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Por que ser fã adulta incomoda tanto?

Elas lidam diariamente com preconceitos, mas focam a atenção nos benefícios e nas alegrias que encontram na música e nos doramas

  • Foto do(a) author(a) Gabriela Cruz
  • Gabriela Cruz

Publicado em 8 de fevereiro de 2025 às 06:47

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Idade não é uma questão: fãs adultas lidam com preconceito, mas segue firmes nos seus gostos Crédito: arquivo pessoal

Silvana, Patrícia, Carol, Lorena e Lívia não se conhecem, mas compartilham gostos semelhantes: assistem doramas, são fãs de artistas do K-pop e muito dispostas a declarar seu amor pelos idols, viajar para os encontrar em shows, pagar pequenas fortunas em ingressos de fanmeetings, álbuns e produtos oficiais, sem falar, é claro, na tão almejada viagem para conhecer a Coreia do Sul.

Quer saber o que mais elas compartilham? O fato de serem fãs adultas e, por isso, receberem piadas ou comentários desagradáveis sobre seus gostos. Assim, elas precisam lidar com o preconceito, validando a elas próprias e suas escolhas, diariamente.

A ascensão da música coreana e dos K-dramas, principalmente, durante a pandemia, despertou o interesse, sobretudo, de mulheres 30+, 40+, 50+, 60+, inaugurando fandoms multigeracionais, de forma acolhedora e empática. Dentro dessas comunidades, a idade não é uma questão e isso gera um sentimento de pertencimento muito forte.

O preconceito costuma vir de amigos, familiares, colegas de trabalho ou mesmo seguidores nas redes sociais, que julgam o ser fã como uma adolescência tardia. Enquanto algumas pessoas criticam, as k-popers e dorameiras de diferentes idades seguem colecionando benefícios nesta relação entre fã e artista.

Conforto e inspiração

Do ponto de vista psicológico, existem várias razões para todo este crescimento do interesse pelo fenômeno chamado hallyu. Uma delas é o impacto da cultura digital, que permite que os fãs se conectem facilmente, criando comunidades de apoio e gerando o senso de pertencimento. Além disso, de acordo com a psicóloga Juliana Capel, especialista em Psicologia Positiva, os doramas e o K-pop oferecem narrativas e experiências emocionais que ressoam com o público adulto, proporcionando conforto, inspiração e identificação.

"Na Psicologia Positiva, sabemos que emoções positivas como alegria, esperança e gratidão têm um papel fundamental no bem-estar. Admirar um artista ou se envolver com um universo cultural pode ser uma fonte rica dessas emoções"

Juliana Capel, 

Psicóloga especialista em Psicologia Positiva
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Juliana Capel, psicóloga Crédito: arquivo pessoal

Além de funcionar como uma válvula de escape saudável e, ao mesmo tempo, um incentivo para amenizar o estresse do cotidiano, a psicóloga ressalta que gostar e se dedicar a um artista também é estímulo para o crescimento pessoal.

Outro fator relevante é que, ao longo do tempo, houve uma ressignificação da ideia de hobbies e interesses. “O conceito de que certos gostos são exclusivos da juventude está sendo desconstruído, permitindo que as pessoas assumam com mais autenticidade aquilo que gostam, sem a necessidade de se encaixar em padrões rígidos impostos pela sociedade.”

Um altar para o BTS

É exatamente essa liberdade que se percebe no caso da fonoaudióloga Silvana Igdal, 58 anos, mãe de dois filhos adultos, que dividem o espaço no coração e na carteira dela cheia de fotos do cantor Jimin do BTS. Por força da profissão, ela se encantou com a voz angelical do idol, passou a conhecer as letras e os valores de todo o grupo. O amor cresceu, hoje representado pelo “altar do BTS”, em seu quarto, onde mantém fotos, pôsteres, álbuns autografados e outros itens. Seu maior feito foi, em uma de suas três viagens à Coreia, conhecer pessoalmente o pai do Jimin, que tem um café em Busan, um ponto turístico para fãs.

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Silvana Igdal já foi para a Coreia do Sul três vezes é fã do cantor Jimin, do BTS Crédito: arquivo pessoal

Em outra oportunidade, ela também esteve em um show de premiação e assistiu à performance do BTS e outros grupos. “Minha mãe assistia doramas e para ficar perto dela comecei a assistir. Em seguida, a Rebeca (filha) me mostrou o MV da música DNA do BTS e eu fui pesquisar. Perdi meus pais na COVID e, com a ajuda deles, eu consegui me levantar e querer viver. Eu não ligo para preconceito, sou muito bem resolvida. Meu quarto é todo plotado do BTS e meu marido não se importa, ele sabe quem sou e sustenta meus sonhos.”

Pedido de casamento

Em 2022, a pedagoga Caroline Anjos, 35 anos, fã do BTS, decidiu embarcar para Las Vegas com amigas para um show do grupo. Na mala, levou o look do dia: uma camiseta com a frase “Hobi, marry me” e um véu de noiva. Durante a apresentação, ela conseguiu ver os artistas de tão perto que o J-Hope (Hobi) notou sua presença, apontou para a camisa e respondeu ao pedido: “Yes”. Resultado: a baiana viralizou na internet e ganhou comentários de apoio de outras fãs. “Ele olhar, apontar e a emoção daquele momento foi um bônus de tudo isso. Foi uma das melhores emoções sentidas”, relembra.

