Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Luiza Gonçalves
Publicado em 4 de abril de 2024 às 05:00
Fãs de mistério, suspense e ambiguidade moral já conhecem o personagem Tom Ripley do livro de Patricia Highsmith, lançado em 1955, que rendeu filme homônimo em 1999, estrelado por Jude Law, Matt Damon e Gwyneth Paltrow, com direção de Anthony Minghella (O Paciente Inglês). >
Agora, o sociopata volta em novo corpo e tom - bem mais sombrio - na série Ripley, que estreia hoje na Netflix. Mas, não se trata de um remake; a trama bebe na ambientação dos três livros que retratam o personagem. Nos oito episódios já disponíveis, a história do vigarista Ripley ganha mais sobriedade, tensão, conflitos e provoca uma imersão numa Itália de atmosfera noir, meticulosamente pensada para transportar o público aos anos de 1960.>
Tom Ripley (agora interpretado pelo talentoso Andrew Scott) é um trambiqueiro de Nova York que vive de pequenos golpes até ser contratado por um homem rico para viajar até a Itália e convencer seu filho, Dickie Greenleaf (Johnny Flynn) a voltar para casa. No Velho Continente, consegue se aproximar do bon vivant e sua namorada Marge (Dakota Fanning), desenvolvendo uma obsessão com acento homoerótico pelo jovem, a ponto de roubar sua identidade. >
A minissérie é assinada por Steven Zaillian, roteirista de A Lista de Schindler (1993) e O Irlandês (2019). >
Ripley mergulha fundo no thriller psicológico a partir dos trejeitos da atuação de Andrew Scott e da tensão presente nas cenas de interação dele com as demais personagens. Distante da interpretação original de Matt Damon, vemos um Tom Ripley mais velho, sério, malicioso, de falas cínicas e uma atitude que provoca desconforto constante. >
Cenas lentas que acompanham o deslocamento das personagens, close nos detalhes cenográficos, planos abertos e troca de olhares incessantes escalonam ainda mais a atmosfera.>
A Marge de Dakota Fanning também surge mais sóbria, combativa e desconfiada das intenções de Tom. Um detalhe interessante trazido para a série é a presença da arte na vida dos personagens e a relação deles com o mundo ao redor. Dickie é um aspirante a pintor, Marge fotógrafa e escritora e Freddie (Eliot Sumner) dramaturgo. >
Além disso, não se pode deixar de destacar dois pontos estéticos fundamentais para a dramaticidade, contexto e impacto que a obra causa. O primeiro é a locação das gravações em diversos pontos da Itália, destacando elementos cotidianos culturais da época. O segundo é a escolha pelo preto e branco na narrativa, que, além da ambiência de uma época, parece trazer uma nitidez maior aos detalhes e à expressividade dos atores.>