Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Da Redação
Publicado em 20 de novembro de 2010 às 22:01
- Atualizado há um ano
Redação CORREIO
Glória Maria é um referencial na história da TV brasileira. Foi a primeira repórter negra da televisão e colecionou conquistas até chegar ao comando do "Fantástico", principal programa jornalístico da TV Globo. No Dia da Consciência Negra, em entrevista ao EGO, a jornalista relembra sua trajetória de luta e conta como venceu o preconceito com muito trabalho.
Ao ser questionada se já sofreu muita discriminação, Glória afirma que sim, mas evita falar sobre episódios específicos, como a vez em que foi barrada na entrada de um hotel de luxo do Rio, na década de 70, e teve grande repercussão na época. Ela também relembra que foi uma das primeiras pessoas a usar a lei contra o racismo para se defender.
Qual a importância da Semana da Consciência Negra?Glória Maria: A consciência de ser negro é uma coisa que temos que ter todos os dias, 365 dias ao ano. Não é só em um dia. Mas a data é importante para refletir, já que temos uma vida cada vez mais corrida e temos que ter um tempo para parar e pensar no que somos e por que estamos aqui. A gente tem que discutir, tocar na ferida. Tento passar essa consciência para as minhas filhas, para mostrar quem elas são.
Você acha que a sociedade está evoluindo quando ao preconceito?Glória Maria: As políticas existem, mas preconceito não se muda com lei. A lei só pode intimidar, mas não muda o sentimento. Também não podemos roubar e matar, mas tem várias pessoas que fazem isso. Todos sabem que o preconceito é um sentimento mesquinho, mas não deixam de sentir por isso. Ele continua como sempre foi: velado. Só que as pessoas hoje em dia tem mais pudor, medo de serem recriminadas. Está só mais disfarçado. Apesar de tudo, é importante que as leis existam.
O que pode ser feito para melhorar essa situação?Glória Maria: A situação melhora com cultura, educação e conscientização para todos. Mas, na verdade, só quem pode mudar isso é o próprio negro, que tem que saber se modificar internamente. Tem que se dar o valor e não se olhar com pena. Nem usar a cor como justificativa para as suas falhas. A conscientização tem que começar na gente. Temos que saber nosso valor e nosso poder.
Você já sofreu preconceito?Glória Maria: Já sofri várias vezes e sofro até hoje. A diferença é que as pessoas hoje tem mais cuidado porque sou uma pessoa pública.
Você acha que teve um caminho mais árduo por causa da cor?Glória Maria: Fui a primeira repórter negra da televisão. A primeira a apresentar o jornal das sete, a primeira no comando do 'Fantástico'... Mas tive que enfrentar muitas barreiras e obstáculos para conseguir as coisas. Tudo é mais difícil para um negro. Você tem que provar 100 vezes que você é o melhor. É cansativo, duro, doloroso. Se você não tiver uma força extraordinária, não consegue passar por isso. Mas eu vim ao mundo para lutar. Sou uma guerreira!
Como se sente como um referencial para outras pessoas?Glória Maria: É bacana! Cresci ouvindo minha avó contar as histórias da nossa família - meus parentes foram laçados nas matas de Minas. Fui educada para ser livre, para não colocarem algemas em mim de novo. São esses valores que eu tento passar para as pessoas que me admiram, para as minhas filhas. A liberdade se ser, poder, conquistar... Não podemos desanimar nem ceder. Deixar que nos derrubem.