei e uma rainha. Fui até coroado príncipe!”.

O jornalista Marcos Uzel, pesquisador de teatro, lembra-se da peça Um Tal de Dom Quixote: “Espetáculo celebração da história do Vila, lançado em 1998, com o inesquecível Carlos Petrovich no papel do cavaleiro sonhador e Lázaro Ramos brilhando como o seu fiel escudeiro Sancho Pança. E um lema em cena: “quem tem um sonho, não dorme”.

Bando

Além de ser palco de espetáculos memoráveis, o Teatro Vila Velha é também um importante centro formador de artistas. Entre os grupos residentes do Vila, está o Bando de Teatro Olodum, criado em 1990, fruto de uma parceria entre o diretor Marcio Meirelles e o Grupo Cultural Olodum. No Bando, foram revelados atores e atrizes como Luciana Souza, Érico Brás, Edvana Carvalho e Lázaro Ramos.

Marcio, que foi coordenador do Bando até 2012, aponta que não havia, até a década de 1990, atores negros nos palcos da Bahia: “Os negros também não estavam na plateia. Percebíamos que não havia dramaturgia para atores negros. Propus, então, criar o grupo para pesquisar isso tudo”. Na época, Marcio convidou outros artistas experientes para trabalhar com ele, como Chica Carelli, Hebe Alves e Maria Eugenia Millet.

A primeira montagem do Bando foi Essa é Nossa Praia, que estreou em janeiro de 1991 e tinha 22 atores. Ali, a companhia deu os passos iniciais para criar uma dramaturgia própria, com textos escritos por Meirelles a partir de improvisos do elenco. Em 1992, estreou o maior clássico do grupo, Ó Paí Ó, que deu origem a dois filmes e uma série de TV.