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'Senna', da Netflix, leva o espectador para dentro de um carro de F1

Série se destaca pelo desempenho de Gabriel Leone e espetaculares cenas de corrida

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 27 de novembro de 2024 às 06:29

Gabriel Leone vive Senna
Gabriel Leone vive Senna Crédito: Alan Roskyn/Netflix

Referir-se a qualquer ser humano como um herói é um tremendo exagero, mesmo com todas as licenças que façamos. E esse talvez seja o maior erro da Netflix na minissérie Senna, sobre aquele que, provavelmente, é o maior ídolo nacional do esporte, talvez superando até Pelé, inclusive por causa das circunstâncias trágicas de sua morte, num desastre fatal no GP de San Marino, na Itália, em 1º de maio de 1994, quando o piloto tinha 34 anos.

Logo na abertura do primeiro episódio, um texto deixa claro o tratamento que a produção dará a Ayrton Senna: “Décadas depois de sua morte, para milhões de pessoas no mundo todo, ele continua sendo um herói”. Tem-se a impressão que esse título de “herói” faz parte da estratégia de lançamento Netflix, afinal o próprio Gabriel Leone, que interpreta o piloto, se referiu ao esportista dessa forma, numa entrevista coletiva de que o CORREIO participou.

“Quando pensamos em Senna, pensamos imediatamente no piloto: vem a imagem dele, de macacão e de capacete, troféu, vitória… na série, contamos como ele virou o ídolo que virou, como virou o herói que ele virou”, diz o ator, que mais uma vez prova ser um dos melhores e mais versáteis atores brasileiros de sua geração.

Gabriel tem outra virtude: se entrega fisicamente aos papéis que interpreta. Já foi um adolescente caricato em Eduardo e Mônica, foi um bandido de classe média na série Dom e agora está incrivelmente parecido com Senna, embora longe de fazer uma imitação. Aliás, havia ordens explícitas da direção para não imitar o piloto, segundo o ator. 

"Um momento em que comecei a encontrar foi quando eu comecei a prestar atenção nos olhos dele, o olhar do Ayrton sempre foi muito expressivo, sempre revelou e falou muito a respeito dele"

Gabriel Leone

ator que interpreta Senna

E o ator tem razão: isso fica muito claro quando o personagem, mesmo usando capacete, revela uma impressionante expressividade no olhar. Mérito novamente para o ator, que, tal qual Senna, parece se dedicar obsessivamente a seu ofício. “Não ia adiantar nada estar muito parecido com ele e você não se conectar com a história dele, com o personagem Ayrton na série, então, para mim teve um mergulho, um estudo, uma pesquisa muito grande em busca dessa essência”.

A série reconstrói a carreira de Senna de maneira cronológica, sem se arriscar na forma: começa na infância dele, desde os tempos do kart; passa pelo início profissional nas categorias inferiores de automobilismo; o casamento pouco conhecido com Lilian Vasconcellos; a rivalidade histórica com Prost; os relacionamentos com Xuxa e Adriane Galisteu e muitas passagens conhecidas da trajetória do ídolo.

Mesmo com o tratamento de herói dado a Senna, os méritos da série superam de longe esse problema. E apesar do esforço para construir essa imagem, a produção revela as imperfeições do ídolo como ser humano. Fica claro que o casamento para ele nunca foi uma prioridade: Lilian largou a vida no Brasil para viver com ele na Inglaterra, quando o piloto tinha apenas 20 anos e estava longe de ter estabilidade financeira e profissional. Mas aquela relação nunca pareceu ser prioridade para ele.

As intrigas nos bastidores do automobilismo também deixam claro que Senna não era santo: não era muito fiel às equipes onde trabalhou; procurava encrenca com donos dos times e até agarrava colegas de profissão pelo colarinho quando perdia a paciência. A histórica rivalidade com Prost está muito bem retratada, com direito até aos momentos de tensão nas pistas, em grandes prêmios decisivos, como no GP do Japão, em 1989.

A reconstituição das corridas talvez seja o ápice da série dirigida por Vicente Amorim e Júlia Rezende. E isso também graças à espetacular montagem de Vicente Kubrusly, que levam o espectador para dentro de um carro de F1. Destaque ainda para o excepcional som, que dá ainda mais veracidade às corridas: o ronco do motor, a troca de marchas, o barulho da ultrapassagem… tudo isso seria ainda mais espetacular se a série estivesse no cinema.

Sim, há momentos novelescos, piegas e ufanistas na série, mas tudo isso é compreensível e não apaga o brilho da produção. Afinal, a história de Senna, especialmente por seu final trágico, dificilmente permitiria escapar dessas escorregadas.