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Caroline Anjos no show do BTS em Las Vegas com a camiseta do "pedido de casamento" Crédito: arquivo pessoal

Carol diz que a grande intenção foi se divertir e curtir o show, mas nunca pensou que pudesse ser notada e receber tanto carinho do próprio fandom. “Fiquei assustada, de verdade, uma mulher 30+, viralizando na internet por estar vestida de noiva em um show de Vegas, e sendo vista pelo seu utt (cantor preferido). Uma emoção surreal”, diz ela, que até hoje mantém amizades feitas a partir daquele episódio.

“Eles cresceram e a música também”

Às vezes, o sentimento de viver as emoções de ser fã adulta em comunidade pode demorar um pouco para acontecer. Foi assim com Livia Falcão, 45 anos. O primeiro contato com a cultura coreana foi através de vídeos relacionados à gastronomia da Coreia no TikTok. Depois de encontrar na internet uma foto de Jungkook, membro do BTS, descobriu um vídeo da música Mic Drop ao vivo, gostou e tentou compartilhar com algumas primas, que não corresponderam ao seu entusiasmo e passaram a criticá-la por se tornar fã dos rapazes.

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Livia Falcão é fã do BTS, de doramas e do ator Park Bo-gum Crédito: arquivo pessoal

“O que me chamou a atenção primeiro foi eles dançando, depois me interessei pelas músicas e comecei a ver como eles eram geniais. Eu não falava com ninguém; minhas primas diziam que era coisa de adolescente e parei de falar sobre eles, até que encontrei uma amiga que também gostava deles e isso estreitou os laços da nossa amizade. É isso que eles fazem, eles unem pessoas. Mas quando a gente fala que é fã do BTS, as pessoas têm preconceitos, porque acham que é coisa de criança, mas é bom lembrar que eles começam adolescentes, e hoje são homens. Eles cresceram e a música cresceu com eles também”, comenta. Lívia, assim como a maioria do público da cultura coreana, não parou no BTS, logo descobriu os doramas e o talento do ator Park Bo-gum, que se tornou outro ídolo para ela.

Fã do Seventeen

Os doramas também foram a porta de entrada de Lorena Costa, 50 anos, para o universo da Coreia. Após assistir aos episódios de Sorriso Real ficou fã deste tipo de conteúdo e daí foi um passo para se encantar com o grupo Seventeen e, especialmente do membro Mingyou.

“As letras, o ritmo das musicas, o jeito deles, me encantaram tanto que já fazem parte da minha playlist no carro, academia, e ainda trouxe a minha filha de 14 anos para esse mundo. A culinária é outro ponto que amo. Sempre que posso, consumo produtos coreanos como lámen, soju e toppoki”, comenta.

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Lorena Costa  já sentiu o preconceito por parte de algumas pessoas por conta do gosto por doramas e K-pop Crédito: arquivo pessoal

Ela também já sentiu o preconceito por parte de algumas pessoas, por conta do gosto por doramas e K-pop. “Nos chamam de adolescentes tardias. Não me importo muito com isso. Atualmente nos fanmeetings (encontros com fãs) de atores coreanos , a maioria são de fãs 40 + . Vejo que é cada vez mais comum pessoas da minha idade curtirem K-pop e doramas sem medo de julgamentos”, ressalta.

Sua maior decepção, no entanto, aconteceu no ano passado, quando tentou adquirir ingressos para o fanmeeting do ator Cha Eun Woo. Ela iria com a filha e a expectativa era alta. Reservou hotel, passagens aéreas, mas os ingressos esgotaram em questões de minutos no site de vendas. “Chorei muito, porque entrava no quatro de minha filha e via na parede a contagem regressiva dos dias para ver ele e isso não aconteceu”, comenta.

Cura da depressão

Giovanna, 13 anos, é fã de K-pop desde os 8. Na pandemia, pediu que o tema da comemoração de seu aniversário fosse o grupo de Black Pink. A partir daí sua mãe, Ana Patrícia Arouca, 53, pesquisou sobre a Coreia e descobrir os K-dramas. O primeiro visto foi Sorriso Real e hoje a lista já atingiu o marco de 140 doramas assistidos. “Os doramas me ajudaram a superar um divórcio complicado, e a uma depressão, que vinha passando desde a pandemia”, conta ela, que passou a usar cosméticos coreanos para skincare e maquiagem, além de conhecer a gastronomia asiática.

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Giovanna, 13 anos, divide com a mãe, Ana Patrícia Arouca, 53, o gosto pela cultura sul-coreana Crédito: arquivo pessoal

O que a atraiu nesse universo, no começo, foram justamente as diferenças da nossa cultura. “Me encantou como alguns doramas têm profundidade e sempre deixam alguma mensagem, alguma lição para que possamos refletir”, ressalta. O próximo passo de mãe e filha será uma viagem para o Rio de Janeiro, em abril, para assistirem juntas ao show do Stray Kids, o primeiro de K-pop.

“Minha família até hoje não entende direito, porque prefiro muitas vezes ficar em casa do que sair. Recebo muitas críticas de todos, pois dizem que estou uma adolescente velha. Mas minha filha adora, e acho que fiquei bem mais próxima dela, e comecei a compreender até algumas preferências dela e sei comportamento”, e explica.