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Riachão ganha álbum póstumo de inéditas e site com acervo do sambista

Onde Eu Cheguei, Está Chegado chega nesta sexta-feira (24) nas plataformas de streaming

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 12:40

Riachão ganha álbum póstumo de inéditas e site com todo o acervo do sambista
Riachão ganha álbum póstumo de inéditas e site com todo o acervo do sambista Crédito: Divulgação/Antonio Brasiliano

Riachão é um retrato fiel da Bahia. Guardião charmoso do bairro do Garcia, o malandro Clementino Rodrigues foi eternizado pela espontaneidade, alegria e samba na ponta da língua e do pé. Ao longo de mais de 60 anos de carreira, foram cerca de 500 composições, diversas parcerias, shows e agora, um projeto de memória em homenagem ao seu legado, com o lançamento de seu quinto disco de estúdio, Onde Eu Cheguei, Está Chegado, nesta sexta-feira (24). O trabalho póstumo apresenta o registro de 10 composições até então não conhecidas pelo público na voz do Riachão, com convidados que partilham o amor e a admiração pelo gênero e pelo ícone baiano do samba.

“Uma pessoa só morre quando ela é esquecidam e a gente relembrar o trabalho de Riachão é deixar ele vivo, presente nas nossas vidas e no nosso dia a dia”, afirma Paulinho Timor. O sambista e produtor musical acompanhou por anos o malandro, encantado pelo artista e sua musicalidade, e esteve presente na produção do álbum Se Deus Quiser Eu Vou Chegar aos 100, juntamente com o músico Caê Rolfsen.

Infelizmente, Riachão faleceu em 2020, aos 98 anos, o que parecia impedir o seguimento do trabalho. Porém, o projeto se ressignificou, tendo no disco uma oportunidade para celebrar seu legado e perpetuá-lo em seu jeito marcante de ser. “Mudamos o nome para uma frase da música Camisa Molhada, feita na década de 70, em que ele diz: ‘Onde eu cheguei, está chegado’. Realmente, onde Riachão chegava, ele chegava com alegria, propriedade, samba no coração e com aquela vitalidade de um grande artista, um griot da cultura popular”, reflete Timor.

Segundo o produtor, o disco deixaria Riachão felicíssimo, pois conserva sua essência no samba percussivo, com coros e sopros, principalmente trombone, tocado por Fred Dantas, que trabalhou com o sambista por 50 anos. Entretanto, o álbum traz elementos novos, como o samba de roda na faixa Samba Quente, estilo até então ausente na discografia de Riachão e que reverencia suas origens familiares no Recôncavo; a guitarra baiana de Roberto Barreto na música Sou da Bahia e o samba sampleado em Saudade.

Onde Eu Cheguei, Está Chegado possui quatro músicas na voz de Riachão, gravadas antes de sua morte, e é permeado nessas e nas demais 6 faixas por um encontro geracional de sambistas, admiradores e parceiros do cantor, como Martinho da Vila, Teresa Cristina, Pedro Miranda, Criolo, Roberto Mendes, Josyara, Enio Bernardes, Juliana Ribeiro, Fred, Nega Duda e Clarindo Silva.

Entre as faixas, destaca-se Tintin, homenagem à mãe do artista, que ganhou uma dimensão ainda mais familiar com o feat de seu neto, o cantor de samba Taian. “O que eu achei legal nesse projeto é como todo mundo tinha um sentimento com Riachão, uma história particular com ele, de vida, de aprendizado, de ensinamento, foi muito emocionante. Me lembro de, em muitos dias de gravação, gente chorando copiosamente, de uma mistura de alegria com saudade, todo mundo muito entregue, feliz e presente”, resume Paulinho.

Capa Onde eu cheguei, está chegado
Capa Onde eu cheguei, está chegado Crédito: Divulgação

Acervo

Junto com o disco, entra no ar um site (www.riachaosambista.com.br) com acervo de fotografias, reportagens, discos, fonogramas e documentos audiovisuais que apresentam a vida e a obra do sambista ao longo de mais de seis décadas. A pesquisa e o texto foram feitos pelo jornalista André Carvalho. Pesquisador de samba, o paulista viveu em Salvador por quatro anos, quando pôde se aprofundar no contato com os mestres do samba baiano Edil Pacheco, Nelson Rufino, Regis de Itapoan e o próprio Riachão.

“Tive o prazer de conhecer Riachão nos dois últimos anos de sua vida. Tive a honra de estar no aniversário dele, fiz duas grandes entrevistas na casa dele, fiz programas sobre ele, algumas reportagens para a imprensa e o roteiro do curta de animação Riachão, O Último Malandro”, relembra. Por causa disso, Carvalho foi convidado por Paulinho Timor a integrar o projeto na parte documental.

Além dos conteúdo já citado, o site abriga o novo álbum, com sua ficha técnica, comentários das músicas e três mini documentários que foram produzidos sobre o projeto. “O site integra um projeto, mas também é um repositório da obra do Riachão. Vamos ter ali o material de fácil acesso que vai perpetuar a obra dele, preservá-la. É muito importante que ele tenha esse devido reconhecimento”, defende André.

*Com orientação da editora Doris Miranda