Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Roberto Midlej
Publicado em 11 de abril de 2024 às 06:00
Logo no início do filme Evidências do Amor temos uma dimensão da onipresença do clássico Evidências: surgem na tela flashes que mostram versões em rap, forró e até heavy metal da música composta por Paulo Sérgio Valle e José Augusto (não, Chitãozinho e Xororó não são os autores da música e o filme faz piada sobre isso logo no começo).
Ainda que aquelas versões tenham sido feitas exclusivamente para o filme, não dá para duvidar que existam algumas bem parecidas. Basta lembrar que até o embaixador da Coreia do Sul, Lim Ki-mo, viralizou na internet ao emplacar sua versão para a música.
Com tanta presença na cultura brasileira, era natural que Evidências alguma hora também chegasse a algum filme, ao menos como trilha sonora. Só não éramos capazes de imaginar que a composição fosse ser elemento essencial da história de um longa-metragem, mais especificamente um romance com pitadas de comédia que chega aos cinemas nesta quinta-feira (11), estrelado por Fábio Porchat e Sandy.
E, sim, Evidências do Amor segue a receita clássica das comédias românticas açucaradas a que nos acostumamos assistir, mas tem um toque de originalidade. Mesmo que explore outro recurso também já fartamente conhecido no cinema: a viagem no tempo para tentar desfazer alguma bobagem que você cometeu no passado e, assim, reconquistar a pessoa amada. É previsível? É! Mas não há pecado nenhum nisso se você sai do cinema depois de duas horas com aquela leveza e otimismo que só as comédias românticas são capazes de provocar.
karaokê
No filme, Marco Antônio (Fabio Porchat) e Laura (Sandy) se conhecem num karaokê. Os dois disputam o lugar na fila para ver quem vai cantar primeiro a sua música favorita - que o leitor, essa altura, já imagina que seja Evidências. Começa uma pequena discussão entre os dois e àquela altura, já encantado pela moça, Marco Antônio propõe a ela um dueto. E, claro, a partir dali, os dois vivem uma linda história de amor. Quer dizer… linda, até quando ele pede a namorada em casamento. Ela aceita, mas acaba recuando e termina o relacionamento.
E aí que o filme começa pra valer, quando Marco faz a sua primeira viagem no tempo. O que transporta ele para o passado é a música Evidências, que, sempre que é tocada, desperta no rapaz as lembranças de discussões que teve com a amada. Mas Marco vive uma experiência real: ele é fisicamente transportado para uma lembrança do relacionamento e participa como testemunha das brigas que ele mesmo teve com Laura.
“O filme é sobre um casal que se ama, que é apaixonado. E ela larga ele, mas ele não entende por que isso aconteceu. Na cabeça dele, ele nunca fez nada de errado. Toda vez que a música toca, ele tem lembranças ruins e começa a perceber que ela não estava cem por cento errada”, observa Porchat, que também assina o roteiro, junto com Álvaro Campos, Luanna Guimarães e o diretor Pedro Antônio.
Embora a ideia inicial não seja de Porchat, podemos ter certeza que ele faz a diferença como o redator final. Já conhecemos seu talento como roteirista do Porta dos Fundos e como criador do Que História é Essa, que fazem dele um dos nomes mais criativos do país nos últimos anos.
E a versatilidade dele impressiona, seja como roteirista, apresentador ou ator - ainda que, neste novo filme possamos repetir a frase “parece que ele tá interpretando a si mesmo”. Mas isso, neste caso, está longe de ser um defeito. Cabe muito bem ao personagem. E já vimos Porchat em atuações mais contidas, como no filme Entre Abelhas, que também tinha roteiro dele. Pena que esse drama tenha passado despercebido em 2014.
O protagonista de Evidências do Amor diz que é um velho admirador das comédias românticas e cita Um Lugar Chamado Notting Hill, Harry e Sally e Mensagem Para Você como algumas de suas favoritas do gênero. “Adoro comedinha assim, a gente sabe que eles vão ficar juntos. Mas o legal é como constroem esse amor”, diz Porchat.
À primeira vista, a assinatura de Pedro Antônio na direção pode causar uma certa desconfiança - pelo menos, causou no jornalista que assina este texto - porque ele é o diretor de Tô Ryca (2015), comédia das mais rasas e histriônicas que vimos no cinema nacional nos últimos anos. Mas logo nos primeiros minutos de Evidências do Amor, a desconfiança é derrubada.
O próprio diretor reconhece que identifica seu estilo muito mais com este novo filme que a comédia anterior: “Evidências do Amor orna muito com o que vivo hoje. É um filme que dialoga com a minha vida, meu modo de me aproximar do público e como venho pensando cinema. Sou muito grato a Tô Ryca, mas hoje estou bem diferente, e como participei ativamente da construção do roteiro do Evidências, consegui colocar elementos de dramaturgia com que me identifico”.
E o que dizer de Sandy? Sua Laura é tão fofinha e apaixonante quanto a cantora, que de vez em quando se arrisca como atriz. Ela costuma dar conta do recado com muita dignidade, como acontece em Evidências do Amor. Como Porchat, talvez não seja um enorme talento na atuação, mas aqui também cai perfeitamente no papel.
Em cartaz: Saladearte (Paseo); Glauber Rocha; UCI (Shoppings da Bahia, Barra e Paralela); Cinelfix (Bela Vista); Cinemark (Salvador Shopping); Cinépolis (Salvador Norte e Parque Shopping Bahia)