Filme conta história de Bob Marley e mostra como ele se tornou estrela

Longa de Reynaldo Marcus Green chega às telonas hoje

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 15 de fevereiro de 2024 às 05:00

 One Love mostra momento em que Bob Marley vira estrela mundial
One Love mostra momento em que Bob Marley vira estrela mundial Crédito: Divulgação

A música de Bob Marley sempre vai ter o poder de arrepiar aqueles que a escutam. Explicando nas palavras do rei do reggae: “Há uma mística natural soprando pelo ar; se você escutar atentamente agora, você ouvirá”. É impossível não se comover ao ouvir na sala de cinema as canções que embalaram gerações e sair contagiado após o fim da sessão. Alcançar a grandeza de Bob Marley em uma obra cinematográfica é uma tarefa impossível, mas o longa Bob Marley: One Love (2024), que estreia nesta quinta-feira (15), traz para as telas uma homenagem bem sucedida ao imenso legado político e artístico dele pela paz e amor na Jamaica e no mundo.

O filme faz um recorte narrativo no auge criativo do músico, no início da década de 1970, e sua participação nos eventos políticos que uniriam a Jamaica, separada pela guerra civil e pobreza extrema. Bob Marley já era um músico muito famoso localmente naquela época, quando, durante um pico de tensão política e violência em Kingston, em 1976, ele sofre um atentado em sua casa, onde foram disparados mais de 80 tiros.

Mesmo sendo ameaçado, decide fazer um último show na capital jamaicana e deixa a ilha para se exilar em Londres, onde discute a religiosidade rastafari e a luta do povo negro na criação do álbum Exodus, que lhe concede fama mundial. Depois desse período de autoexílio, Marley retorna a Kingston em 1978, na condição de astro da cultura pop. Em casa, apresenta o show One Love Peace Concert, no Estádio Nacional da Jamaica, onde fez história ao convidar o primeiro-ministro jamaicano e o líder da oposição da época para selarem a paz no palco.

Performance convicente 

O ator britânico Kingsley Ben-Adir, que já interpretou figuras importantes como Malcolm X (Uma Noite em Miami) e Barack Obama (The Comey Rule), recebeu a responsabilidade de dar vida a Bob Marley.

Em sua performance, o ator incorporou os maneirismos do músico, teve que aprender a língua Patwa jamaicana e até mesmo a cantar, pois, apesar de dublar o rasta em muitos momentos, teve sua voz mesclada com gravações do rei do reggae ao longo do filme.

Bob Marley e Rita Marley em Bob Marley: One Love (2024)
Bob Marley e Rita Marley em Bob Marley: One Love (2024) Crédito: Divulgação

Kingsley afirma que a construção do personagem não teria sido possível sem a presença da família e pessoas próximas a Bob, oferecendo uma perspectiva mais íntima e complexa de sua personalidade.

One Love é dirigido por Reynaldo Marcus Green (King Richard: Criando Campeãs) e tem produção da cantora Rita Marley, viúva de Bob, e do músico Ziggy Marley, um dos filhos do casal, que aprovou a atuação de Kingsley. Ziggy considera o longa como uma oportunidade de propagar a mensagem de Bob para as gerações futuras e destaca como ponto forte da obra a abordagem de diferentes facetas do pai, o que fará com que o público conheça mais seu âmbito pessoal.

Além da narrativa principal, podemos ver em flashbacks momentos da infância do artista no filme que retrata os desafios da pobreza, preconceito e abandono paterno; sua juventude na aproximação com os ritmos dos soundsystems, passando pela formação do grupo The Wailers, nos anos 60, ao lado de Peter Tosh e Bunny Wailer. One Love mostra ainda o início de dois aspectos importantes na biografia de Bob: a religião rastafari e o casamento com Rita, interpretada pela atriz Lashana Lynch.

O filme faz justiça a Rita Marley, que teve um papel de protagonismo na ascensão do cantor, mesmo em momentos de crise com os casos extraconjugais do marido. As cenas do casal são potentes e mostram como Rita guiou o caminho de Bob pelo reggae em um companheirismo que durou até seus momentos finais.

Rita Marley foi a responsável por apresentar ao cantor a fé em Jah, o Rás Tafari, último imperador da Etiópia, e os preceitos definidos por ele para a religião rastafari. Bob levou adiante a ideologia em suas atitudes, nos característicos dreadlocks, no uso da cannabis e nas composições do músico para o álbum Exodus, inspiradas em passagens de livros sobre Selassié e Marcus Garvey, também importante para a religião. Exodus é uma mensagem de repatriação e fé, expressa desde sua primeira frase: “Êxodo: Movimento do povo de Jah!”.

O que começou em Trenchtown, se expandiu pela Europa e ganhou o coração do mundo. O reggae é a herança jamaicana difundida por Bob Marley. E porque não mencionar que impactou os carrinhos de café do Centro de Salvador, o Muzenza, a antiga praça do reggae no Pelourinho e alguns rastafaris que marcaram minha infância.

Em One Love temos um gostinho do processo criativo, das experimentações e da luta de Marley pelas minorias discriminadas com sua música e sua performance imersiva - ele escolhia a canção inicial do show somente com os dois pés no palco. One Love retrata a figura que fez do reggae um canto de identificação e um dos gêneros mais importantes da história.