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Roberto Midlej
Publicado em 9 de outubro de 2024 às 06:00
É bom que o leitor saiba logo: o filme Maníaco do Parque, produção original do Prime Video que estreia no próximo dia 18 no streaming, tem cenas muito chocantes. Embora possa ser classificado como um thriller psicológico, há momentos de violência explícita durante os ataques que o personagem-título realiza contra suas vítimas. Sangue, cicatrizes, socos… tudo isso é mostrado, ainda que não seja de forma gratuita.
Mas o destaque do filme dirigido por Maurício Eça - o mesmo de A Menina que Matou os Pais, sobre Suzane von Richthofen - é mesmo Silvero Pereira, que faz o papel de Francisco de Assis Pereira, o psicopata que em 1998 se tornou conhecido no Brasil por ter assassinado sete mulheres e ter tentado matar outras nove, no Parque do Estado, na zona metropolitana da capital paulista. Silvero assusta e angustia o espectador, principalmente porque, como o próprio ator defende, criou três personalidades distintas para seu personagem.
“Tem o Francisco de Assis, o Chico Estrela e o Maníaco do Parque”, explica. O Chico Estrela a quem se refere é a faceta “boa praça” do Maníaco, que tinha esse apelido dentro da turma de amigos patinadores e era admirado por suas habilidades sobre as rodas. “Nessas três personalidades, a gente tem um cara que é filho e motoboy disciplinado no trabalho; um cara admirado pelos parceiros de patinação e um cara extremamente violento e monstruoso na sociedade”. Mas, afinal, o Maníaco era um monstro?
Silvero Pereira
ator que interpreta o Maníaco do ParqueAinda que o filme tenha sido construído para dar protagonismo a uma jornalista que realiza reportagens sobre o caso, o destaque acaba sendo mesmo o personagem de Silvero. É impossível o espectador não voltar suas atenções para ele. A jornalista Elena, interpretada por Giovanna Grigio, é criação do roteirista L.G. Bayão e, segundo o diretor Maurício Eça, foi criada para mostrar o ponto de vista de uma mulher sobre o caso.
“É uma história com o olhar de hoje, a partir do ponto de vista feminino, uma mulher que vivia numa redação machista, tóxica, vítima de preconceitos e precisou lutar contra esses caras, usando inicialmente as armas deles. Mas depois ela entende que o que fazia sentido na história era contar quem eram as mulheres, as vítimas. Ela não queria dar voz a esse cara [Francisco]”, explica Maurício.
Giovanna é a favor desse ponto de vista feminino: “Para além da história super pesada do Maníaco, estamos lidando com o dia a dia de uma mulher num jornal onde ela trabalha. Então, é muita misoginia o tempo todo. As pessoas nunca acreditam no que ela fala… não dão credibilidade, nem confiança”.
Para realizar o longa-metragem, foi realizada uma pesquisa sobre o caso do Maníaco, coordenada por Thais Nunes, que rendeu também uma série documental no Prime, com data de estreia ainda a ser divulgada. A equipe teve acesso aos 64 volumes do processo, que terminou com a condenação do motoboy a mais de 260 anos de prisão.
Thais, que dirige a série, disse que entrou em contato com vítimas que sobreviveram aos ataques de Francisco: “Estava muito claro pra gente o quanto a mídia maltratou aquelas pessoas e para mim era muito importante não trazer para elas uma nova experiência ruim. Foi mais de um ano esse período entre me aproximar das vítimas e conquistar a confiança delas. Precisávamos mostrar a elas que não queríamos colocar o Francisco no centro da narrativa”.
É louvável a iniciativa de dar voz às vítimas, em contraponto à fama que o assassino ganhou. Hoje, certamente, a mídia faria uma cobertura do caso diferente daquela época. Mas, apesar do esforço do roteirista Bayão em dar destaque às mulheres, os melhores momentos do filme são mesmo aqueles em que Silvero está em cena, com seu olhar terrorífico.