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Ortinho é herdeiro da psicodelia nordestina

Em EP Repensista, música pernambucano mistura tradição do Nordeste com elementos contemporâneos e psicodélicos

  • Foto do(a) author(a) Roberto Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 23 de junho de 2024 às 11:56

Ortinho
Ortinho Crédito: Ferd Jordão/divulgação

Quando se fala em psicodelia nordestina, imediatamente fazemos uma viagem aos anos 1970, quando despontaram artistas como Lula Côrtes, Zé Ramalho e a banda Ave Sangria. É de 1975 o mítico álbum Paêbiru, que reunia esses dois primeiros músicos e se tornou um símbolo daquele movimento musical.

Mas, se você acha que a psicodelia brasileira havia se esgotado ali, saiba que ela está viva e tem um herdeiro: o pernambucano Ortinho, de 55 anos, que está lançado o EP Repensista, já disponível nas plataformas de música. Em três canções, o cantor e compositor mistura a tradição nordestina - elementos do repente, por exemplo - com o rock. Se de uma lado, está a formação clássica do rock'n'roll - com bateria, contrabaixo e guitarra -, do outro estão a viola e a sanfona.

Para Ortinho, as três músicas - Grito de Uma Arara, De Repente Cássia Eller e Senhora do Amor - têm influência psicodélica. "A psicodelia nordestina é essa mistura da essência com a raiz, com as coisas elétricas e as interferências do nosso tempo", revela o cantor, que vê psicodelia até no bossanovista João Gilberto e nos tropicalistas Gilberto Gil e Caetano Veloso. "Expresso 2222 é psicodélico", afirma, em referência ao álbum lançado por Gil em 1972.

A canção De Repente Cássia Eller, embora não faça menção direta à cantora morta em 2001, foi composta por Ortinho pensando nela, que a conheceu num festival em Garanhuns. Naquela noite em que se conheceram, ele lhe prometeu que faria uma música para ela cantar e Cássia pediu que fosse um repente. Ele atendeu ao pedido, mas nunca lhe mostrou a composição.

"Terminei de compor um dia numa praia de São Paulo. Horas depois que acabei, uns amigos me ligaram e disseram que ela tinha morrido", lamenta o cantor. Ortinho então guardou a canção e esperou a melhor hora para ele mesmo gravar. De lá para cá, lançou cinco álbuns, mas preferiu não colocá-la em nenhum deles. "Não queria que parecesse oportunismo e queria esperar um disco que tivesse a linguagem daquela música", justifica.

Ortinho classifica a canção como um repente psicodélico, já que a letra tem, segundo ele, a métrica tradicional do repente nordestino e o som da psicodelia. O próprio músico já se arriscou a fazer uns repentes de improviso durante a adolescência, quando convivia com "a galera do coco", diz, em referência ao ritmo e à dança típicos do Nordeste.

A raiz psicodélica está presente na faixa Grito de Uma Arara, cuja autoria Ortinho divide com Marco Polo, integrante da já citada banda Ave Sangria, um dos ícones da psicodelia nordestina. "Essa música tem muita coisa de Zé Ramalho, da música do Ceará dos anos 1970. Ali tem de tudo um pouco, porque foi muito inspirado naquilo que faz minha cabeça até hoje".

Mas não pense que Ortinho está preso a determinados gêneros ou à música de décadas passadas. Ele é também capaz de fazer com muita competência o pop contemporâneo, como a deliciosa canção A Casa é Sua, parceria com Arnaldo Antunes que o ex-titã lançou em 2009, no álbum Iê Iê Iê e depois regravada por Maria Bethânia. Ortinho tem também um álbum solo marcadamente pop, Herói Trancado (2010) - com influências da Jovem Guarda - e um de forró, Caruarus (2022), que inclui parcerias com Zeca Baleiro e Chico César.