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Da Redação
Publicado em 16 de maio de 2021 às 17:06
- Atualizado há 2 anos
A atriz Rosamaria Murtinho lamentou a morte da amiga de muitos anos, Eva Wilma, que faleceu na noite de ontem, por conta de complicações de um câncer de ovário. No texto, Rosamaria lembrou do falecido segundo marido de Eva, o ator Carlos Zara, com quem ela foi casada por 23 anos. Zara faleceu em 2002.
“Ei, Vivinha! Lembra daquele almoço que estávamos marcando para depois da pandemia? Mauro e eu íamos levar o vinho e ficaríamos até tarde rindo e recordando dos bons momentos e do Zara. É, não deu tempo e você foi se encontrar com ele antes disso, claro, vocês se encontrariam de uma forma ou de outra”, diz o começo da mensagem.
"Mas sabe de uma coisa? Meu coração e o de todos os brasileiros se enche de orgulho de você, do ser humano lindo que você foi, é e sempre será. De todo legado que deixou com sua arte e sua nobreza, eu parava qualquer coisa que estava fazendo pra te ver na TV e dar aquele sorriso por saber que era exatamente daquele jeitinho que eu conheci quando ainda éramos mocinhas", continou.
Ela encerra assinando por si e também pelo marido, Mauro Mendonça. "Obrigada pela amizade e pelos sorrisos sinceros, não deixe de olhar por nós daí de cima. Da sua Rosinha e Maurão”.
Eva Wilma deixa dois filhos, Vivien e John Herbert, do primeiro casamento, com o ator John Herbert. O velório e o enterro da atriz acontecem em São Paulo, em local não divulgado pela família. A cerimônia será restrita só para o mais íntimos.
Repercussão A morte de Eva Wilma comoveu amigos e colegas de trabalho, que se manifestaram em homenagem à artista em suas redes sociais.
A atriz Lilia Cabral, que contracenou com a "Vivinha" na novela Fina Estampa, em reprise atualmente, relembrou as dicas de atuação que recebia da veterana. "Ela me pegava pelo braço e me direcionava orientando como me posicionar na luz certa. Não me deixava sozinha em nenhuma situação, me contava histórias e sempre queria", escreveu.
O atores Thiago Fragoso e Regiane Alves também celebraram os trabalhos que fizeram ao lado de Eva Wilma. "Tive o prazer de fazer uma novela com Eva. Lembro nitidamente de ouvi-la conversando no camarim e ficar embevecido diante de tamanha vivência e conhecimento da teledramaturgia brasileira. Agradeci naquele momento, por ter o privilégio de ser testemunha", relatou Thiago.
Regiane Alves, em post no Twitter, escreveu: "Que ano mais triste. Hoje perdemos Eva Wilma, uma grande atriz e que muito me inspirava. Sorte a minha ter conseguido trabalhar ao lado dela. Meus sentimentos aos familiares, amigos e fãs."
O autor Walcyr Carrasco lamentou a partida da atriz. "Perde-se uma estrela da maior grandeza. Sem dúvida, uma das artistas mais talentosas do país, que dedicou sua vida à arte", escreveu. "Querida Eva Wilma que a sua luz ilumine nossos palcos pra sempre!", disse Boninho, diretor de gênero de variedades na Rede Globo.
A atriz Beth Goulart, filha de Nicette Bruno, amiga de longa data de Eva Wilma e que faleceu em dezembro de 2020, escreveu: "Uma mulher forte, que construiu uma história de conquistas, lutas e vitórias, uma mulher de opinião, que sempre se posicionou pela justiça e liberdade. O Brasil fica menor sem sua presença e seu brilho."
A bela mistura que produziu a atriz Foi uma bela mistura que produziu Eva Wilma Riefle, atriz que entrou para o imaginário do espectador brasileiro de cinema, teatro e televisão simplesmente como Eva Wilma. Seu pai (Otto Riefe Jr.) era um metalúrgico alemão da região da Floresta Negra que veio para o Brasil, mais exatamente para o Rio de Janeiro, em 1929, aos 19 anos, para trabalhar numa firma de metalurgia. A mãe, Luísa Carp, nasceu em Buenos Aires, filha de judeus ucranianos de Kiev que imigraram para a Argentina.
Estava escrito que os dois se conheceriam em São Paulo, e foi onde Eva Wilma nasceu, em 14 de dezembro de 1933.
Apesar das dificuldades familiares - o pai quase foi preso durante a 2ª Grande Guerra e, na sequência, foi diagnosticado com mal de Parkinson -, recebeu educação esmerada, em escolas tradicionais. Teve aulas de canto, piano e violão com a mestra Inezita Barroso.
