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Roberto Midlej
Publicado em 9 de março de 2025 às 07:54
Aos 34 anos, o carioca Raphael Montes já espalhou suas criações nas mais diversas linguagens artísticas e atingiu reconhecimento e popularidade em todas elas: começou na literatura, escrevendo contos para diversos veículos, incluindo a finada revista masculina Playboy; lançou diversos romances, tendo estreado com Suicidas; escreveu o roteiro de Uma Família Feliz para o cinema; teve livros adaptados para o teatro e até apresentou um programa de TV. >
Agora, Raphael é o responsável por uma novela que se tornou grande sucesso do streaming: Beleza Fatal, do serviço Max. Nesta segunda-feira (10), a atração chega à TV aberta, na Band. No streaming, a trama será encerrada no próximo dia 17. Admirador dos autores veteranos que dominaram a TV especialmente entre os anos 1980 e 1990, Raphael diz que busca, em sua atual obra, juntar o clássico com o novo: “Beleza Fatal é uma novela clássica, que homenageia de maneira muito evidente esses autores clássicos de novelas clássicas, como Vale Tudo, A Próxima Vítima, Celebridade, Laços de Família, Mulheres Apaixonadas, A Indomada…”, diz, citando obras de autores como Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Manoel Carlos.>
Dos elementos da novela clássica, Raphael trouxe a velha fórmula de mocinha versus vilã. Camila Queiroz interpreta Sofia, que, quando criança, viu a mãe, Cléo, ser presa e morta injustamente por culpa de sua tia Lola (Camila Pitanga), uma mulher ambiciosa e sem escrúpulos. Já adulta, a mocinha traça seu plano de vingança, para destruir Lola e todos que lhe fizeram mal.>
Frescor>
Mas há também elementos da vida contemporânea, que Raphael diz ter inserido na trama: “Beleza Fatal também tem um certo frescor por eu ser um autor de 34 anos. Então, tem uma coisa de redes sociais, uma provocação a esse mundo de aparências, dos stories, de como você se porta publicamente e de como é na vida real. A busca obsessiva por uma estética perfeita é um tema muito atual”.>
Embora Beleza Fatal se limite a 40 capítulos, Raphael defende que o formato tradicional das novelas mais longas ainda têm espaço entre o público: “Talvez 200 capítulos sejam muito, mas acho que algo em torno de 160 a 180 ainda funciona, a depender da história e da complexidade dos personagens, além da paixão do público por eles”. >
Para o autor, as tramas das novelas devem ser modificadas de acordo com a reação do público: “Uma novela deste tamanho [longa] traz desafios de produção que devem ser vislumbrados, como, por exemplo, o autor tem que ter a chance de adaptar e mexer a história conforme a reação do público. E isso cria certo imediatismo que acredito estar se perdendo hoje em dia e que deveria voltar a existir”.>
Adepto de gêneros como thriller, suspense e terror - que ainda buscam seu público no Brasil -, Raphael revela ter encontrado dificuldades no início da carreira como escritor. No cinema, o bom suspense Uma Família Feliz (2024), com Grazi Massafera e Reynaldo Gianecchini ganhou menos repercussão que merecia. >
Para o autor e roteirista, o Brasil ainda está formando público nestes gêneros: “Quando comecei a publicar meus livros, me disseram que o leitor brasileiro não gosta de suspense e terror. E no início, percebi isso mesmo. Não foi ‘de cara’ que o público comprou meus livros e gostou das histórias”. Mas, mesmo com essa barreira, o jovem escritor alcançou marcas notáveis: o romance Jantar Secreto (Companhia das Letras), lançado em 2016, acumula cerca de 200 mil exemplares vendidos e também vai para os cinemas em breve. >
Raphael defende que, aos poucos, foi criando seu próprio público e que, com os filmes, deve acontecer o mesmo: “Quando Uma Família Feliz foi lançado, eu sabia que era um desafio, então não posso dizer que havia pretensões maiores, porque sabia o tamanho que o projeto teria”. Para o autor, há um público brasileiro restrito que se interessa por filmes nacionais de terror e suspense. “O que espero fazer é construir mais filmes para construir esse público, como fiz na literatura”, revela.>
Mestres>
Entre os autores de novela que admira, Raphael teve o privilégio de trabalhar com dois deles: João Emanuel Carneiro (de Avenida Brasil e Mania de Você) e Silvio de Abreu (Guerra dos Sexos e A Próxima Vítima). “O trabalho com João Emanuel Carneiro foi uma delícia! Entrei na Globo querendo fazer novelas e o João, que havia lido meus livros, me chamou pra ser colaborador. Aí, trabalhei do lado dele, trocando ideia, aprendendo a fazer a estrutura de uma história, pensar nos ganchos dos capítulos e ele se tornou um querido amigo”. >
Silvio de Abreu era supervisor de novelas do Max quando Raphael começou a desenvolver o projeto de Beleza Fatal. Mais tarde, Silvio deixou o cargo, mas houve tempo de trabalhar com o jovem autor. “Silvio de Abreu foi um presente para mim. Foi meu mestrado e doutorado em novelas. Nossa troca foi muito bonita porque ele respeitava minha voz autoral, mas trazia forte o conhecimento que possui”, revela Raphael. >
Segundo o autor de Beleza Fatal, há ainda outro elemento que une seu pensamento ao de Silvio: “Ele investe no suspense em novelas como A Próxima Vítima e Torre de Babel e sempre flerta com o thriller e o crime. Isso fez nosso encontro ser muito feliz. Temos relação de amizade, quase uma relação de mestre e aprendiz. Tanto que o chamo de mestre”.>