Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Luiza Gonçalves
Publicado em 10 de abril de 2025 às 09:21
Poesia e cotidiano se embaralham nas atuações do baiano James Martins. Como jornalista, traz, em acontecimentos apressados do hard news, pinceladas de linguagem poética, buscando respiros em “algo da perenidade e da flexibilidade da comunicação em poesia”, como descreve. Já como poeta, brilham os olhos da apuração, a curiosidade que explora a cidade intimamente, de cabo a rabo, pelas ruas em festa, pandemia, dia a dia. “Pois é, fiquei mais conhecido como comunicador que como poeta, mas só sou comunicador por ser poeta”, afirma. >
Neste sábado (12), a partir das 16h, na Cervejaria ArtMalte, no Rio Vermelho, Martins lança seu primeiro livro de poesias, o Pré-Estreia (EP), que integra parte da coleção Cartas Bahianas, da editora P55, marcando um momento em que pretende debruçar-se mais na atuação artística da palavra escrita e falada.>
“Pretendo aproveitar esse lançamento para falar mais a respeito de poesia, que é o assunto que mais me interessa e, muitas vezes, tem que disputar espaço com temas frívolos do noticiário, como a inflação. Além de dizer os poemas em si, pois adoro recitar, e meus poemas ganham muito quando bem vocalizados”, defende o escritor.>
O prazer pela palavra falada, e primeiramente musicada, foi o precursor de James na escrita. “A poesia chegou para mim, como é comum aos brasileiros, por via da música popular. E as letras me levaram aos livros. E vice-versa”, explica. Um encanto que pode ser visto na sua lírica ritmada, como no poema Baby Lavanda, que abre o livro e recentemente foi musicado por Davi Moraes; nas temáticas sonoras da cidade, trocadilhos sarcásticos que fazem barulho e dos movimentos das bailarinas presentes nos textos, que conferem leveza à dança das palavras.>
“A verdade é que essa ligação da poesia com a música está na própria essência da poesia. O que eu pretendo é restabelecer esse nexo crucial sem, no entanto, precisar de acompanhamento musical. Cada poema valendo por uma canção em si mesmo, partitura própria a guiar as leituras por respirações especiais”, revela Martins. Setlist referenciado no título do trabalho, Pré-Estreia (EP), uma prévia que antevê o próximo livro HIT's (ontologia poética).>
“Uma antologia de estreia, ou seja, uma piada com o fato de vários poemas serem conhecidos e, ao mesmo tempo, inéditos. Antologia que incluirá também poemas que serão partes de livros posteriores a ele. Assim, HIT's será um LP e Pré-Estreia é um EP”, complementa.>
Mosaico>
O livro de James Martins é experimental nos formatos, afinal, para o autor, toda técnica é válida para alcançar a intensidade e capturar o leitor. “Uso tudo. Desde versos rigorosamente metrificados a quase-prosas e/ou posts-pichos”, diz.>
Na seleção dos textos, um mosaico dos poemas já escritos e algumas novas criações, um caleidoscópio, mas que busca seu nexo. “Assim, a tragédia da menina Cristal Pacheco, as guerras de facções, o lirismo da moça que passa à chuva captado em linguagem cummingsiana, o slogan 'BANDIDO BOM / É BANDIDO DO HORTO', as máscaras no queixo em contraste com o profundo civismo do bar de Seu Santinho, tudo isso vai contando uma história, sem deixar de ser uma mera seleção de poemas independentes e em linguagem diversa”, resume.>
Vivências que demoraram a ser reunidas e formatadas num exemplar, mas sempre tiveram uma necessidade e desejo de publicação, pontua James. Lançar Pré-Estreia (EP) vem, para o escritor, como um endosso do fazer e militar na poesia, unindo conteúdo à sensorialidade dos versos. “Muitos me veem como teórico, mas a verdade é que eu sou iminentemente erótico. É coisa de poeta opor essas duas palavras anagramáticas: teórico/erótico”, provoca.>