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Roberto Midlej
Publicado em 1 de março de 2024 às 06:00
No imaginário coletivo, o formato de curta-metragem é apenas uma porta de entrada para jovens cineastas que estão ali de passagem e que, num breve futuro, vão realizar longas. Ou, ainda, há quem pense que o curta é um formato de menos “prestígio” que o longa-metragem.
E o próximo Panorama Internacional Coisa de Cinema, que acontece entre 14 e 20 de março no Cine Glauber Rocha, é uma oportunidade de derrubar esses mitos. Além de mostras de longas, o festival tem sessões específicas de curtas. Somente nas competitivas de curtas, o público vai ter a chance de assistir a cerca de 50 produções.
“O curta-metragem é um formato maravilhoso, que não pode ser enquadrado simplesmente como um aprendizado para o cineasta. Ele não pode ser considerado um 'meio': é fazer cinema mesmo! Que perdura e fica”, defende Cláudio Marques, idealizador e coordenador do Panorama. No festival, as sessões de longas costumam ser precedidas pela exibição de dois curtas e neste ano não será diferente. Mas haverá também sessões à parte, que, segundo Cláudio, também têm ótima frequência.
Uma das realizadoras que terá um curta exibido no festival é a baiana Day Sena. Ela é a diretora de É d’Oxum: A Força que Mora N’água, que mostra os bastidores da criação de um clássico do cancionaeiro baiano, É d'Oxum, de Gerônimo Santana e Vevé Calasans. “Não concordo que o curta seja um formato para quem está iniciando. Além disso, ele tem uma linguagem rápida e objetiva que usamos para comunicar nossa ideia”, diz Day.
Day observa que cineastas veteranos como Adelia Sampaio, que tem mais de 50 anos de carreira, continuam realizando curtas. “Então, não é uma linguagem de quem está começando, mas tem características próprias, como ser mais direto e objetivo”.
Experimentalismo
Além de É d'Oxum, outros 23 curtas participam da Competitiva Baiana dedicada a esse formato. Outro diretor que terá um filme nessa seleção é Henrique Dantas, experiente realizador de longas como Filhos de João, Admirável Mundo Novo Baiano (2011), vencedor do prêmio de melhor filme do Festival de Brasília. No Panorama, Henrique vai apresentar Sagrado Compor, codirigido por Marcelo Abreu.
“No longa, você tem mais tempo para usar recursos. Por outro lado, o curta é uma linguagem muito bacana para se arriscar. E Sagrado Compor foi realizado dentro de uma história experimental, sobre um encontro de música étnica em Imbassaí”, observa Henrique.
Além de ser um espaço importante para a exibição de curtas, que raramente chegam ao circuito comercial, os festivais como o Panorama são também um local de encontros, como defende Day: “Nós temos uma vida corrida e os diretores têm momentos muito solitários enquanto se dedicam ao desenvolvimento de uma obra. Num festival grande como o Panorama, tem a coisa de encontrar a classe não só artística. Mas também há críticos, que dão uma resposta importante à gente”.
XIX Panorama Internacional Coisa de Cinema 14 a 20 de março. Cine Glauber Rocha (Praça Castro Alves)