Sued Nunes canta as ruas em Segunda-Feira

Cantora baiana lança seu segundo álbum três anos após estreia; turnê de disco terá show especial em Salvador

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 14 de outubro de 2024 às 09:01

Sued Nunes canta as ruas em Segunda-Feira
Sued Nunes canta as ruas em Segunda-Feira Crédito: Divulgação/Thiago Rosariie

Segunda-feira se tornou sinônimo de confiança, musicalidade e identidade para Sued Nunes. Após o sucesso de Travessia (2021), a cantora baiana lança seu segundo álbum de estúdio, nomeado em referência ao primeiro dia da semana. Inspirado nas andanças e vivências artísticas de Sued pelo Brasil, e prestando homenagem ao orixá Exu, Segunda-feira traz em suas dez faixas a ancestralidade e as influências do Recôncavo Baiano ainda mais fortalecidas, mescladas com novos gêneros musicais e a confiança digna do "dono das ruas", como Exu é conhecido.

“Sinto que estou mais segura de quem eu sou. Antigamente, eu fazia as músicas, mas ficava com aquelas dúvidas, sabe? Principalmente na hora de lançar. Hoje, eu consigo olhar para mim com uma certa segurança, reconhecer que sou uma potência. É aquilo de não negar o que você tem de melhor e de conseguir apresentar o seu 'eu' ao público, sem esperar uma aceitação”, afirma a cantora.

Sued conta que Segunda-feira nasce de um processo difícil, após três anos de trabalho em Travessia e o sucesso da canção Povoada, com mais de dez milhões de plays no Spotify. “Fiquei cinco meses sem conseguir escrever, porque me cobrava muito. Eu pensava que tinha que fazer outro hit ou que as pessoas iriam querer isso”, revela. Quando entendeu que não precisava repetir o movimento e muito menos fazer um álbum “melhor” que o primeiro, os caminhos se abriram para o seu segundo trabalho. “Eu estava contemplada com aquilo que eu era em Travessia e Segunda-feira é exatamente o que eu sou agora”, compartilha.

Capa do álbum Segunda-Feira
Capa do álbum Segunda-Feira Crédito: Divulgação

Novas ruas

Sued explica que as composições de Segunda-feira são inspiradas nos shows e viagens que realizou desde o final da pandemia, saindo de Cachoeira, onde residia na época, e ganhando várias capitais do Brasil. “Vivenciei outras realidades, outras ruas que não eram as minhas, e comecei a escrever. Essas ruas me pediam muita sagacidade, atenção e maturidade para lidar com esse novo lugar”, diz.

Original de Sapeaçu, no Recôncavo Baiano, a cantora diz que as referências sonoras do álbum também foram influenciadas por essas idas e vindas: “Eu sempre deixo marcadas minhas origens na música: Os Tincoãs, Dona Dalva do Samba, Seu Mateus Aleluia... Mas, hoje, eu tenho vivenciado muito do eletrônico, escuto as meninas da minha geração — Melly, Raquel Reis, Iuna Falcão — e a galera do movimento do rap, como BK, TZ da Coronel. Essa junção me fez testar instrumentos, conservando sempre a percussão, o violão, mas saindo da zona de conforto e cantando mais com os beats”, reflete.

O encontro do moderno com o ancestral é exemplificado em duas faixas exaltadas por Sued: Nem Tenta, em parceria com o grupo nigeriano Kabusa Oriental Choir, e Se Essa Rua Fosse Minha, com a sambadeira de Cachoeira, Dona Dalva.

O álbum também foi inspirado na figura de Exu, orixá associado à comunicação, às ruas e ao dia da correria, a segunda-feira. Sued explica que, ao refletir sobre a conexão entre sua vivência nas ruas e sua religiosidade no Candomblé, percebeu que falar do cotidiano urbano é também uma forma de reverenciar Exu. “Falar de cotidiano, falar sobre o que eu vivo na rua, é falar sobre Exu, mesmo sem falar a palavra dele”, diz Sued, ressaltando que, embora o orixá seja citado explicitamente apenas na primeira faixa Eixo, sua presença permeia todo o álbum em seus toques e letras.

Exu

“O Brasil é o país que mais demoniza Exu. As pessoas até aceitam algumas coisas do candomblé, querem pular as ondinhas, fazer Dois de Fevereiro, mas na hora de falar de Exu, se repulsam. Existe um desafio muito grande de carregar essa bandeira. Quando a gente fala sobre intolerância religiosa, a gente tá falando sobre racismo. Mas eu não me privo ao que as pessoas acham que devo falar”, garante Sued.

No dia 1º de novembro, começa uma nova etapa para Segunda-feira, com o início da turnê de lançamento que pretende rodar o Brasil em 2025. O show de abertura será no Pelourinho, em Salvador: “Pretendo ser o mais fiel possível ao disco. Todos os elementos — cenário, roupas, falas — irão refletir essa ‘era Segunda-feira’. É um momento muito esperado por mim, um sonho que está na palma das minhas mãos, e eu quero muito dividir isso com o público, saber quais são as músicas que fazem vibrar, o que eles estão gostando. Estou muito ansiosa mesmo”, finaliza.