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Um espetáculo que desnuda o racismo: (NU) Madrugada me projeta chega ao MAFRO nesta sexta

Novo espetáculo dirigido por Leno Sacramento explora o constrangimento

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 5 de julho de 2024 às 10:29

Espetáculo-instalação (NU) Madrugada me Protejaeja
Espetáculo-instalação (NU) Madrugada me Protejaeja Crédito: Israel Fagundes

O espetáculo-instalação (NU) Madrugada me Proteja traz para cena o constrangimento de se despir diante da sociedade, de estar nu, sujeito aos questionamentos e olhares que reprimem e expõem a pele preta. A peça é o novo projeto da Cia Encruzilhada, com texto de Cuti e Leno Sacramento, em colaboração com o elenco. A estreia acontece hoje (05) no Museu Afro-Brasileiro Ufba, no Pelourinho. O projeto segue em cartaz no mês de julho, às sextas, 19h, e aos sábados, 17h.

O diretor Leno Sacramento explica que a ideia inicial da peça surge com o monólogo Madrugada me Proteja, do escritor paulista Cuti, que sempre lhe inquietou por ser um texto tenso e que provocava grande constrangimento. “Vi que há muitas outras situações que levam você a tirar a roupa, inclusive simbolicamente, e ficar constrangido. Sempre quis fazer esse texto [do Cuti] e decidi relacioná-lo a mais duas histórias. A primeira é de uma mulher que vai ao mercado e é perseguida por um segurança, e a outra é de um rapaz que vai ao banco e é barrado na porta o tempo todo”, conta.

Leno pontua que a conexão das histórias está na sincronia temporal em que acontecem – ao mesmo tempo e com fins iguais – e no tema principal: o constrangimento através do nu, que se impõe nas vivências negras cotidianas: “Eu acordo, escovo os dentes, saio para resolver problemas, visitar pessoas, me divertir. E aí vem o constrangimento, a pessoa que te olha julgando e tira a sua roupa naquele momento, que te agride moralmente, que não deixa você entrar no banco. São coisas que vão tirando a nossa roupa”, pondera o diretor. 

O diretor destaca ainda a importância dos atores na construção e montagem do texto, compartilhando suas proximidades pessoais com o debate em cena enquanto um grupo de artistas negros. Um deles é o ator Edy Firenzza, que partilha da mesma impressão: “Dava para perceber e sentir a coletividade, a unidade naquele local, um trabalho que irá falar dos nossos e para os nossos. A minha motivação é a volta ao teatro, um teatro que eu acredito, que é potente e representativo”, declara.

Para Edy, seu maior desafio durante a preparação de Madrugada me Proteja foi a construção da carga emocional necessária para a interpretação de seu personagem. Porém, ele ressalta que a direção de Leno e o laço com o elenco tornaram o processo dinâmico e confortável, mesmo tratando-se de um tema sensível. “Indireta ou diretamente, o público vai se sentir inserido no contexto. Minha expectativa é que eles saiam do espetáculo conscientes e empáticos, entendendo que essa é uma realidade que acontece com muitos; não podemos parar de falar”, enfatiza o ator.

Espetáculo instalação

Pela primeira vez, a Cia pensou em um espetáculo para ser completamente expositivo, compondo uma instalação cênica no Mafro. A parceria com o museu inaugura uma nova perspectiva para o local, que passará a receber projetos cênicos com temáticas ligadas à negritude e para a Cia que pensa em levar o espetáculo a outros museus. “Essa união permite combinar formas diferentes de contar histórias no mesmo lugar. Vida longa para essa junção, esse casamento de teatro e museu”, celebra Leno.

Uma peça que almeja, mais do que tudo, promover a reflexão e o debate. Celebrando com o espetáculo os sete anos de criação da Cia Encruzilhada, o diretor vê em Madrugada me Proteja a continuidade de um trabalho importante para discutir o racismo e suas consequências, principalmente no que tange ao genocídio da população negra em Salvador e no Brasil.

“A ideia é incomodar. Enquanto eles não pararem de nos matar, a gente não vai parar. Eu queria fazer monólogos de humor, mas não consigo fazer isso ao chegar na minha comunidade e ver um corpo preto estirado no chão. São muitos desafios nesses sete anos: patrocínio, apoio, e tem uma hora que nós mesmos cansamos. Mas resistimos, não paramos e seguimos. E a recompensa é ver a mudança, mesmo que pequena. Ver pessoas se munindo dessa cultura, se informando sobre o que devem fazer e como”, finaliza Leno.

Serviço: O espetáculo-instalação (NU) Madrugada me Proteja I Estreia hoje (05) , às 19h, e segue em cartaz no mês de julho, às sextas, 19h, e aos sábados, 17h, no Mafro, Pelourinho I Ingressos: R$30/15 (inteira e meia) na plataforma Sympla.