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Romance gay estrelado por Pedro Pascal e Ethan Hawke chega aos cinemas

Filme de Pedro Almodóvar, Estranha Forma de Vida estreou no Festival de Cannes

  • D
  • Da Redação

Publicado em 14 de setembro de 2023 às 10:28

Pedro Pascal e Ethan Hawke em Strange Way of Life
Pedro Pascal e Ethan Hawke em Estranha Forma de Vida Crédito: divulgação

Um dos longas mais comentados no Festival de Cannes deste ano finalmente estreia nas salas de cinema pelo Brasil: Estranha Forma de Vida, longa de Pedro Almodóvar protagonizado por Pedro Pascal e Ethan Hawke.

Veja o trailer de Estranha Forma de Vida:

Com Caetano Veloso na trilha sonora, o western dirigido por Pedro Almodóvar acompanha Silva (Pedro Pascal), que cavalga pelo deserto para visitar seu velho amigo Jake (Ethan Hawke), após vinte e cinco anos afastados. Depois de uma tarde de intimidade compartilhada, reconciliação e lembranças, no dia seguinte: a revelação de um crime local que sugere que a conexão entre os dois homens vai além de um encontro casual.

A trama é inspirada na história de amor entre dois cowboys escrita por Annie Proulx e publicada em 1997 na revista New Yorker. Originalmente, o romance gerou o excelente O Segredo de Brokeback Mountain, que deu o Oscar de melhor direção para o cineasta Ang Lee.

Ethan Hawke, Pedro Almodóvar e Pedro Pascal
Ethan Hawke, Pedro Almodóvar e Pedro Pascal Crédito: divulgação

Ainda que volte aos mesmos elementos do filme que Pedro Almodóvar cogitou dirigir na época, Estranha Forma de Vida estreia como uma obra nova, que não tem nada de remake e não se classifica como adaptação do conto de Proulx ou do longa de Lee.

A história, que dura 31 minutos, foca no vaqueiro Silva (Pascal) e no xerife Jake (Hawke), homens de meia-idade unidos pelo passado. Eles viveram amor tórrido 25 anos atrás, no México, quando ambo eram pistoleiros de aluguel. Se separaram, mas nunca esqueceram um do outro. Passadas quase três décadas, a dupla se reencontra quando Silva atravessa o deserto para ver Jake. Diz que está procurando um médico para curar uma terrível dor nas costas – um trocadilho bem-humorado em inglês como "broke back".

Como cinéfilo, Pedro Almodóvar queria fazer um western. "É um gênero que, além de ser americano, é absolutamente masculino. Há dezenas de obras-primas, mas para mim há uma zona inexplorada, que é o desejo entre dois homens, sendo um gênero cheio de masculinidades", disse o cineasta espanhol em entrevista com a participação do Estadão. "Eu não estava inventando nada, mas podia falar de um aspecto dos personagens que até agora não vi em nenhum faroeste."

O único western que tem amor entre homens é O Segredo de Brokeback Mountain. Mas o cineasta faz uma distinção: no filme de Ang Lee, os personagens interpretados por Heath Ledger e Jake Gyllenhaal são pastores: "Não são caubóis diretamente, pistoleiros. Então peguei um tema pouco tratado para trata-lo à minha maneira, sobre dois antigos caubóis que estão na meia-idade e se reencontram, recordando uma aventura vivida há 25 anos. E vemos como eles reagem diante de sua própria sexualidade e os interesses que cada um tem nesse momento, que são muito distantes de quando são muito jovens."

Almodóvar, que no começo de sua carreira filmava cenas de sexo explícitas, agora aborda o desejo de outra maneira. "Em vez de desnudar os corpos, preferi desnudar o olhar e as palavras dos atores para conseguir o mesmo efeito", disse. "As palavras desnudas são tão eróticas e sensuais como os corpos desnudos. Para mim parecia mais interessante, dramaticamente, ver a reação dos dois personagens depois dessa noite de sexo e álcool."

O diretor acha que nunca um faroeste teve uma frase como: "Estranho destino, o nosso. Sua cunhada teve de morrer para que nos encontremos juntos na mesma cama". "Para mim era mais importante esses textos do que mostrar os corpos dos atores."

Jake tem dificuldades de lidar com o reencontro, que tem uma motivação outra - o xerife está atrás do filho de Silva, que por sua vez quer protegê-lo. "Se Jake pudesse, ele diria não, não fizemos nada, se conseguisse negar, negaria. Sua atitude é muito masculina em relação ao desejo homossexual que aconteceria quando se perde o controle. Mas isso não é certo, ocorre porque o desejo está dentro de você."

Do fado à tela

O título, aliás, veio de um fado de Amalia Rodríguez, mas o diretor preferiu usar uma versão de Caetano Veloso, seu antigo amigo e parceiro. "É muito bonito e estabelece a melancolia da história que vou contar", disse.

Estranha Forma de Vida é o segundo curta-metragem de Almodóvar em três anos - em 2020, ele fez A Voz Humana, com Tilda Swinton. "É um dos caprichos que me permiti, porque me sinto mais ligeiro nesse formato", disse.

Ele tem vontade de fazer um terceiro curta, uma espécie de trilogia sobre velhos amantes. Ainda assim, ele chegou a escrever uma continuação para Estranha Forma de Vida, mas não sabe se vai adiante com o projeto.

Liberdade para criar

Almodóvar tem dois roteiros prontos, um em espanhol e outro em inglês. "Sou muito trabalhador, mas a vida me surpreenderá. Espero que me surpreenda para bem", disse. "Quando escrevo sou a pessoa mais livre do mundo. Essa liberdade não tenho tanto quando vivo. Na minha vida, penso muito mais nas coisas e não sou tão arrojado, não sou tão valente como quando eu escrevo. Quando eu escrevo a história é que manda, e às vezes preciso escrever coisas que me arranham por dentro, mas se o roteiro pede, eu vou em frente."

Ele confessa que fala muito de si mesmo de maneira indireta em todos os seus filmes. "Não é que tudo seja autobiográfico, mas eu vivi quase todas as épocas que aparecem em meus filmes." Sua maior preocupação é fazer mal às pessoas que o rodeiam. "Porque de alguma maneira há elementos inspirados nelas. Não quero ferir essas pessoas, mas também na hora de escrever necessito dessa liberdade."