Peça 'Compadre de Ogum' fala de solidariedade e tolerância

Montagem baseada em texto de Jorge Amado volta a cartaz na Barroquinha

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Publicado em 25 de setembro de 2024 às 06:00

Everton Machado é Ogum
Everton Machado é Ogum Crédito: Diney Araújo/divulgação

Sim, sabemos que batizados não são o programa mais divertido nem descontraído para ninguém. E, na verdade, muita gente arruma uma desculpa para faltar a esse ritual religioso, que às vezes acontece numa manhã de sábado ensolarada e você prefere ir à praia tomar uma cervejinha. Mas que tal ir a um batizado diferente, num teatro e, além disso, divertido?

Pois é assim que começa a peça Compadre de Ogum, que está voltando a cartaz amanhã e fica até o dia 23 de outubro, no Espaço Cultural Barroquinha. O público chega e é recebido por um sacristão interpretado pelo ator Amós Heber, que realiza improvisos, como se estivesse nos anos 1950, época em que se passa a história baseada criada por Jorge Amado. Originalmente, o texto foi publicado originalmente como um dos relatos do romance Os Pastores da Noite.

A montagem volta a cartaz para celebrar dez anos de sua estreia e também uma década de fundação da Aláfia Cia. de Teatro. Compadre de Ogum conta a história do biscateiro Massu das Sete Portas, um homem negro que pretende batizar seu filho numa igreja católica. Há, no entanto, um detalhe que pode complicar o desenrolar da cerimônia: o padrinho escolhido é um orixá, Ogum. Mas, afinal, uma entidade do candomblé pode batizar uma criança em uma igreja católica?

Danilo Cairo, o Pé de Vento
Danilo Cairo, o Pé de Vento Crédito: Caio Lirio/divulgação

“A peça fala da convivência de credos distintos em Salvador e um dos motivos que faz o texto permanecer interessante é a reflexão sobre tolerância religiosa e o convívio respeitoso [entre pessoas de religiões diferentes]”, observa o diretor Edvard Passos, responsável também pela dramaturgia da montagem.

Edvard acrescenta que o texto é também uma lição sobre como viver harmonicamente e de maneira solidária numa comunidade: “Massu faz parte de uma confraria que resolve questões comunitárias, onde as pessoas se dão as mãos para resolver os problemas. E o problema que eles precisam resolver é como batizar na igreja católica, sendo que o padrinho é um orixá”. O diretor cita uma frase de Makota Valdina, para lembrar da importância desse convívio harmonioso numa comunidade: “Minha mãe é do tempo em que vizinho era parente”, dizia a sacerdotisa religiosa.

Um dos personagens mais solidários a Massu é seu amigo Pé de Vento, interpretado por Danilo Cairo. “Ele é um dos amigos que ajuda a viabilizar o batizado. Me interessou muito fazer o Pé de Vento, por causa do humor dele, é um personagem divertido, com uma loucura própria, que enxerga soluções à frente das outras pessoas”, diz Danilo.

Boa parte da peça se passa dentro do bar de Isidro, onde os personagens se reúnem para bater um papo e também para tentarem resolver o impasse do batizado. “O bar é o grande ponto de encontro dos ‘pastores’, que formam uma confraria. Juntos, com um pouquinho de cachaça, eles se reúnem para resolver os problemas. São bastante pobres e têm amizades muito verdadeiras. Não importa de onde venha o dinheiro, eles vão dar um jeito de resolver o problema”, observa Danilo.

Há dez anos, quando estreou, Compadre de Ogum foi apresentada dentro da Igreja de Santana, no Rio Vermelho. “Aquele local era ótimo, porque era cercado pelos bares do Rio Vermelho. E o bar é um espaço fundamental da peça. Além de tudo, tinha Jorge Amado e Zélia Gattai sentados naquele banquinho ali perto”, observa Edvard, se referindo à estátua do casal que fica no Largo de Santana. A montagem já esteve também no Vila Velha e na Casa de Castro Alves, no Pelourinho. Agora, retorna à Barroquinha, onde também já foi exibida.

“O Espaço Cultural Barroquinha tem uma acústica melhor, cabe mais gente com mais conforto. Além disso, ali perto foi criado o primeiro grande candomblé urbano, que é o candomblé da Barroquinha. Então, é um espaço que dialoga com o espetáculo”, defende Edvard.

Serviço:

Compadre de Ogum. Sessões às 19h, nos dias 26, 27, 28 e 29 de setembro e 10,11,12 e 23 de outubro. Espaço Cultural Barroquinha. Ingressos: R$ 30 | R$ 15.