A carreira Aos 14 anos, Eva Wilma iniciou-se na carreira artística como bailarina clássica. No Corpo de Balé do Teatro Municipal chamou a atenção do diretor José Renato, que a chamou para integrar a primeira turma dso Teatro de Arena. Participou de espetáculos quer fizeram história - Judas em Sábado de Aleluia, Uma Mulher e Três Palhaços.
Diversificou-se, como mulher e atriz, e fez Boeing-Boeing, O Santo Inquérito, A Megera Domada, Black-Out. Os desafios foram ficando maiores - Um Bonde Chamado Desejo, Pulzt, Esperando Godot, dirigiu Os Rapazes da Banda, depois participou de Quando o Coração Floresce, Queridinha Mamãe, pela qual recebeu o primeiro Molière de Melhor Atriz, e O Manifesto.
No cinema, começou como figurante em Uma Pulga na Balança, na Vera Cruz. Logo estava protagonizando filmes ao lado de Procópio Ferreira - O Homem dos Papagaios e A Sogra. Em 1955, ganhou o primeiro prêmio de cinema por O Craque, de José Carlos Burle. No ano seguinte, a cinebiografia de Francisco Alves, Chico Viola não Morreu, valeu-lhe o prêmio Saci, do Estado. E logo vieram os grandes filmes que pertencem à história - Cidade Ameaçada, de Roberto Farias, e São Paulo S.A., de Luiz Sergio Person.
Em 1953, a TV engatinhava quando Cassiano Gabus Mendes convidou-a para atuar no seriado Namorados de São Paulo, da Tupi, formando dupla com Mário Sérgio. Mudaram o ator e o nome do programa - virou Alô Doçura e Eva Wilma passou a contracenar com John Herbert. Casaram-se, tiveram dois filhos e o programa ficou dez anos no ar, entrando para o Guinness como a série mais longeva da televisão brasileira. Alô Doçura foi um marco.
Naqueles tempos, anos 1950 e 60, não se falava em sitcom, mas todo mundo seguia o casal da ficção, que virou casal da vida real. Com o fim da Tupi, Eva Wilma foi para a Globo. Mais prêmios, muitos prêmios. Eva Wilma ganhou todos. Se você fizer uma pesquisa no Google, é capaz de não acreditar na quantidade de prêmios que ela recebeu - Molière, Imprensa, APCA, Coruja de Ouro, Governador do Estado, Shell etc
E não apenas no País. Recebeu uma homenagem em Cuba em 1966 pela atuação em O Amor Tem Cara de Mulher da TV Tupi; outra homenagem pela atuação no filme A Ilha, de Walter Hugo Khouri, no Festival de Berlim; e no Festival de Roma foi destaque pelo júri popular, no filme de Alberto Pieralisi, O Quinto Poder. Em 1969, ocorreu o episódio talvez mais bizarro da trajetória de Eva Wilma. Ela foi convidada para fazer um teste em Hollywood para o que seria o novo suspense do mestre Alfred Hitchcock. O filme era Topázio, uma história de espionagem, e Eva teve tratamento de estrela ao ser testada para o papel da espiã cubana, que, no final, foi interpretado por uma alemã, Karin Dor A experiência foi importante porque, com outros trabalhos no teatro, mostrou que a doçura estava sendo substituída por uma dimensão mais madura e complexa.
Nem Eva nem Wilma - Simplesmente Vivinha, como no título de um programa em que interpretava a si mesma, em 1975. Vivinha nunca parou de fazer principalmente TV, e novelas, algumas séries. Roda de Fogo, O Direito de Nascer, Plumas e Paetês (explorando sua veia cômica), Ciranda de Pedra, Guerra dos Sexos, Sassaricando, Pedra Sobre Pedra, Anos Rebeldes, Pátria Minha, O Rei do Gado, A Indomada, Os Maias, Fina Estampa, A Grande Família, Verdades Secretas.
Casada por 21 anos (1955/76) com John Herbert, separou-se dele para viver mais 23 anos, de 1979 a 2002, até a morte do segundo marido, Carlos Zara. Socialite, trambiqueira, mulher comum. Eva Wilma, a Vivinha, tudo fez, e com o maior brilho.
Em 1973, interpretou as gêmeas Ruth e Raquel, de Mulheres de Areia, novela de Ivani Ribeiro que fez sucesso nacional e internacional. Finalista para o prêmio de melhor atriz do ano, perdeu para Regina Duarte, por Carinhoso. Quem viu não se esquece jamais. A premiação era ao vivo, apresentada por Sílvio Santos na Globo.
Perante o País inteiro, Regina, a namoradinha do Brasil, chamou Eva Wilma para receber o prêmio, que era dela por direito. O episódio resume a grandeza de uma artista que colegas, público e críticos aprenderam a amar e respeitar.