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Roberto Midlej
Publicado em 28 de junho de 2023 às 06:00
Sabe aquela máxima de que "a história é escrita pelos vencedores"? Pois é, já faz um tempo que se busca uma outra visão e, com o Dois de Julho, não deveria ser diferente. E o espetáculo Resistência Cabocla, que será apresentado no Campo Grande neste dia 30 (sexta-feira), pretende revelar o outro lado da história.
O texto inédito de Daniel Arcades conta a história de dois jovens negros que se preparam para participar dos desfiles de Dois de Julho, em Salvador. Enquanto Luque está ansioso para desfilar como baliza à frente de uma das fanfarras, a musicista Mirna faz vários questionamentos sobre a sua participação nos festejos, especialmente por sentir falta de representatividade negra e feminina.
A montagem é do Bando de Teatro Olodum, que leva ao palco cerca de 30 atores e uma banda de cinco músicos, que vão executar ao vivo a trilha inédita composta por Jarbas Bittencourt. O texto, também inédito, é do dramaturgo Daniel Arcades e a direção é de um trio formado por Cássia Valle, Valdineia Soriano e Leno Sacramento. O espetáculo integra a programação organizada pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM), para celebrar o Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia.
"Lutamos há anos para ressignificar a importância da Bahia no Dois de Julho, porque para a maioria dos historiadores, a verdadeira independência aconteceu aqui. Por isso, temos batido nessa tecla e reforçamos a data", afirma Fernando Guerreiro, presidente da FGM. Daniel Arcades reforça que o espetáculo dá voz a "sujeitos invisibilizados" e que muitos trabalhos seus já eram voltados para isso. Ele é autor de Nau (melhor espetáculo do Prêmio Braskem 2022), Exu, a Boca do Universo (2014) e Madame Satã (2018), entre outros.
Ficção e realidade
O roteirista diz que a peça mistura fatos e personagens reais com elementos fictícios. Há, segundo ele, "ícones" do Dois de Julho, como Maria Felipa, Maria Quitéria, o indígena Bartolomeu e o corneteiro Lopes. Há ainda o Caboclo Tupinambá, que representa a personificação de diversos povos. "Ele é o grande responsável por narrar a história a partir de um outro olhar. É ele que 'abre os olhos' para a juventude no começo do espetáculo", explica Daniel.
"O Bando não consegue falar de nada sem fazer militância, sem puxar para pretos ou indígenas", avisa Cássia Valle, uma das diretoras. "Queremos mostras como foi o outro lado e queremos mostrar a importância das mulheres no Dois de Julho, como Maria Quitéria. Mas de uma maneira mais humanizada, porque ela não é só uma mulher vestida de soldado. E temos também uma Joana Angélica preta no palco", acrescenta a diretora.
Para compor as canções, o Bando contou com o trabalho de um velho conhecido: Jarbas Bittencourt, que atua com o grupo há quase trinta anos. "Neste espetáculo, a gente se deixa atravessar pelo jeito de cantar e pela musicalidade dos povos originários. A música que faço para o Bando vem se alimentando da cultura musical afrobrasileira. É essa a trincheira musical em que a gente opera", revela o diretor musical do Bando de Teatro Olodum. Érico Brás e Tonho Matéria são os artistas convidados.
Boca de Brasa
Depois da apresentação de estreia nesta sexta-feira, às 19h, Resistência Cabocla volta a ser encenado no mesmo local, no sábado, às 17h e às 19h. No dia 7, será a vez de o Espaço Cultural Boca de Brasa Subúrbio 360 receber a montagem. De 10 a 13 de julho, as sessões ali serão para estudantes de escolas municipais, seguidas de debate com a equipe técnica e o elenco. Todas as apresentações são gratuitas.
A Resistência Cabocla tem apoio financeiro da Prefeitura Municipal de Salvador, e integra a programação organizada pela Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, por meio da Fundação Gregório de Mattos, para celebrar o Bicentenário da Independência do Brasil na Bahia.
SERVIÇO
A Resistência Cabocla
Espetáculo Gratuito
Estreia dia 30 de junho, às 19h, na Praça do Campo Grande
Dia 1º de julho, em duas sessões: às 17h e às 19h, na Praça do Campo Grande
Dia 07 de julho (aberto ao público), às 19h; Espaço Cultural Boca de Brasa Subúrbio 360, em Alto de Coutos
Dias 10, 11, 12 e 13 de julho: sessões voltadas para alunos de escolas municipais, seguidas por bate-papo com a equipe.
O projeto Bahia livre: 200 anos de independência é uma realização do jornal Correio com apoio institucional da Prefeitura Municipal de Salvador.