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Podcast investiga desaparecimento de escoteiro que ocorreu há 40 anos

'Pico dos Marins' poderia cair no sensacionalismo, mas respeita memória de Marco Aurélio, que desapareceu em 1985

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 22 de fevereiro de 2025 às 06:00

Marco Aurélio, no centro, com os pais
Marco Aurélio, no centro, com os pais Crédito: divulgação

Não se trata aqui de julgar o sofrimento de ninguém, mas é consenso que a pior dor emocional que uma pessoa pode sentir é a morte de um filho. Talvez só haja uma situação comparável a essa e, talvez, até mais angustiante: o desaparecimento de um filho. A dúvida, a esperança, a agonia e a dor se tornam eternas e nem o luto os pais têm o direito de viver. Não podem sequer cumprir o rito da despedida, com velório e enterro.

E foi isso que o casal Neuma e Ivo Simon viveu, quando o filho deles, Marco Aurélio, de 15 anos, desapareceu durante uma excursão em 1985 para o Pico dos Marins, na Serra da Mantiqueira, no estado de São Paulo, divisa com Minas Gerais. Escoteiro, Marco Aurélio, quando cumprisse aquela missão, seria alçado à categoria sênior, assim como os amigos que o acompanhavam.

Vale aqui uma lembrança: o Pico dos Marins é o mesmo onde o “ex-coach” e ex-candidato à prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal, levou 32 pessoas que precisaram ser resgatadas pelos bombeiros. Na época, profissionais que que participaram do resgate chamaram aquela expedição de 'pior ação já vista no Pico dos Marins'.

Depois que um colega de Marco Aurélio se machucou durante a subida, o escoteiro veterano Juan Bernabeu, único adulto responsável pelos jovens, permitiu que o garoto fosse atrás de ajuda sozinho. Mas o jovem não retornou e permanece desaparecido há 40 anos, apesar de inúmeras buscas.

A misteriosa história do rapaz é tema do podcast Pico dos Marins: O Caso do Escoteiro Marco Aurélio, produzido pelo Globoplay e disponível nas plataformas de áudio em dez capítulos, com duração média de uma hora cada um. Mas não se atenha à aparente longa duração: a produção é muito bem realizada, com depoimentos de pessoas que foram importantes nas investigações, incluindo familiares do rapaz e amigos que estavam com ele no dia do desaparecimento.

Os trechos mais tocantes, naturalmente, são de Ivo Simon, que hoje tem 86 anos e continua na busca pelo filho. A história ganhou tanta repercussão e até ares de lenda, tanto que Ivo chega a dizer que muita gente duvida até da existência de Marco Aurélio.

No primeiro episódio, Uma Cova sem Resposta, Marcelo Mesquita, criador da série, vai, em 2021, até uma casa onde o corpo de Marco Aurélio poderia estar escondido. Marcelo acompanha o processo de escavação, mas a produção, ao contrário do que pode parecer, não tem nada de sensacionalista. Parte disso, certamente, é graças a Ivan Mizanzuk, diretor-geral que também esteve à frente do podcast O Caso Evandro, sobre um menino que desapareceu no litoral do Paraná, em 1992.

Muito bem documentado, o podcast reproduz alguns trechos de um relatório que a União dos Escoteiros do Brasil produziu na época do desaparecimento e que auxiliou nas investigações policiais. Destaque também para a sonorização, que dá o tom intrigante à produção. No segundo episódio, Marcelo Mesquita refaz, junto com sua equipe, o caminho que os escoteiros fizeram há 40 anos.

As buscas por Marco Aurélio, logo após o incidente, mobilizaram cerca de 200 pessoas, entre profissionais e voluntários, incluindo videntes, cujas sugestões foram seguidas, tamanho o desespero de quem procurava o rapaz. Juan, o homem responsável pela condução dos rapazes naquela subida do Pico, não quis gravar depoimento e só se manifestou por escrito. Culpá-lo pelo desaparecimento do jovem talvez seja cruel e a culpa que ele carrega é, por si só, uma pena bastante dolorosa.

Mas, inevitavelmente, nos perguntamos: por que uma pessoa que supostamente tinha experiência em operações como aquela deixa uma criança partir sozinha num lugar que ela não conhecia? Para piorar, Marco Aurélio tinha séria dificuldade de enxergar: só tinha 5% da visão de um olho e 40% do outro. Sabemos ainda que os rapazes não haviam levado roupa adequada para uma temperatura que poderia chegar a zero grau Celsius.

Naturalmente, a série é angustiante, triste. Mas tudo é feito com muito respeito à família e à memória de Marco Aurélio. É um suspense viciante. Fez tanto sucesso que o Globoplay decidiu transformá-la em uma série documental, que já está sendo produzida.